O problema real, claro, não é qualquer intenção maligna de Campos Neto, e sim o desajuste fiscal do desgoverno lulista. Escreve Rodrigo Constantino.
20/06/2024 14:55
“Quem não consegue cuidar da própria conta bancária acha que pode lhe dar lições”
Deu no Globo: “O principal ponto da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, de quarta-feira foi a unanimidade em torno da manutenção da taxa Selic em 10,50% ao ano. Com um ‘racha’ polêmico na reunião anterior, em maio, havia dúvidas se seria possível haver um consenso desta vez. Especialistas avaliam que isso deve dar alívio ao dólar, que acumula valorização de mais de 12% no ano, mas ressaltam que uma melhora permanente dependerá do cenário fiscal”.
De fato, a unanimidade foi o ponto de destaque na decisão do Copom desta quarta. Mas por outro motivo: ela expõe a farsa da narrativa lulista. Na véspera da decisão, os caciques petistas dedicaram toda a sua energia para atacar Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. Desde o início do governo o PT concentra em Campos Neto seus ataques, escolhendo-o para bode expiatório. Até jornalistas de esquerda como Elio Gaspari admitem isso.
Mesmo após a decisão, vários petistas graúdos e militantes orquestrados partiram para o ataque contra Campos Neto. Todos eles ignoraram o fato de que os indicados pelo PT ao Copom votaram exatamente como Campos Neto, inclusive Galípolo, cotado para substituí-lo no comando do BC. Como fica? Se Campos Neto é “capacho” de Tarcísio, se ele joga contra o Brasil, por que Galípolo votou da mesma forma? Silêncio no PT…
O senador Randolfe Rodrigues, por exemplo, escreveu: “A atuação do Presidente do Banco Central não tem sido ‘técnica’ e muito menos independente. Erraram todas as projeções de inflação e também a origem da inflação. Não temos inflação de demanda e a própria inflação está dentro da meta. A decisão de hoje do Copom, mantém o Brasil como um dos maiores juros reais do mundo. A decisão, ainda, tem como consequência o aumento das despesas com os serviços da dívida por causa dos juros elevados e assim eleva o déficit público. Por fim, a decisão do BC retrai o crescimento, prejudica a geração de empregos e onera as contas públicas”. E o Galipolo, senador?
Gleisi Hoffmann, chamada por alguns de Crazy Hoffmann, desabafou: “Não há justificativa técnica, econômica e muito menos moral para manter a taxa básica de juros em 10,5%, quando nem as mais exageradas especulações colocam em risco a banda da meta de inflação. E não será fazendo o jogo do mercado e dos especuladores que a direção do BC vai conquistar credibilidade, nem hoje nem nunca”. Mas e o Galípolo, Gleisi? A presidente do PT ignora que os indicados pelo partido votaram exatamente como Campos Neto?
O problema real, claro, não é qualquer intenção maligna de Campos Neto, e sim o desajuste fiscal do desgoverno lulista. O presidente afirma que o Banco Central é a única instituição desajustada no país, mas é justamente o contrário. E o problema não é só a fala de Lula, mas o que ele e seu PT realmente pensam. Isso importa pois a saída de Campos Neto tem data marcada, e o que vem em seu lugar é, na “melhor” das hipóteses, alguém como Galípolo. Alguns falam em Guido Mantega, o que seria tragédia certa. O PT sempre flerta com o abismo.
Em tempo: o prêmio vassalagem do ano vai para Reinaldo Azevedo, autor de O país dos Petralhas, volumes 1 e 2, mas que se tornou o maior defensor dos petralhas. Reinaldo elogiou os ataques de Lula a Campos Neto como estratégia num xadrez 4D: “A burrice está em alta. Afirmar q Copom ignorou Lula e votou unanimemente por manter Selic é análise c/ os dois pés no chão e as duas mãos tbem. Lula antecipou esse resultado qdo deu na cara de Campos Neto. O q viria depois? A unanimidade! Foi cálculo. E pronto! Diretores indicados por Lula são “isentos, ainda que Campos Neto não seja. O cara é presidente da República pela terceira vez e já elegeu Dilma outras duas. Quem não consegue cuidar da própria conta bancária acha que pode lhe dar lições. O bolsonarismo e a bolsonarização do pensamento estão engolindo a análise econômica, a análise política e até a lógica elementar. Será q Lula bateu no neto de seu avô esperando resultado diferente? Tenham paciência! Deveria ser elementar…” Constrangedor…
Por Rodrigo Constantino, economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.