Copom aumenta Selic para 10,75%

22/07/2010 18:20

Nas duas decisões anteriores, as altas haviam sido de 0,75 ponto. Com o entendimento de que o cenário inflacionário evoluiu positivamente desde junho, o Comitê de Política Monetária (Copom) viu espaço para diminuir a magnitude do aumento de juro. Nas últimas semanas, diversos indicadores de inflação e atividade econômica mostraram desaceleração.

Em comunicado divulgado após o encontro, os diretores do BC afirmam que a decisão levou em conta “o processo de redução de riscos para o cenário inflacionário que se configura desde a última reunião do Copom”. Essa melhora, segundo o texto, “se deve à evolução recente de fatores domésticos e externos”. “O Comitê entende que a decisão irá contribuir para intensificar esse processo (de redução de riscos)”, completa o texto distribuído após a decisão tomada por unanimidade.

Os argumentos para a redução de ritmo no aperto monetário vieram à tona nas últimas semanas e especialmente no cenário doméstico. Indicadores como a inflação mais baixa que o esperado e a atividade econômica em desaceleração surpreenderam positivamente o mercado financeiro.

Análise

Inflação e atividade mais fracas abrem espaço para moderação

Brasília (AE) – Os argumentos para a redução do ritmo de aperto monetário vieram à tona nas últimas semanas. Indicadores como a inflação mais baixa que o esperado e a atividade econômica em desaceleração surpreenderam positivamente o mercado financeiro. Para analistas, esse quadro diminui os riscos e abre espaço para um Banco Central mais moderado. O próprio presidente do BC, Henrique Meirelles, deu sinais de que o ritmo dos juros poderia mudar. Normalmente avesso à imprensa, especialmente em dias que antecedem o Copom, ele falou dois dias seguidos com a imprensa na semana passada para reafirmar que as decisões são tomadas “levando em conta todos os dados existentes” até o dia da reunião.

Essa evolução positiva dos indicadores recentes gerou verdadeira reviravolta no mercado de juros futuros. Há duas semanas, os negócios mostravam que era praticamente zero a chance de alta da Selic inferior a 0,75 ponto porcentual. Mas as apostas começaram a mudar ao longo da semana passada. Na última segunda-feira, foi o primeiro dia em que a maioria das operações passou a apontar para o aumento de 0,50 pp. Um dia depois, as apostas se consolidaram com a deflação de 0,09% registrada no IPCA-15.

A inflação foi o número que abriu os olhos dos analistas para a chance de uma alta menos intensa da Selic, mais especificamente o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) que marcou inflação estável (0,0%) em junho, abaixo de todas as expectativas. Os preços seguiram no radar até horas antes da decisão, já que ontem o IPCA-15 de julho, uma prévia do índice até o meio do mês, apontou deflação de 0,09%, também surpreendendo o mercado.

Essa percepção de desaceleração vai além dos preços. Na semana passada, o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) registrou estabilidade entre abril e maio. Calculado pelo próprio BC, o número mostra que a economia parou de crescer no mês retrasado.

A lista de argumentos continua no emprego já que foram criados de 212,9 mil empregos formais em junho, abaixo do registrado em maio e do previsto pelos analistas. Além disso, a arrecadação de impostos também ficou aquém do esperado pelos economistas no mês passado. Juntos, os dois números reforçaram o entendimento de que a economia está em um ritmo mais fraco que o previsto inicialmente.

Implicação será reduzida no crédito, aponta Anefac

São Paulo (AE) – A alta de 0,50 ponto porcentual da taxa básica de juros da economia (Selic), anunciada ontem pelo Comitê de Política Monetária (Copom), terá um efeito reduzido nas operações de crédito. A avaliação é da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), que projetou o impacto da elevação da Selic, de 10,25% para 10,75% ao ano, sobre as taxas cobradas de consumidores e empresas.

De acordo com a Anefac, o efeito será pequeno porque “existe um deslocamento muito grande entre a taxa Selic e as taxas cobradas ao consumidor que, na média da pessoa física, atingem 122,71% ao ano”. A diferença entre a Selic e o que é efetivamente cobrado das empresas também é grande.

Pelas projeções da Anefac, a alta da Selic para 10,75% ao ano fará os juros cobrados no comércio subirem de 98,50% para 99,40% ao ano. A taxa média do cartão de crédito passará de 238,30% para 239,77% ao ano. No caso do cheque especial, a alta da Selic fará a taxa de juros subir de 138,18% para 139,24% ao ano.

As operações de crédito em bancos e financeiras também ficarão um pouco mais caras para o consumidor. A taxa de juros média do crédito direto ao consumidor (CDC) oferecido por bancos para a compra de automóveis subirá de 34,17% para 34,80% ao ano. Já o empréstimo pessoal realizado em bancos passará de 76,94% para 77,75% ao ano. Nas financeiras, os juros médios dos empréstimos pessoais passarão de 213,16% para 214,53% ao ano.

Na prática, as altas projetadas indicam pequenos aumentos, em reais, para o consumidor. De acordo com Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac, com a Selic em 10,75% ao ano, o consumidor que for financiar a compra de uma geladeira em 12 vezes (zero de entrada mais 12 prestações) pagará parcelas mensais de R$ 178,13 (juros de 5,92% ao mês ou 99,40% ao ano). Antes da mudança, com a Selic em 10,25% ao ano, as prestações eram de R$ 177,74 (5,88% ao mês ou 98,50% ao ano).

Entre as pessoas jurídicas, o impacto do aumento da Selic também será pequeno. Nos cálculos da Anefac, a taxa média de juros em operações de capital de giro subirá de 46,10% para 46,78% ao ano. Os juros das linhas de desconto de duplicatas passarão de 46,27% para 46,96% ao ano. Em operações de desconto de cheques, a taxa média irá de 47,47% para 48,16% ao ano. No caso da conta garantida, a taxa subirá de 82,90% para 83,73% ao ano.

Em uma operação de capital de giro no valor de R$ 50 mil com prazo de 90 dias, exemplifica a Anefac, uma empresa pagará, após o aumento da Selic, R$ 5.035,15 de juros (taxa de 3,25% ao mês ou 46,78% ao ano). Com a Selic anterior, o encargo era de R$ 4 971,22 (3,21% ao mês ou 46,10% ao ano).

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