É muito preocupante isso, pois quer dizer que a estatística está mostrando mais alunos do que realmente estão na escola. Escreve Alexandre Garcia.
01/04/2025 07:05
“Não está batendo, e é dinheiro dos nossos impostos.”

Lula em evento do programa Pé-de-Meia no Ceará, em agosto de 2024. (Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República)
A mudança de tempo aqui em Portugal me pegou a garganta, vocês devem ter percebido. Muita autoridade brasileira deve estar perdendo o sono com as sanções econômicas pesadas anunciadas pelos Estados Unidos contra seis autoridades importantes da segurança e da polícia de Hong Kong. O território já foi do Reino Unido, agora pertence à China. Eles perseguiram 19 militantes pela democracia, quatro dos quais estão refugiados nos Estados Unidos, e um é cidadão americano.
As sanções incluem bloqueio de empresas em que tenham mais de 50% de capital e que estejam vinculadas aos Estados Unidos; proibição de entrar nos Estados Unidos ou mesmo de transitar por aeroportos americanos; e proibição de qualquer contato bancário, financeiro, econômico, com qualquer coisa vinculada a empresas ou bancos americanos; e controle de contas bancárias americanas. Eles são párias nos Estados Unidos de agora em diante, por terem promovido repressão contra manifestações pela democracia e contra o Partido Comunista Chinês. E o que os brasileiros têm a ver com isso? É sinal que os americanos não estão brincando com a proteção dos direitos humanos e das liberdades.
Escândalo do Pé-de-Meia: mais beneficiários que estudantes
O Estadão fez uma denúncia importante sobre o programa Pé-de-Meia, que o governo está anunciando agora, dando R$ 200 por mês para alunos do ensino médio que comprovem necessidade, além de mais R$ 1 mil por ano – no total, daria R$ 9,2 mil por aluno, com o dinheiro dos nossos impostos. É um programa que leva adiante a ideia do estudante mercenário. O jovem tem de estudar para seu próprio bem, mas agora ele vende sua dedicação ao estudo. O Estadão descobriu que há cidades com mais beneficiários que alunos na escola.
Em Riacho Fundo (BA), só existe uma única escola de ensino médio, com 1.024 alunos. Mas, em fevereiro, o governo pagou (e não foi pouco) para 1.231 estudantes, ou seja, 207 beneficiários além dos alunos matriculados, 20% a mais. A Secretaria da Educação da Bahia diz que os estudantes de ensino médio naquela cidade são 1.677; o MEC acha que são 1.860. Nada bate! Os órgãos de governo não sabem nem sequer o número de alunos nessa escola pública, que em fevereiro somou R$ 1,75 milhão em pagamentos do Pé de Meia.
Em Porto de Moz (PA), as duas escolas somam 1.382 alunos, mas o governo pagou para 1.687 (22% a mais). E o MEC diz que o município tem 3.105 estudantes de ensino médio. Como assim, se as duas escolas, somadas, têm 1.687? Natalândia (MG) tem uma escola, com 317 alunos. O MEC diz que está pagando para 326 e que, na verdade, o município tem 600 estudantes. É muito preocupante isso, pois quer dizer que a estatística está mostrando mais alunos do que realmente estão na escola. Não está batendo, e é dinheiro dos nossos impostos.
Por Alexandre Garcia, colunas sobre política nacional publicadas semanalmente.