Opinião – Lula não entrega o que promete e se irrita com cobranças

A agenda ambiental, de defesa da Amazônia, do Pantanal, deixou os europeus impressionados, era a grande agenda, mas está aí o país pegando fogo. Escreve Alexandre Garcia.

17/09/2024 12:31

“O Centrão é que está sendo fisiológico para dar apoio ao presidente da República”

O presidente Lula na cerimônia de retorno do Manto Tupinambá ao Brasil, no Rio de Janeiro, em 12 de setembro.| Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

O presidente Lula está nervoso. Pudemos ver isso naquela explosão dele contra uma senhora idosa, Yakuy Tupinambá, na solenidade do retorno de um manto tupinambá. Ela reclamou do presidente, do Congresso, do Judiciário, e Lula explodiu. Não quis nem saber se era uma senhora, se era uma idosa, se estava entre indígenas, se havia uma liderança indígena à qual ele estava se referindo. O presidente tem bons motivos para estar nervoso. Todas as promessas, todas as agendas estão resultando em frustrações, porque eram só propaganda, só da boca para fora.

Do meio ambiente à economia, é um fracasso atrás do outro

A agenda ambiental, de defesa da Amazônia, do Pantanal, deixou os europeus impressionados, era a grande agenda, mas está aí o país pegando fogo. Se comparar com o governo anterior, muito criticado pela esquerda, o atual governo está queimando muito mais. A prova está no ar da maioria das capitais brasileiras. Na agenda indigenista, aí está a frustração traduzida pelas palavras da senhora Yakuy Tupinambá. Em toda parte vemos o aumento nas mortes, os assassinatos de indígenas, as 1.040 mortes de criancinhas de menos de 4 anos por coisas simples como desidratação e diarreia. E isso que há três ministérios para cuidar disso: o da Saúde, o dos Direitos Humanos e dos Povos Indígenas.

Os direitos humanos, aliás, que foram outra bandeira, tiveram o escândalo do ex-ministro. Mas o vexame não é o da mão boba, esse é talvez o menor. O maior vexame foi não proteger os povos amazônidas que estão sendo oprimidos, injustiçados. E, por falar em injustiça, temos os manifestantes do 8 de janeiro, em que a maciça maioria não teve nada a ver com quebra-quebra nas sedes dos poderes, mas é presa e condenada mesmo assim. Lula não deu uma palavra a respeito disso.

Por fim, a economia. A primeira frustração foi a da picanha. As pessoas realmente esperavam picanha, mas não conseguiram ainda combinar o salário com o preço da picanha. Ainda não deu certo, e a inflação está comendo. Aí vem também esse confisco, na verdade, de dinheiro que ficou nos bancos, quantias de menos de R$ 100 que são das pessoas menos abonadas, com menos renda.

Sem programa decente, só resta a Lula comprar apoio político

Então a gente vê que a paciência do presidente está assim: qualquer gota já transborda. E ele se queixa de não ter poder porque não tem força política. Mas o que ele entende por “força política” é comprar político com emenda e dinheiro público, é fechar os olhos para ministros que estão gastando dinheiro demais, fazendo viagens demais, envolvidos em escândalos, porque ele depende de partidos políticos. Lula chega a minimizar o apoio dele, dizendo que tem só 70 deputados e nove senadores, Então, os autores de coisas como esse confisco estão no Centrão – na direita é que não estão. O Centrão é que está sendo fisiológico, obviamente, mais uma vez, para dar apoio ao presidente da República em coisas que não são benéficas para a nação.

 

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

 

 

 

 

Por Alexandre Garcia, colunas sobre política nacional publicadas de domingo a quinta-feira.

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