Opinião – Agro nacional tem a contribuir na agenda do baixo carbono

19/11/2021 16:36

Debate na COP26: evento deixou claro que o mundo entrou em um novo momento na agenda da economia verde. Segundo o articulista, o agro tem muito a contribuir

COP26, realizada pela ONU em Glasgow (Escócia), chamou a atenção, definitivamente, para a agenda da economia de baixo carbono. Chegou a era da energia limpa. No beabá da teoria das mudanças de clima, a contabilidade de carbono é o grande divisor de águas.

Atividades intensivas em carbono fóssil são condenadas. Valoriza-se a energia renovável. Mede-se a emissão de gases de efeito estufa (GEE), tais como o gás carbônico (CO2) e o metano (CH4).

Simples assim: queimou petróleo, xisto ou carvão mineral, liberou carbono estocado nas profundezas para a atmosfera. Nesse contexto, o motor de combustão interna se tornou um grande vilão da sustentabilidade.

Desenvolvido nos idos da Revolução Industrial, entre 1860 a 1880, revolucionou o transporte e turbinou o progresso mundial. Agora, a grande invenção caiu em descrédito. Passou a ser considerada “suja” a energia por ela gerada.

Caldeiras industriais ou usinas térmicas, bem como aquecedores ou fogões domésticos, movidos à base de gás, óleo ou carvão fóssil, também estão glosados. Maravilhas viraram desgraças.

Desmatar florestas nativas também faz parte do inferno climático. Toda madeira e qualquer tecido vegetal acumula carbono, sintetizado em carboidratos através da fotossíntese. Nesse processo vital, as plantas absorvem CO2 e liberam oxigênio (O2).

Está condenada, na agenda climática, a expansão da fronteira agrícola, pela ocupação de novos territórios. Por essa razão, basicamente, a agricultura rebolou na COP em Glasgow.

É fácil mostrar, por outro lado, que o agro pode fazer parte da solução ambiental. Tal percepção cresceu na COP26. A palavra mágica, nesse caso, se chama “sequestro” de carbono. Sua base científica: exatamente a fotossíntese.

Destacam-se 3 aspectos da solução ambiental gerada no campo:

Primeiro, a capacidade do agro produzir combustíveis renováveis –como o etanol e o biodiesel– substituindo assim combustíveis fósseis. O princípio do carbono neutro se baseia no fato de que, por exemplo, as plantas de cana-de-açúcar (etanol) ou da soja (biodiesel), para crescerem, absorvem –ou sequestram– gás carbônico da atmosfera, liberando o carbono na sequência do processo, ou seja, na queima dos motores. O carbono que sai anula o que entrou no sistema. Emissão zero.

Segundo, os produtores rurais, ao manejarem com novas tecnologias suas lavouras e pastagens, são capazes de regenerar áreas degradadas anteriormente, incorporando assim carbono nas terras. Seja com o plantio de árvores, seja pelo enraizamento das gramíneas, o solo se enriquece com matéria orgânica. Agricultura e pecuária regenerativas fixam carbono e melhoram a vida biológica do solo. Aumenta a produtividade e sequestra carbono.

Terceiro, a elevação da produtividade por área, graças ao avanço tecnológico, está permitindo que o desmatamento zero se imponha no agro. O crescimento vertical, substituindo a expansão horizontal, causa um efeito poupa-terra, evitando a supressão florestal. A instalação agrícola em áreas desérticas e a agricultura urbana também contribuem para o efeito poupa-terra.

Por que, então, ainda existe tanto desmatamento, como na Amazônia?

Por variadas razões. A principal: metade do território da Amazônia não tem dono reconhecido. Terras de ninguém favorecem o roubo de valiosas toras de madeira. Ou da mineração. Ou da expansão agropecuária irregular.

Por isso, o controle da fiscalização, militar inclusive, é primordial para defender a Amazônia dos criminosos da floresta.

Ademais, bastaria reduzir o uso de madeira-de-lei pela sociedade, brasileira e mundial –construção civil, movelaria, etc– que o problema do desmatamento acabaria. Segura a demanda, que a oferta se interrompe.

Algum ecologista já pensou nisso?

O Brasil assumiu na COP26 compromisso de eliminar o desmatamento ilegal até 2028. Tomara que cumpra. O agro verde amarelo não deve temer a agenda da economia de baixo carbono. Pelo contrário, deveria liderá-la.

Nossa capacidade fotossintética é elevada, graças à condição tropical e subtropical da imensidão brasileira. Rios caudalosos ajudam. Carvão mineral pouco temos. O Nordeste venta bastante. Sol temos de sobra.

Resta o petróleo do pré-sal. Nossa janela de oportunidades, nos próximos 10 ou 20 anos, evidencia: há que se investir seus royalties na transição energética. Utilizar energia suja para limpar a matriz energética.

E não os consumir. Nem os roubar pela corrupção política.

Logo começa a corrida eleitoral. Algum candidato topa essa agenda do futuro?

 

 

 

 

Por Xico Graziano, 67, é engenheiro agrônomo e doutor em Administração. Foi deputado federal pelo PSDB e integrou o governo de São Paulo. É professor de MBA da FGV e sócio-diretor da e-PoliticsGraziano. É o atual secretário do Meio Ambiente de IlhaBela

 

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