Opinião – Guerra de percepções

Por Guilherme Fiuza

04/03/2022 06:16

Policiais em operação para dispersar manifestantes em Ottawa, capital do Canadá, no último fim de semana| Foto: EFE/EPA/AMRU SALAHUDDIEN

– O que você tá achando da guerra?

– Muito boa.

– Hein?! Não entendi. Você disse que está achando a guerra boa?

– Isso mesmo.

– Como alguém pode achar uma guerra boa?

– Achando.

– Mas guerra é violência.

– Às vezes é necessário.

– “Às vezes” quando?

– Quando o mal que está sendo combatido é maior que o mal da guerra.

– E existe isso no mundo hoje?

– Claro que existe.– Explica melhor.

– Quando a sociedade começa a ser induzida por parte dos indivíduos a um caminho que nega a civilização, é preciso deter esse descaminho, do jeito que for.

– Complicado… E você quer dizer que isso está acontecendo agora?

– Quero, não. Estou dizendo.

– Mas não te incomodam as cenas de violência militar?

– Violência, não. Força.

– Pra quem está do outro lado dá no mesmo…

– Cada um colhe o que planta.

– O que esses que estão sendo atacados plantaram?

– Negacionismo.

– Hein? Onde você viu negacionismo nessa guerra?

– A guerra só está acontecendo por causa do negacionismo. E é para combatê-lo. Para impedir que a civilização se desvie da virtude.

– Onde você viu ofensiva militar contra negacionistas?

– Em vários lugares. Foi um cerco muito bem feito.

– Dá um exemplo.

– Gostei muito da cena das forças de segurança abafando e prendendo uma mulher que gritava contra a ciência.

– Não vi isso na guerra.

– Por isso você não entende a guerra. Não está prestando atenção.

– Estou, sim. Desde o primeiro ataque vi tudo que apareceu na TV e na internet.

– Nem tudo é informação visual. Tem a parte estratégica que você só compreende se ler bastante sobre o assunto.

– Claro. Você está aprovando a estratégia?

– Totalmente. Estou aplaudindo de pé.

– O que você destaca nas táticas de guerra que viu até agora?

– O bloqueio bancário.

– Teve isso?

– Tá vendo? Você não está acompanhando direito a guerra. Essa foi uma das principais medidas estratégicas da ofensiva.

– Realmente não notei. Como é essa medida?

– O comando nacional determinou a interrupção do acesso às contas bancárias dos que fossem flagrados como negacionistas. Uma asfixia dura, mas necessária. Pode crer que o avanço do negacionismo é pior do que qualquer medida dessa ofensiva.

– E muitos negacionistas foram flagrados pelo comando?

– Muitos.

– Que tipo de gente são eles?

– Vários. Com certeza uma boa parte são caminhoneiros.

– Caminhoneiros negacionistas?

– Isso.

– É, não estou mesmo acompanhando essa guerra direito. Não tinha visto nenhuma notícia sobre bloqueio bancário contra caminhoneiros ucranianos.

– Que ucranianos, companheiro? Como é que ia sair um comboio da Ucrânia até o Canadá?

– Que Canadá? Quem falou de Canadá? Estamos falando da guerra.

– Exatamente. A guerra do Trudeau contra os negacionistas. Estado de emergência, asfixia militar e armamento pesado contra os que ameaçam a higiene e a paz sanitária. Uma das maiores ofensivas das forças de segurança da história do país, exemplo pro mundo todo.

– E o Putin?

– Acho fraco. Sou mais o Trudeau.

 

 

 

 

Por Guilherme Fiuza, jornalista e escritor com mais de 200 mil livros vendidos – entre eles: “Meu nome não é Johnny”, “3.000 dias no bunker” (ambos adaptados para o cinema), “O Império do Oprimido” e “Manual do Covarde”, Guilherme Fiuza trabalha para veículos como Jovem Pan, Gazeta do Povo e Revista Oeste. Seus canais no YouTube, Twitter e Instagram somam mais de 1 milhão de seguidores. Seu sonho é parar de falar de política – assim que a política permitir.