O que cantavam há dois anos nossos incoerentes artistas? “A Amazônia, razão de tanta insânia e tanta insônia”. A mata ainda queima, mas agora eles já não perdem o sono. Escreve Luíz Ernesto Lacombe.
20/11/2023 11:05
“Estão por aí, escondidos, quietinhos. Já não sentem dó.”
E a culpa não era do Bolsonaro… A Amazônia está enfrentando o pior índice de queimadas dos últimos 25 anos. Há cidades cobertas por fumaça, e agora sofrendo também com tempestades de areia. Está difícil respirar… Em outubro, foram mais de 22 mil focos de queimadas, 58% acima do que foi registrado no mesmo mês do ano passado. É um novo recorde negativo para a coleção do Lula. Em área desmatada no período de um ano, ele ainda está atrás de Fernando Henrique Cardoso. Em 1995, com FHC na Presidência, 29.059 km2 de floresta amazônica foram desmatados. Com Lula, em 2004, foram destruídos 27.772 km2 de mata nativa da região. Agora, o petista anuncia que reduziu o desmatamento quase pela metade.
Lula também divulga que aumentou o combate aos incêndios, mas, ao que tudo indica, com a rapidez de um cágado. Até alguns “companheiros” admitem, com certo constrangimento, que “faltou agir mais cedo”. Os próprios apoiadores do petista sabem que combater o fogo é paliativo e que daria para ter feito mais e com antecipação, para impedir que a situação chegasse ao nível atual. Claro que essa turma, agora, enxerga um enorme desafio, admite, de repente, que há uma “conjunção de fatores” na Amazônia que contribuem para o quadro que a região enfrenta. Então, não era só tirar o Bolsonaro da Presidência?
Especialistas estão dizendo por aí que “o clima está muito favorável à expansão dos incêndios florestais”. A seca é culpa do El Niño, ressuscitado depois do governo passado: “A estiagem extrema é resultante de um El Niño intenso”… E Bolsonaro, especialistas dizem, foi beneficiado pelo fenômeno La Niña, que deixa a Amazônia mais úmida. Por isso, segundo a turma, houve menos seca na região… Jair Bolsonaro, ele, sim, deve ser um fenômeno. Se não chovia, a culpa era dele. Se chovia demais, a culpa era toda, todinha dele.
Marina Silva, a ministra do Meio Ambiente, diz que agora estamos vivendo uma guerra, não contra um governo, não contra uma pessoa específica. É uma guerra louca, que ela tenta explicar assim: “É como se nós estivéssemos lançando nanomísseis o tempo todo na atmosfera que estão mudando as grandes regularidades cósmicas. Nós precisamos ir para os limites intensivos. Nos limites extensivos, nós disputamos coisas, disputamos objetos. Nos limites intensivos, nós disputamos habilidade. Há limites para ter, mas não há limites para ser”.
A fumaça densa pode embotar as mentes. E, em meio a ela, sumiu todo mundo: Emmanuel Macron, Greta Thunberg, Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo… Não há mais discursos indignados, publicações revoltadas nas redes sociais, frases de efeito. Sumiram também os poderosos artistas brasileiros: Nando Reis, Arnaldo Antunes, Diogo Nogueira, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Camila Pitanga, Daniela Mercury, Samuel Rosa, Milton Nascimento… Já não fazem manifestação na orla carioca, e a Canção pra Amazônia, que lançaram há dois anos, jaz nas plataformas de vídeos da internet.
A letra da música, juvenil, sem métrica, com palavras que não encaixam, já não vale mais. E o que cantavam há dois anos nossos incoerentes artistas? “A Amazônia, razão de tanta insânia e tanta insônia”. Agora, eles já não perdem o sono, estão dormindo bem. Já não ouvem o próprio canto, já não veem a própria coreografia. É como na letra descompensada da canção: “Tem uma gente surda e cega para a beleza e o valor da mata”… Eles cantavam, “o mundo grita que já chega”. Pois estão afônicos, ninguém grita mais nada.
Há dois anos, nossos artistas fizeram coro. “Abaixo o desgoverno que abandone”, cantaram a plenos pulmões. E o governo mudou, e tudo desafinou, e tudo ficou pior. Estão por aí, escondidos, quietinhos. Já não sentem dó. Não denunciam a marcha à ré. Não têm mais mimimi… E eu fico querendo transformar em refrão, num estribilho chiclete as duas frases com que encerro esse texto… Bolsonaro não é e nunca foi o causador de todos os problemas do Brasil, muito pelo contrário. E Lula não é aquele que vai resolver todas as mazelas do país, muito pelo contrário.
Por Luís Ernesto Lacombe é jornalista e escritor. Por três anos, ficou perdido em faculdades como Estatística, Informática e Psicologia, e em cursos de extensão em administração e marketing. Não estava feliz. Resolveu dar uma guinada na vida e estudar jornalismo. Trabalha desde 1988 em TV, onde cobriu de guerras e eleições a desfiles de escola de samba e competições esportivas. Passou pela Band, Manchete, Globo, Globo News, Sport TV e atualmente está na Rede TV.