O problema, claro, é confiar nas urnas eletrônicas “mais seguras do mundo”, segundo o ministro supremo que só flerta com a mesma esquerda radical, escreve Rodrigo Constantino
28/03/2022 06:15
”Alguma coisa não bate. Esse apelo todo aos adolescentes tem cheiro de desespero”
Anitta chegou ao top 5 do Spotify com seu novo hit, e aproveitou o momento para fazer política: conclamou os jovens a tirarem seus títulos de eleitor para votarem contra Bolsonaro este ano.
Na onda da cantora brasileira, o ator Mark Ruffalo, que interpretou o Hulk da Marvel, publicou uma mensagem na mesma linha, comparando com o feito americano que elegeu Biden – essa “maravilha” que estamos vendo e que traria, segundo analistas como Guga Chacra, tranquilidade e normalidade ao mundo.
A esquerda, não custa lembrar, considera galalaus de 18 anos “crianças” quando praticam crimes. O ECA existe para garantir impunidade aos marmanjos que degeneram para a criminalidade. Nessa hora, se roubou ou mesmo matou alguém inocente, os esquerdistas aparecem para repetir que se tratam apenas de “crianças” e “vítimas do sistema”. Mas eis que, de repente, um adolescente de 16 anos vira um adulto responsável sob a ótica esquerdista, coincidentemente na hora do voto. Por que essa paixão esquerdista pelos jovens eleitores?
Dediquei um capítulo inteiro em Esquerda Caviar ao tema da juventude. Trata-se de um capítulo grande, repleto de explicações para o fenômeno. Segue um pequeno trecho:
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A esquerda caviar não poderia ignorar o jovem. É o futuro, a força revolucionária que criará o novo mundo. Os esquerdistas babam de tanta reverência à “sabedoria” da juventude. Depositam-lhe o poder de conceber esse futuro mais que promissor; fantástico mesmo! Mas o que caracteriza a juventude de fato, para além dessa idealização toda?
Costumam dizer que quem não é socialista na juventude não tem coração, e quem é socialista na idade adulta não possui cérebro. Exageros à parte – até porque teria de assumir minha falta de coração –, acredito que a frase captura bem uma regra, qual seja, a de que os mais jovens tendem a abraçar utopias, enquanto os mais velhos amadurecem e acabam mais céticos.
Paulo Francis, meio de brincadeira e meio a sério, dizia que “todo mundo tem o direito de se portar como um debiloide até os trinta anos”. Faz parte do amadurecimento. O que não fica muito legal é enaltecer essa fase da vida como o ápice da sabedoria. O jovem, de modo geral, não demonstra tanto apreço assim pela razão.
Existem várias possíveis explicações para esse fenômeno. Os mais jovens estão em uma fase de busca por identificação, separação dos pais, da autoridade, e precisam questionar tudo e todos sempre. São rebeldes por natureza. Não são conformistas. O Pink Floyd de Roger Waters, ícone da esquerda caviar, capturou bem a essência da coisa em seu hit clássico:
We don’t need no education
We don’t need no thought control
No dark sarcasm in the classroom
Teachers leave them kids alone
Hey! Teacher! Leave them kids alone!
Além disso, a visão de mundo dos jovens costuma ser mais simplista, e a crença em panaceias, em soluções “mágicas”, mais comum. O maniqueísmo impera na juventude, alimentado desde cedo por filmes que definem, claramente, vilão e mocinho. Com o passar do tempo – e com as diversas experiências –, a tendência é substituir essa fé mais ingênua por “soluções” imperfeitas.
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Em suma, é mais fácil enganar os jovens, muitos deles sonhadores românticos e sem a devida experiência de vida. Como diz Alain Besançon em A infelicidade do século: “O comunismo é mais perverso que o nazismo porque ele não pede ao homem que atue conscientemente como um criminoso, mas, ao contrário, se serve do espírito de justiça e de bondade que se estendeu por toda a terra para difundir em toda a terra o mal”. Ele conclui: “Cada experiência comunista é recomeçada na inocência”. Os jovens são mais inocentes.
No caso brasileiro, há um agravante: os jovens de 16 anos não viveram os terríveis anos petistas, não acompanharam os 14 anos de pura corrupção, não lembram direito das dores causadas pelo desgoverno do PT. É por isso que a esquerda conta tanto com esses garotos e garotas.
É por isso também que o TSE faz campanha ativa para o jovem eleitor, enquanto ignora os idosos. Leandro Ruschel tocou nesse ponto: “Por que há um forte esforço recente da Justiça Eleitoral para fazer jovens com menos de 18 anos votar, e não pessoas de outras faixas etárias, como os idosos?” Sabemos a resposta.
A turma criou até um site, “olhaobarulhinho”, em que mistura games e música, numa estética totalmente voltada para os jovens, tentando seduzi-los a tirar o título de eleitor e votar. A esquerda não brinca em serviço.
Por outro lado, esse esforço todo denota certo desespero. Se Lula é mesmo tão favorito como apontam as pesquisas, por que o sistema todo parece em polvorosa para atrair os mais jovens? Por que, também, Lula tem acenado a todos, no afã de comprar apoio dos mais moderados?
Alguma coisa não bate. O “Body Language” da esquerda não condiz com os números dos institutos. Esse apelo todo aos adolescentes tem cheiro de desespero. Essa tentativa petista de atrair o “centro” idem. Olhando assim, os patriotas podem até respirar mais aliviados. O problema, claro, é confiar nas urnas eletrônicas “mais seguras do mundo”, segundo o ministro supremo que só flerta com a mesma esquerda radical…
Por Rodrigo Constantino, economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.