Perdemos muitas vidas, desperdiçamos muitos recursos e atrasamos nosso desenvolvimento sem saber que havia muita riqueza escondida no saneamento. Escreve Yves Besse
18/11/2022 08:26
”Que bom que, agora, encontramos outro rumo”
Uma nova face do saneamento básico está sendo revelada, aos poucos, no Brasil. Cada vez fica mais evidente que este pode ser um setor indutor do crescimento e criador de riqueza. Os recentes leilões de concessão e parcerias público-privadas apontam para um cenário em que serão investidos bilhões de reais não apenas nos grandes centros, mas em locais com menores índices de desenvolvimento.
A lógica que dividia as regiões entre rentáveis e não rentáveis para as empresas que se dedicam ao saneamento vai sendo paulatinamente quebrada. Mais do que isso: mostrando-se, na prática, equivocada. No Amapá, jovem estado com apenas 766 mil habitantes, um novo entrante pagou R$ 930 milhões para ter o direito de investir R$ 3 bilhões na atividade. Já em Alagoas, dois novos players, associados a concessionários mais tradicionais, pagaram mais de R$ 1,65 bilhão para aportar mais de R$ 2,9 bilhões em duas regiões do agreste, do sertão e da zona da mata alagoana. Detalhe: elas eram, até aqui, consideradas de pouco valor e com condições áridas.
Esse processo se aprofunda, gerando um círculo virtuoso de investimentos, quando vemos que ele começa a se espalhar pelo interior do Brasil. Segundo a Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), a expectativa é de que 23 licitações sejam feitas no país, sendo 12 delas em cidades com população inferior a 50 mil habitantes, entre o final deste ano e 2023. Em todas elas, haverá um salto de investimentos em infraestrutura voltada ao saneamento, gerando milhares de empregos diretos e indiretos. Além, claro, de melhorar radicalmente a qualidade de vida dessas populações.
Essa riqueza toda será distribuída para o poder público, a partir de recursos provenientes das outorgas; para a sociedade e o meio ambiente, a partir dos investimentos; para as pessoas, a partir do ganho de saúde e da geração de oportunidades de desenvolvimento socioeconômico; e para os acionistas, a partir do retorno sobre os investimentos. Perdemos muitas vidas, desperdiçamos muitos recursos e atrasamos nosso desenvolvimento sem saber que havia muita riqueza escondida no saneamento. Que bom que, agora, encontramos outro rumo.
Por Yves Besse é engenheiro civil graduado e pós-graduado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), consultor e especialista em Parcerias Público Privadas (PPPs) e concessões e presidente da Cristalina Saneamento.