08/07/2010 10:10
O número de execuções, arrestos, buscas e apreensões contra produtores rurais de Mato Grosso inadimplentes com os bancos já passa de 500 somente neste ano. Máquinas agrícolas, colheitadeiras, caminhões e outros bens estão na mira dos bancos por conta do endividamento rural, que ultrapassa a cifra de R$ 12 bilhões em custeios e investimentos. Os números não só assustam como também tiram o sono do produtor no momento em que eles preparam a terra para o plantio da próxima safra, daqui a pouco mais de dois meses.
Segundo a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja/MT), as ações estão sendo impetradas por bancos de fábrica como a Case New Holland, DLL e John Deere, e ainda instituições como o Rabobank, Bradesco e Banco do Brasil, afetando cerca de 70% dos produtores do Estado.
“Já afirmamos e volto a repetir: se o governo federal não fizer alguma coisa com urgência, vamos ter uma surpresa desagradável na próxima safra, que pode vir em forma de queda de área, de produção e de produtividade. Não temos ainda uma dimensão exata do que poderão representar estes prejuízos para a balança comercial de Mato Grosso e para o agronegócio brasileiro”, alerta o diretor administrativo da Aprosoja/MT, Carlos Fávaro.
Segundo ele, o governo federal está percorrendo “caminhos perigosos” no que diz respeito ao setor que produz alimentos no Brasil. “Todo ano o governo anuncia planos safras com cifras astronômicas para o setor (este ano são R$ 41 bilhões), porém impõe restrições para liberar os recursos e, na prática, poucos agricultores acabam tendo acesso aos financiamentos. Para a sociedade, fica a impressão de que o governo está dando assistência e oferecendo dinheiro fácil, e que o produtor só sabe chorar. Mas a prática é bem diferente disto e só quem está nesta lida sabe o que é precisar de dinheiro e não ter como acessar”.
CONTRASTES – Fávaro conta que os números da safra brasileira contrastam com os problemas e desafios enfrentados pelos produtores no atual ciclo. “Teremos safra recorde de soja (18,79 milhões de toneladas), mas a produtividade por hectare em nosso Estado foi uma das piores dos últimos anos, o preço médio da soja está em média R$ 10 a menos em relação ao ano passado e temos problemas de logística. Tudo isso é suficiente para mostrar claramente que o setor não tem renda para pagar um endividamento absurdo que existe”.
Ele diz que “não é preciso ser especialista” para entender o problema. “Muito mal o produtor está fazendo o custeio, por isso não sobrará dinheiro para amortizar dívidas atrasadas. Qualquer leigo consegue enxergar isso, só o governo não vê necessidade de prorrogação [das dívidas]. Mantega [ministro da Fazenda] já deixou claro que [o governo] não irá mover uma palha, deixando todos apreensivos”.
Fávaro lembra que “o dia em que o governo quiser resolver definitivamente o problema”, terá que acertar o “tripé” taxas de juros, câmbio e dívidas. “As taxas têm de ser compatíveis com o setor, os excedentes das dívidas [multas, juros e outros encargos] devem ser extintos e os prazos para pagamento precisam ser alongados. Sem resolvermos estes problemas o setor não volta a entrar no eixo”.
Para o diretor da Aprosoja/MT, o governo federal está cometendo um “erro gravíssimo”, inviabilizando um setor que representa 36% do PIB (Produto Interno Bruto), 40% da balança comercial do país e é responsável por parte do superávit brasileiro. “No caso de Mato Grosso, 70% do PIB é do agronegócio. Mas o governo prefere deixar o setor na inadimplência e nas mãos dos bancos e instituições de crédito, para execução”.
Para Carlos Fávaro, as execuções contra os produtores poderão ter reflexo “muito grave” nos próximos anos. “[As ações] podem tirar muitas famílias da atividade e a produção pode cair. Com isso, o consumidor correrá risco de pagar mais caro pelos alimentos”, adverte.