Vamos rasgar o princípio da publicidade, a transparência, esses inimigos dos mentirosos, ardilosos, mal-intencionados e incompetentes. Escreve Luís Ernesto Lacombe.
08/09/2023 08:05
“O Dia da Independência tem agora essa cor, a preferida daqueles que desconhecem os grandes brasileiros, os nossos verdadeiros heróis…”
Ninguém será independente. Que bom… Vamos comemorar. Não temos direito à vida, com aborto e drogas à espreita, um sistema de saúde sempre em frangalhos, liberdade e autonomia médicas combatidas, com criminalidade alta. Não temos liberdades fundamentais, liberdade de expressão e manifestação. Dizem que o mundo ficará melhor se houver apenas uma ideia, uma opinião, se o debate for mesmo extirpado. E o direito de propriedade se esfacela, com a derrubada do marco temporal das terras indígenas e a autorização para que seja desapropriada qualquer propriedade, mesmo produtiva. Vamos comemorar o fim dos direitos naturais inalienáveis. O 7 de Setembro, este ano, é uma festa de quem não tem amor a nada, de quem não sabe o que é pátria, de quem adora a mentira, a incompetência, a roubalheira.
O congraçamento dos canalhas tem claque contratada, transportada, cachê no bolso, mortadela, brindes. Os pagadores de impostos podem financiar qualquer absurdo… Um mundo imundo de ministérios, a politicagem cancerígena, as negociatas, viagens internacionais luxuosas e inúteis, o orçamento secreto, os artistas amigos, a mídia parceira, as empreiteiras do lado esquerdo do peito, a falida Argentina, ditaduras da América Latina, da África. Vamos comemorar o déficit crescente. Vamos comemorar o imposto sindical. Vamos dar vivas aos gastos que nunca salvarão o povo, muito pelo contrário, que o condenarão. Viva o aumento de impostos, a taxação de tudo. Vamos dar vivas à receita irrealizável, mesmo que nos cobrassem pelo ar que respiramos.
Vamos comemorar a perda de mais de 400 mil empresas no primeiro semestre. O 7 de Setembro é mesmo contra os empresários. É festa. Quem ficou sem ganha-pão foram os capitalistas selvagens, exploradores da mão de obra, não foram os trabalhadores… Morte aos fascistas empreendedores, morte aos fascistas do agronegócio. Vamos virar todos funcionários públicos. Vamos dar vivas às estatais, vamos festejar o uso e abuso da Petrobras, do BNDES, vamos pedir a estatização da Eletrobras, vamos estatizar tudo. O Estado enorme, gordo, inchado, fadado ao fracasso desfila para o precipício. Vamos, felizes, nesse descompasso.
Vamos comemorar o sigilo de tudo, os segredos fedorentos, o esconde-esconde, a destruição de provas de investigações criminais. Vamos rasgar o princípio da publicidade, a transparência, esses inimigos dos mentirosos, ardilosos, mal-intencionados e incompetentes. No 7 de Setembro, vamos aplaudir a impunidade, os criminosos no poder. Não há nada que o povo possa cobrar. Entre os homens públicos temos santos e deuses, e eles não precisam prestar contas de nada, de nada. Vamos festejá-los, vamos comemorar usando o vermelho. O Dia da Independência tem agora essa cor, a preferida daqueles que desconhecem os grandes brasileiros, os nossos verdadeiros heróis… O vermelho daqueles que não amam o Brasil, que não são patriotas, que são aproveitadores da pátria.
Por Luís Ernesto Lacombe é jornalista e escritor. Por três anos, ficou perdido em faculdades como Estatística, Informática e Psicologia, e em cursos de extensão em administração e marketing. Não estava feliz. Resolveu dar uma guinada na vida e estudar jornalismo. Trabalha desde 1988 em TV, onde cobriu de guerras e eleições a desfiles de escola de samba e competições esportivas. Passou pela Band, Manchete, Globo, Globo News, Sport TV e atualmente está na Rede TV.