Opinião – Ideias, ideais e ideologia

o progressismo busca o que chama por igualdade, no entanto, na prática relativiza este conceito ao se utilizar de argumentos desagregadores. Escreve Marcelo Augusto Portocarrero.

01/10/2024 05:40

“Avanço progressista fez surgir outras modalidades, dentre elas a ideologia woke”

Em uma discussão, dependendo do âmbito e não do ambiente, os oponentes, ao atingirem alto grau de estresse, costumam confundir ideias com ideais, daí acabarem por externalizar suas ideologias.

No campo das ideias, temos que estas não passam de opiniões pensadas com a intenção de fazer algo, pois é a partir delas que as coisas passam a ter formatação ou, em outras palavras, existir de fato.

Já ideal é um princípio, uma aspiração que se toma por modelo. Tem muito a ver com o imaginário coletivo, daí ser entendido como aspiração, ambição ou mesmo fantasia.

Algo perfeito no que se refere à estética tanto física quanto sociológica, o que o torna um entendimento pessoal, particular mesmo. Afinal o que é belo para alguém, pode ser feio para outrem.

Como se percebe, tanto um conceito quanto o outro são insumos para a construção de convicções filosóficas, sociais e políticas, que contribuem individual e conjuntamente para o aparecimento de uma porção de propostas alimentadas pelo ativismo, seja ele conservador, progressista ou outro qualquer.

O conservadorismo acredita nas tradições, porque estas oferecerem à sociedade, melhor dizendo, ao indivíduo, a possibilidade de exercer opinião, agir em liberdade, respeitar valores religiosos, morais, éticos e familiares bem como defender sua nacionalidade, considerar e respeita o passado como mecanismo construtor do presente e indutor do futuro.

Do outro lado, o progressismo busca o que chama por igualdade, no entanto, na prática relativiza este conceito ao se utilizar de argumentos desagregadores.

Agindo assim, ao invés de reunir, aparta ainda mais a humanidade de seus princípios originais, ou seja, propõe a consideração de variações opcionais irrestritas sobre quase tudo.

Entretanto, não age dessa forma em relação a direitos como o livre-arbítrio, desconsiderando assim a gênese igualitária universal, que tem como um de seus pilares fundamentais um pressuposto criador único, seja ele um princípio religioso ou científico.

Assim, nessas ocasiões e sorrateiramente, a discussão passa do campo das ideias para o dos ideais e destes para o das ideologias, em concepções cada vez mais díspares em conteúdos e objetivos.

Tanto, que hoje em dia há cada vez mais espaço para a inclusão de novos tipos de ideologias, a exemplo da de gênero, que utilizando do teórico argumento de ser um conjunto de pensamentos, doutrinas ou visões do mundo de um indivíduo ou de determinado grupo, orientado por suas ações sociais e políticas vêm sendo estabelecido, muito embora seja uma expressão não muito adequada para tratar um conjunto de princípios ainda em construção.

Interessante observar, que dentre os vários tipos de ideologias político-sociais existentes na primeira metade do século passado – o liberalismo, o conservadorismo, o comunismo, o socialismo e o fascismo – todas procuravam explicar o comportamento social através de distintas propostas, que levaram o mundo a viver em um verdadeiro caleidoscópio filosófico.

Nesse contexto, o avanço progressista fez surgir outras modalidades, dentre elas a ideologia woke, termo de origem americana, que se refere a uma percepção das questões relativas à justiça social e racial inspirada no comunismo, mas colocada em prática pelos “democratas norte-americanos” e o que vou chamar de neoliberalismo brasileiro, uma teoria sócio-econômica própria, tupiniquim mesmo, que tentou disfarçar seus vieses comunistas e socialistas através da “adoção” de princípios liberais, práticas aplicadas nos momentos que existiram logo após o afastamento dos militares do poder e que antecederam o atual “status quo” dessa nossa jabuticaba ideológica.

Uma ideologia única, lúdica, que possui em seu bojo argumentos incompatíveis, posto que composta por conceitos excludentes sobre política, economia, sociologia e cultura, os quais, em conjunto, tornam nossa sobrevivência como povo, país e nação algo incompreensível, . . . pelo menos para mim.

 

 

 

 

Por Marcelo Augusto Portocarrero é engenheiro civil.

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