De nada adianta o discurso político inclusivo, porque é exatamente dele que os jovens, nossas esperanças de um futuro melhor, recebem o letal veneno da ignorância. Escreve Marcelo Portocarrero.
17/03/2025 06:01
“Toda inclusão causa efeito e, com isso, consequência, para o bem ou para o mal”

Ilustrativa.
Toda inclusão causa efeito e, com isso, consequência, para o bem ou para o mal. Esta é a principal razão pela qual a competência deve estabelecer a norma, a razão, e não apenas consideração.
Exemplos disso se encontram em todas as atividades humanas, assim como naquelas referentes ao reino animal, onde, de maneira ainda mais determinante, quem não tem competência – no caso, força – não sobrevive, tampouco se estabelece.
Nos esportes, em um bom exemplo, a competência é adquirida com muito treino. O talento, sendo um ingrediente nato, é uma vantagem real, mas não basta; ele precisa ser complementado, lapidado seria uma melhor explicação, com muito treino e, por que não, investimento. De outra forma, haverá considerável chance de esse dom natural ser mal aproveitado, quando não perdido.
Seguindo nos exemplos, cabe tratar daquele onde deveria haver a busca pela excelência na formação do aluno, de modo a que lhe seja proporcionada a condição necessária para buscar qualidade de vida. Pois bem, é lá, exatamente onde deveria haver cobrança nesse sentido, que vemos famílias desorientadas a exigir que seus filhos passem de ano, como se estar na escola para aprender fosse um compromisso informal, do tipo basta a presença física (muitas vezes nem isso), já que a nota de desempenho por conhecimento passou a ser substituída por percentual de aproveitamento, não mais pela média nas notas de aprovação nas disciplinas ministradas. O importante é passar o aluno de ano, senão ele poderá ficar abalado, frustrado, até revoltado, com a inconcebível reprovação. Inverte-se, assim, causa e efeito, afinal a causa é o não aprendizado e o efeito a ignorância, no sentido de má formação intelectual.
Os países que, como o nosso, ainda estavam no rol dos subdesenvolvidos nas décadas que se seguiram após a Segunda Guerra Mundial, passaram por processos inversos ao que nos foi apresentado como metodologia de ensino, por isso conseguiram evoluir e fazer parte do grupo entendido como de países desenvolvidos. Já nosso pífio resultado, bem, este não merece receber qualquer aprofundamento, porque seria desconfortável para os que enaltecem Paulo Freire e implementaram sua metodologia nas décadas que se seguiram desde sua adoção até hoje.
Graças a ela, nossa participação nos rankings sobre qualidade de conhecimento na educação, desenvolvimento intelectual e cognitivo são alarmantes em todos os sentidos. Isto se referindo ao ensino de base, aquele que deveria preparar os jovens para os cursos superiores, onde o acesso também deveria ser rigorosamente medido pelo grau de conhecimento e pela capacidade de compreensão do estudante em relação ao seu próprio desenvolvimento e, por consequência, ao de sua família, sua comunidade e seu país.
Onde refletem os efeitos danosos dessa situação? No acesso ao mercado de trabalho, nas oportunidades de galgar posições salariais compensatórias, no preparo adequado ao empreendedorismo tão em voga nos dias atuais e em outras tantas oportunidades que, queiramos ou não, vão exigir conhecimento, competência e desempenho.
A substituição dessas qualificações por métodos não ortodoxos de evolução das pessoas tem limite, e esse limite começa a ser considerado exatamente na hora em que o jovem chega à rua, na estrada da vida ou, como dizem os mais antigos, somente com a cara e a coragem, sem ter outra coisa a oferecer senão a si mesmo.
Nada estabelece uma pessoa, senão ela mesma. Ser beneficiado com mecanismos que buscam elevar o patamar sociológico do indivíduo como forma de compensação pode até ser justo sob esse ponto de vista – o social – devido à incompetência do Estado em formar seu cidadão. Neste caso, é compreensível o entendimento inverso por parte do pretenso beneficiado, afinal, para ele, tudo o que vier como o que ele entende ser recompensa é justo e bem-vindo, mas a reposição do que entende lhe era devido por direito, somente beneficia o próprio Estado, vez que, através deste subterfúgio, passa a enganosa imagem de benemérito, quando na verdade é o algoz.
Políticas inclusivas geralmente vêm pintadas de cores vibrantes e variadas, eivadas de retórica e nutridas de intenções reparadoras. No entanto, pouco valem se não vierem acompanhadas do necessário reconhecimento por recorrentes e cumulativos erros, inclusive um necessário e intempestivo “mea culpa”, além de mudanças quali-quantitativas em relação aos processos educacionais básicos, regulares e superiores em vigor.
De nada adianta o discurso político inclusivo, porque é exatamente dele que os jovens, nossas esperanças de um futuro melhor, recebem o letal veneno da ignorância ministrado em doses homeopáticas, o que, com o passar do tempo, poderá nos levar à ruína.
Por Marcelo Augusto Portocarrero é engenheiro civil.