Opinião – Bolívia, asfalto e os Andes

Não esquecer que a China está construindo um porto no Peru justamente com essa intenção: vender e comprar da América do Sul e sair por ali. Escreve Alfredo da Mota Menezes.

24/10/2024 05:22

“Vai demorar um pouco para que o sonho se transforme em realidade”

Imagem ilsutrativa/Reprodução/dilvulgação – O Livre

O governo do estado anunciando o asfaltamento de 70 quilômetros da estrada de Vila Bela da Santíssima Trindade à fronteira da Bolívia. Serve para comércio com aquele país e, a partir dali, se pode ir a países dos Andes, como Peru, Colômbia, Chile e até mesmo chegar a porto do Pacifico.

É uma alternativa para futuro comércio de MT. Pode ser região para venda de bens da agroindústria do estado. Mato Grosso do Sul já tem uma ligação maior com aqueles países, agora é este estado. Pode-se até sonhar de que parte da produção do agronegócio daqui possa usar caminhos dali para chegar à Ásia.

Não esquecer que a China está construindo um porto no Peru justamente com essa intenção: vender e comprar da América do Sul e sair por ali. Esse asfalto para a Bolívia abre essa perspectiva também.

Vai precisar de asfalto dentro da Bolívia no rumo de outros países dos Andes e a alternativa do Pacifico. E o governo daquele país, um dos mais pobres das Américas, não tem recursos para isso.

A coluna aventou a hipótese em outro momento que se possa quem sabe ter empréstimos do BNDES para o governo boliviano para que faça o asfalto que ligaria à saída pelo Pacifico. A divida seria do governo do país vizinho. O governo boliviano teria que ter interesse mesmo e colocar Brasília na parada. É um assunto difícil, mas terá que ser conversado em algum momento.

Deixando os Andes de lado, MT tem outra alternativa para se ligar mais ainda à América do Sul: a hidrovia Paraguai-Paraná, assunto de muitos comentários por esta coluna. Mas, como já mostrado em outro momento, o diferente agora é a perspectiva de construção de dois portos nessa hidrovia.

Estão previstos  os portos Paratudal e Barranco Vermelho na hidrovia. Os dois terão possiblidades de cargas muitos maiores do que ocorre hoje com o porto de Cáceres. Quando isso acontecer, poderia repetir aqui o que o Mato Grosso do Sul já faz desde algum tempo ao usar dois portos que tem nessa hidrovia para realizar comércio e negócios com países do Mercosul.

A hidrovia passa em todos os países dessa integração econômica: Paraguai, Argentina e mais Uruguai e sai no Atlântico. Aquela impressão antiga, aqui e do outro Brasil, de que Mato Grosso estaria fora de rotas comerciais maiores por causa da posição geográfica, não procede mais. Pelos Andes e pelo Mercosul este estado estaria bem posicionado comercialmente.

Vai demorar um pouco para que o sonho se transforme em realidade. Mas já se vê, com concretas perspectivas e novos posicionamentos de governos, algo diferente e positivo no horizonte. Sem contar com a possiblidade ainda de uma futura ferrovia cortando a América do Sul que os chineses tem intenção de construir. Conversa para outro momento.

 

 

 

 

Por Alfredo da Mota Menezes é analista político.

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