09/01/2011 09:35
O preço do litro do etanol combustível atingiu seu pico em três anos – R$ 1,97 – e já faz com que a gasolina seja mais vantajosa para o bolso do consumidor cuiabano em muitos postos de Capital e Várzea Grande. Como o etanol rende menos nos veículos flex fuel, seu preço precisa chegar a, no máximo, a 70% do valor da gasolina para valer à pena. Contudo, os preços médios de mercado apontam para o litro da gasolina em R$ 2,76 e do hidratado a R$ 1,97, representando 71,37%.
Os motoristas têm percebido que a vantagem do derivado da cana-de-açúcar acabou e que, de agora em diante – ou, pelo menos, até os preços do etanol baixarem com a chegada da safra – a melhor opção é abastecer com gasolina, que tem uma queima melhor e oferece maior autonomia de quilometragem, ou seja, mais quilômetros rodados por litro de combustível.
Para saber que combustível vale à pena neste período de entressafra da cana-de-açúcar, basta dividir o preço do litro do etanol exposto pelo posto pelo da gasolina. Para haver vantagem ao etanol o resultado da divisão deve indicar um resultado abaixo de 70.
Nos últimos dias, a estudante de enfermagem Ana Paula Melo aumentou seus gastos com combustíveis. Ela mora no bairro Pedra 90, região do Grande Coxipó, e freqüenta a Univag, em Várzea Grande. O percurso, de quase 60 quilômetros (ida e volta), é feito em carro flex abastecido com etanol, mas os R$ 113 que costumava gastar semanalmente já não rendem tanto quanto antes: “Para abastecer, estou tendo de completar com o dinheiro do meu pai. O álcool está muito caro e, de fato, a gasolina é mais atraente”.
As distribuidoras de combustíveis atribuíram a alta nas bombas aos reajustes de preços de venda do produto feito pelos usineiros. Segundo Alísio Vaz, vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), as distribuidoras estão apenas repassando os reajustes feitos pelos produtores de álcool. “Mas a tendência não é de os preços continuarem subindo, e sim de ficarem estabilizados num patamar um pouco alto”.
Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Única, entidade que reúne os produtores de açúcar e álcool da região Centro-Sul do país, diz que os preços maiores refletem um cenário mais equilibrado para o setor do que foi em 2009. “O setor foi afetado pela crise mundial de 2009, que fez subir o custo do crédito e forçou os produtores a vender o etanol a qualquer preço para se capitalizar”, justifica.
O empresário do setor de combustíveis, Paulo Ramos, explica que por ser um combustível oriundo da lavoura, o etanol sofre variações no período da safra. “Por isso acho que os preços podem ainda apresentar oscilações até o início da próxima safra. Poderemos ter mais surpresas nesta entressafra caso as usinas tenham problemas ou mesmo perdas de qualidade com o excesso de chuvas nas lavouras no período da colheita”.
MEDIDAS – Enquanto em Mato Grosso os consumidores não têm uma explicação convincente sobre os motivos da alta do etanol na bomba, em Brasília o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, afirmou que, assim que possível, o governo federal chamará os usineiros para avaliar os motivos da alta dos preços do etanol hidratado, utilizado nos veículos flex, e anunciar medidas. “Vou conversar com o setor e quero expressar que o governo não está satisfeito”, disse o ministro.
Entre as medidas para pressionar a queda nos preços do hidratado, o governo cobrará a oferta de estoques que foram financiados com os mais de R$ 2 bilhões liberados pelo setor público no ano passado. O governo financiou a estocagem justamente para enxugar a oferta durante a safra de cana-de-açúcar no Centro-Sul, quando o produto é abundante. Uma forma de segurar a tradicional queda durante a safra e assim, manter os preços estáveis. A idéia é que o volume seja colocado no mercado durante a entressafra, que começou em dezembro.
Ainda de acordo com Rossi, “o governo tem uma preocupação com a incapacidade do setor produtivo de manter preços estáveis”, e com o fato de, nas entressafras, os consumidores de etanol com veículos flex migrarem para a gasolina. “Sei que há uma variação normal no mercado, mas no caso específico do etanol de cana-de-açúcar isso é levado ao extremo”, disse o ministro.