É preciso registrar que o nosso crescimento econômico desde a década de 1980, deu-se na base do acaso e nunca de um planejamento público ou mesmo privado. Escreve Onofre Ribeiro
14/03/2023 05:33
“Maioria dos preconceitos vieram do serviço público, de setores das universidades”
Na semana passada escrevi um artigo sobre os possíveis cenários de Mato Grosso nos próximos anos. Especialmente até 2030, que já foi estimado pelo Imea – Instituto Mato-grossense de Estudos Agropecuários. Recebi muitos questionamentos.
Uns acreditando com fé. Outros duvidando e questionando politicamente, como se esses cenários fossem uma ideologia política. Outros com opiniões divergentes a respeito da agropecuária. E até mesmo preconceitos muito arraigados.
A maioria dos preconceitos vieram do serviço público, de setores das universidades e, óbvio, dos meios políticos ligados à esquerda. A maioria, urbanos. Gente que não distingue um pé de couve dum pé de eucalipto. Cito aqui porque isso me incomodou.
Uma ignorância gritante de gente que na sua maioria vive direta ou indiretamente dos desdobramentos das cadeias produtivas que se originam lá no campo.
Mas esse não é o foco deste artigo. É só um registro necessário. A questão principal são mesmo os desdobramentos de cerca de 81 cadeias produtivas em Mato Grosso, como sequência da ampliação da agropecuária e da industrialização, do comércio, da área de serviços e da implantação de infraestrutura.
Em janeiro de 2020 o frete de um container de 40 pés do Porto de Santos para o porto de Shangai (China), custava em torno de U$ 2.100. Em julho de 2022 era de U$ 10.600, mas esteve mais alto, em consequência da pandemia.
Somou-se também a falta de containers e a pouca disponibilidade de navios de carga. Fora os sucessivos aumentos no preço do petróleo. Claro, não poderia passar de fora a guerra da Ucrânia e Rússia como altos complicadores do mercado mundial de fertilizantes e de alimentos.
Aqui entra a questão essencial. Com uma estimativa de produzir 130 milhões de toneladas de alimentos e fibras, fora o etanol de milha e cana, algo como 8 bilhões de litros até 2030, Mato Grosso está no mapa mundial como o terceiro maior produtor.
Supera até mesmo a Argentina. Com todo esse potencial e os complicadores dos frente mundiais caros, é de esperar que a industrialização da produção primária se faça aqui em Mato Grosso, pra justificar o frete caro. Produto de valor agregado fica mais barato no frete de longa distância.
Isso traça um perfil assustadoramente importante pra Mato Grosso, num prazo muito curto de 8 anos. Desta equação nós não podemos nos livrar. Nem falei dos poderosos setores minerais e nem das potencialidades da agricultura sustentável como fonte de renda face às novas exigências mundiais. Nem da fantástica infraestrutura necessária nesse período.
É preciso registrar que o nosso crescimento econômico desde a década de 1980, deu-se na base do acaso e nunca de um planejamento público ou mesmo privado. Foi acontecendo…
É hora de começar a olhar o pro futuro moderno com olhares modernos. Sem o improviso que nos trouxe até aqui. Hora de começaram as discussões públicas sobre esses temas pra diminuir os preconceitos e se admitir que teremos um futuro sustentável. Temos muita gente no setor privado que nos trouxe até aqui. E pode nos levar muito mais adiante. O setor público precisa se alinhar adequadamente e rápido.
Por Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.