Opinião – Escuridão democrática

Se o mato grossense Jânio Quadros não fugisse do governo, quatro anos depois poderia voltar Juscelino Kubistchek. Escreve Alfredo da Mota Menezes.

13/03/2025 05:29

“Filme Ainda Estou Aqui provocou brasileiros a falar sobre o que ocorreu de 64 a 1985”

Reprodução/divulgação Dagobah

O filme Ainda Estou Aqui provocou parte dos brasileiros a falar sobre o que ocorreu  entre 1964 e 1985, com o regime militar no país. Foram 21 anos de escuridão democrática. Jovens de agora andaram lendo e preguntando o que foi aquele momento. Daí a importância maior do filme que ganhou até um Oscar.

Tudo começa com a renuncia de Jânio Quadros à presidência. Seu vice, João Goulart, era do PTB, partido mais de centro esquerda. Os militares não gostavam de sua postura politica. Em março de 1964 tomaram o poder.

A elite, de forma geral, e a maior parte da classe politica, também apoiaram o golpe militar. Por trás de tudo estavam os EUA. É provado isso, os EUA estavam com um olhar bem diferente para a América Latina do período. O mundo vivia a chamada Guerra Fria, coices e cotoveladas entre capitalismo e socialismo no leste europeu.       

Teve um caso regional que levam os EUA a caminharam, junto com os militares na região, para regimes da direita politica. Em 1962 o mundo viveu perto de uma guerra nuclear quando os EUA descobrem que a União Soviética estava colocando misseis em Cuba voltados para os EUA. John Kennedy era o presidente dos EUA e Nikita Kruchev o mandatário do bloco soviético.

Quando os EUA cercam a ilha do Caribe para impedir a entrada de foguetes ali, o mundo viveu momentos tensos por alguns dias. Duas potências nucleares, aliadas na Segunda Guerra mundial, estavam na iminência de um confronto com consequências inimagináveis. 

Veio um entendimento: os EUA não derrubariam o governo de esquerda em Cuba e os soviéticos não levariam mais ogivas nucelares para aquela ilha. Acordo feito e cumprido pelos EUA. Nunca foram ali para derrubar o governo de Fidel Castro. Não foi assim no resto da América Latina.

A partir dali os EUA decidem dar apoio a regimes mais à direta, no caso com militares, para impedir que a região, que lá nos EUA eles chamam de backyard ou quintal, fosse para a esquerda política.

A coisa pegou. Se teve ditadura militar em El Salvador, Nicarágua, Honduras, Guatemala, Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai. Equador, Peru. Todos com suporte dos EUA. Livros de historiadores norte americanos mostram essa realidade. No Brasil, inventaram que Goulart era “comunista” e deram um golpe. Ele se refugia no Uruguai.

Foram presidentes os generais Castelo Branco, Costa e Silva, Emilio Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo. Foram 21 anos de fardados no poder sem eleição. Os governadores eram indicados pelo presidente de plantão. Prefeitos das capitais e das cidades de fronteiras, como Cáceres, eram indicados pelo governador.

A imprensa vivia sob censura, não era permitido ter ideias diferentes nem no ensino superior. Tinha um tal de ato institucional número cinco que punia todo mundo. Tudo com suporte dos EUA. Não iam permitir uma nova Cuba na região.

Se o mato grossense Jânio Quadros não fugisse do governo, quatro anos depois poderia voltar Juscelino Kubistchek e talvez não tivéssemos vividos 21 anos na escuridão democrática.

Por Alfredo da Mota Menezes é analista político.

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