Consumidores vão à Câmara denunciar propina por água

09/11/2010 09:13

Moradora do Jardim Universitário, a enfermeira Nilene Duarte, 49 anos, afirmou ontem, em depoimento à Comissão Especial, na Câmara Municipal de Cuiabá, que pagou para servidores terceirizados da Companhia de Saneamento (Sanecap) para não ter o abastecimento de água cortado. “A última vez foi há um mês, no valor de R$ 100”, afirmou a consumidora.

Nilene Duarte foi uma das sete pessoas ouvidas pela comissão que investiga as denúncias de irregularidades no sistema de abastecimento de água na Capital. Em seu depoimento, ela relatou que vem enfrentando problemas relacionados ao fornecimento do produto desde o fim de 2007.

Em um mês, o valor da conta de água, que era de R$ 76, saltou para R$ 162. Nos últimos três anos, a enfermeira, que atualmente mora sozinha, vem recebendo cobranças mensais com valores acima de R$ 600.

A consumidora hoje está com uma dívida de R$ 7 mil junto à Sanecap. Nilene Duarte contou que foi orientada por funcionários da Companhia a instalar equipamentos como papa-vento antes do hidrômetro para eliminação do ar na tubulação, problema que estaria ocasionando as variações no valor da conta. “Eu e vários outros moradores instalamos o papa-vento e não mudou nada”, disse. Ela juntamente com outros moradores já recorreu aos órgãos de defesa do consumidor, além do Ministério Público do Estado (MPE).

Síndico do condomínio Topázio, no Terra Nova, Néio Lúcio Monteiro Lima contou que os moradores do conjunto habitacional enfrentaram a falta de água por dois meses. Nesse período, os moradores desembolsaram R$ 10 mil para comprar o produto de empresas que trabalham com caminhão-pipa. “As alegações eram desde a falta de chuva a quebra de cano”, comentou. Porém, após as denúncias que chegaram à Câmara Municipal dando conta da existência da “máfia da seca”, o abastecimento foi normalizado.

Já a consumidora Regiane Oliveira, do Altos da Serra, comentou que chegou a pagar até R$ 50 para cada mil litros de água à empresa de caminhões-pipa. Ao ser indagada pelo relator da comissão, vereador Antônio Fernandes (PSDB), ela disse que desconhecia a origem (procedência) do líquido. Porém, comentou que é comum caminhões de firmas particulares ficarem parados próximos do reservatório da Sanecap, que fica no Novo Mato Grosso. No local, os veículos seriam abastecidos e a água, revendida à população. Regiane também confirmou que no bairro há caso de mulheres que abortaram por ter que carregar ou buscar água em locais distantes.

Outras denúncias feitas ao presidente da comissão, Toninho de Souza (PDT), dão conta de que funcionários ligados a Sanecap estariam trabalhando a favor de empresas de caminhões-pipas. O esquema funciona por meio de manobristas, responsáveis pela liberação do líquido para determinados bairros em dias e horários programados.

As manobras visam o bloqueio da água para alguma comunidade que, sem alternativa de abastecimento público, recorre às empresas de caminhões-pipas. Situação como esta estaria ocorrendo no bairro Serra Dourada, onde há três anos e meio a chave de manobra da bomba para abastecimento está nas mãos do presidente. Mas, este é um procedimento que deve ser feito por um funcionário da Companhia. “São denúncias fortes e graves por parte da população da prática de se cobrar de tudo, cobrar para não ter o abastecimento cortado ou para fornecer a água”, frisou.

Os depoimentos à Comissão Especial da Câmara vão ser retomados hoje à tarde. Na ocasião, vão ser ouvidos servidores da Sanecap. Amanhã, no período matutino, prestam esclarecimentos funcionários de empresas de caminhão-pipa. As oitivas terminam na sexta-feira, quando deverá depor o ex-presidente da Sanecap, Carlos Roberto Costa.