Cérebro tem ‘circuito de backup’ para aprender a ter medo

10/08/2010 09:23

O “centro do medo” no cérebro não precisa estar funcionando para que um animal aprenda a ter medo, dizem pesquisadores da UCLA Research Institute, nos Estados Unidos. De acordo com resultados de um novo estudo realizado em ratos, se a região for danificada, outra área pode tomar as rédeas e permitir que o cérebro continue a registrar o medo vinculando-o às memórias emocionais. Os resultados foram publicados na revista Proceedings of National Academy of Sciences.

Mas essa região do cérebro vai assumir a função apenas quando a região relacionada com o medo, a amígdala, não estiver funcionando, dizem os pesquisadores. “Quando a amígdala não está funcionando, de repente outra área tem uma espécie de ‘estalo’ e tenta assumir a função e compensar a perda da amígdala”, disse o professor de psicologia e membro do grupo de pesquisas do cérebro da UCLA, Michael Fanselow, em entrevista ao site Live Science.

Este tipo de compensação pode ocorrer também em outras partes do cérebro. Quando uma área crucial perde a sua função, outra pode ser utilizada para compensar isso.

Essa descoberta pode ter grandes resultados. Se os investigadores puderem encontrar uma maneira de promover essa compensação poderiam ajudar, por exemplo, as pessoas que danificaram a memória, tais como aqueles que sofreram um acidente vascular cerebral ou desenvolvimento de Alzheimer. “O que nós queremos poder fazer é usar esse conhecimento para responder à pergunta: existem maneiras de estimular essas outras áreas que normalmente não fazem determinada função, para que possam compensar o mau funcionamento de outras?”, disse Fanselow.

Memórias emocionais
Nós tendemos a pensar de uma memória como um bloco único – todos os detalhes e emoções são ‘guardados’ juntos. Mas, na verdade, o cérebro armazena diferentes partes da memória em diferentes locais. A amígdala é responsável pela parte emocional de uma memória. Ela também ativa a resposta do corpo ao perigo.

Os trabalhos anteriores realizados por Fanselow e seus colegas mostraram que ratos com amígdalas danificadas podem formar memórias de medo depois de muitas tentativas. No entanto, eles não sabem qual a região do cérebro que assumiu a função.

Eles suspeitaram que quem assuma as funções seja o centro conhecido como ‘bed nuclei’, que está ligado a muitas das mesmas partes do cérebro que a amígdala. Para testar sua teoria, eles criaram lesões no cérebro de ratos, projetada para interromper o funcionamento da amígdala, do bed nuclei ou de ambos.

Os ratos foram ensinados a temer uma gaiola que lhes dava um choque elétrico. Os ratos eventualmente ‘congelavam’ de medo quando eram colocados na gaiola, lembrando-se do choque.

Contudo, os ratos com lesões em ambos – na amígdala e no bed nuclei – congelavam significativamente menos do que os ratos com lesões em apenas uma destas áreas do cérebro. Além disso, os ratos com lesões únicas, eventualmente, se comportavam quase como ratos normais, enquanto que ratos com duas lesões (na amígdala e no bed nuclei), sempre mostravam prejuízo na aprendizagem do medo.

Compreendendo os transtornos de ansiedade
As descobertas podem ter implicações para a compreensão de medo e ansiedade. Os investigadores disseram acreditar que a amígdala envia uma mensagem de “eu estou trabalhando” ao bed nuclei e se o sinal é, de alguma forma, prejudicado ou interrompido, o cérebro pode ter uma reação de medo exagerada.

“Se a pessoa que tem problemas na comunicação entre as duas regiões está em uma situação muito assustadora, a resposta ao medo não vai ser restrita apenas à amígdala, mas essas outras regiões, como o bed nuclei, serão envolvidas na produção de respostas de medo também. Ela então terá dois circuitos envolvidos na produção da resposta ao medo”, disse Fanselow.

Se a mensagem da amígdala com interferência for o problema, então de alguma forma melhorar o sinal poderia ajudar a apagar as desordens psíquicas relacionadas ao medo. No entanto, dizem os cientistas, é necessário mais pesquisas para descobrir se esta hipótese é verdadeira.

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