Estado colhe o pior resultado em termos de lucratividade

20/06/2010 09:49

No ano em que os produtores mato-grossenses protagonizam a maior safra da história – cerca de 29 milhões de toneladas de grãos e fibras – o Estado colhe o pior resultado em termos de lucratividade. Pelos números apontados, a perda de margem de lucro sobre cada hectare cultivado de soja nesta safra, em comparação com a de 2009, será de R$ 10. Ao final do ano, isso vai tirar da economia local R$ 62 milhões.

O custo de produção na safra 09/10 foi de R$ 1,49 mil por hectare e, a rentabilidade, 9,37%. Mas o histórico das últimas safras mostra que o rendimento ficou entre 10% e 15%. O lucro, que na safra passada chegou a R$ 150 por hectare, recuou para R$ 140 na safra 09/10. Para os produtores, a diferença – R$ 10/hectare – pode influenciar no comportamento da próxima safra e representa muito num universo de mais de 6,2 milhões de hectares cultivados no Estado com o grão.

Segundo o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), Glauber Silveira, a renda agrícola de 2010 será uma das piores dos últimos anos. Mais: com os baixos preços da soja no mercado internacional e câmbio desvalorizado em relação ao real, os sojicultores mato-grossenses ficam a menos de 90 dias do início do novo ciclo cercados de projeções negativas por conta da elevação dos estoques mundiais, com recordes de produção na América do Sul e nos Estados Unidos.

A análise está baseada nos números do Valor Bruto da Produção (VBP) para a sojicultura – carro-chefe do agronegócio estadual -, divulgados pelo Ministério da Agricultura. O VBP, que valia pouco mais de R$ 12 bilhões em 2009, encolheu para R$ 9,73 milhões – queda de 18,92% – apesar do aumento de 8% sobre o volume físico (em toneladas) de uma temporada para a outra.

A preocupação com a queda da renda agrícola levou o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) a elaborar cenários de rentabilidade com base nos custos médios, com três diferentes níveis de comercialização e produtividade, chegando assim em nove cenários. Em todos os cenários desenhados, os preços representam a principal discrepância no nível de renda do produtor. Além disso, a capacidade de pagamento da safra 09/10 fica ainda mais comprometida para fazer frente às parcelas do endividamento que estão vencendo este ano.

O diretor de Relações Institucionais da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato), Rogério Romanini, diz que melhorar a renda do produtor é o principal desafio da nova diretoria da entidade, empossada na última segunda-feira.

CÂMBIO – Na avaliação do diretor administrativo da Aprosoja/MT, Carlos Fávaro, a principal causa da queda da renda agrícola é a defasagem cambial, atrelada à falta de uma logística adequada para transportar a produção. “Sem uma logística adequada perdemos em competitividade”. Segundo ele, a desvalorização cambial vem tirando a renda do produtor. “Se o sojicultor vendia a saca de soja a US$ 21, com câmbio de R$ 2,30, obtinha um lucro de R$ 48,30. Hoje, vendendo pelos mesmos US$ 21 e com câmbio de R$ 1,75, o produtor não consegue obter mais do que R$ 36,75 pela saca da soja, com perda de quase 24% por causa da defasagem cambial”.

O aumento da safra, lembra Fávaro, não significa produtividade maior. “O que tivemos nesta safra foi exatamente uma queda da produtividade, que influenciou também na renda agrícola”. Ele explica que ocorreu uma migração da área de algodão e arroz para soja, daí o aumento da produção. “Mas os custos ficaram muito próximos da renda obtida com a venda da produção e o produtor ficou praticamente sem margem nesta safra”.

Entre as causas da queda da produtividade, Favaro aponta fatores climáticos e a presença mais forte da ferrugem asiática da soja nas lavouras. “Tudo indica que 2010 será um ano extremamente difícil, pois não existe renda sequer para pagar as parcelas do endividamento. O setor precisa de medidas de governo com urgência, como a prorrogação das parcelas e a readequação do saldo das dívidas à capacidade de pagamento do produtor com alongamento dos prazos e taxas de juros compatíveis”.

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