16/01/2011 11:47
Em um país cotado para assumir a quinta economia mundial e em um estado também chamado de tigre brasileiro, em alusão aos asiáticos, com crescimento de até 10% anualmente, algum setor poderia andar para trás? Sim, a cultura. Mesmo contestado pelos números brutos de incremento de 50% no orçamento da LDO, a cultura caiu em relação ao total do PIB em porcentagem.
Apesar das inúmeras manifestações de apreço pela cultura mato-grossense, apesar deste segmento exportar hoje tecnologia de inclusão social, de envolver inúmeros empregos diretos e indiretos e atuar com áreas tão transversais como a saúde, o turismo e a educação o que vemos é um aumento da demanda e um comprometimento da receita com gastos como folha de pagamento e manutenção da secretaria que até alguns anos atrás não entravam na conta do Fundo de Cultura.
A Literamérica foi aposentada. O Salão Jovem Arte abandonado. O Festival de Cururu e Siriri e o carnaval em constante ten$ão. Resolvemos perguntar a algumas pessoas e ao secretário de Cultura estadual o que poderíamos esperar para 2011.
Este retrocesso que mencionamos está presente nos números, o orçamento da cultura continua na casa dos vinte milhões o que representa percentualmente apenas 0,21% do orçamento do estado. Em uma matéria “recente” (Jan/2009) analisamos os números da cultura no triênio anterior, quando MT investiu em 2005, 2006, 2007 respectivamente 0,45%, 0,54% e 0,59% do seu orçamento na pasta. Para arredondarmos e facilitarmos a conta 0,6% do orçamento corresponderia hoje aproximadamente a R$ 67 milhões.
Conversando com o maestro Fabrício Carvalho, que inclusive foi cotado para ocupar a SEC, vemos uma luz no fim do túnel. E esta de certa forma foi a percepção dos entrevistados. O maestro salienta que: “o momento é de organizar o sistema estadual de cultura, despersonalizando, não é o Malheiros, fulano ou sicrano. É preciso ter o Plano Nacional de Cultura (PNC) como referência e construir o quanto antes um Plano Estadual”. Para o maestro, o Conselho de Cultura não pode ficar reduzido a aprovar projetos, mas também deve sentar com o governador e o secretário para discutir metas e afinar as ações estaduais com o PNC. Hoje, continua o maestro, “o BNDES e as estatais estão com recursos para investimentos culturais, deveríamos buscar uma aproximação com a Agecopa no sentido de viabilizar ações de formação e capacitação por meio da cultura utilizando-se destes recursos, por exemplo.”
Benedito Nunes, artista plástico consagrado, tem expectativas mais modestas e acredita que “se a SEC conseguir tirar o enorme acervo que tem em seu porão e colocar no Pavilhão das Artes (Palácio da Instrução) instituindo ali uma Pinacoteca, já seria um grande feito”.
O diretor de teatro, Flávio Ferreira, que há anos labuta na área e inclusive auxiliou na luta e na redação pela lei de incentivo à cultura acredita que houve avanços significativos de 1990 para cá. Para Flávio o estado cresceu e a cultura também. “É claro que ainda temos problemas. Cuiabá é a única capital do país que não possui um teatro municipal.” Flavio crê que a cobrança aos políticos deve ser mais eficiente e que os incentivos devem ser para àqueles que não têm condição de pagar pela cultura. Para o diretor a cultura através das artes (dança, teatro, música, etc.) deve adentrar as escolas.
O produtor cultural Paulo Traven esta entusiasmado com a movimentação do setor. Para Paulo as pessoas que fazem a cultura no estado estão mais maduras e pretendem sentar com o poder público para discutir um sistema estadual de cultura para Mato Grosso. “Vejo que os recursos são pequenos para a demanda, mas mais do que dinheiro falta método e conhecimento da área”. Paulo que já foi conselheiro no biênio 2006/2007 argumentou sobre a queda brutal do segmento audiovisual que ele trabalhou. “Em 2007, o segmento teve 1,180 milhões de reais, no ano passado foram 360 mil reais”.
Todavia, o secretário estadual de Cultura João Malheiros explica que na verdade o orçamento da cultura aumentou 50%. “No ano passado a cultura iniciou o ano com 16 milhões e este ano inicia com 24 milhões” disse Malheiros salientando que dentro deste valor estão todos os custos da secretaria como folha de pagamento, manutenção dos espaços culturais e ações. Por isso mesmo o secretário afirma que mesmo valorizando a cultura com este incremento ainda é pouco dinheiro e a sua intenção é: “preparar os projetos aqui e buscar recursos em Brasília e junto com os deputados estaduais também.” Outra necessidade imprescindível segundo Malheiros é a aproximação com a Agecopa (740 milhões de orçamento) onde estão amigos próximos como Yuri, Roberto França, Carlos Brito, Yenês, “gente nossa que temos facilidade no diálogo para aproveitar e alavancar a cultura no estado a caminho da Copa do Mundo de 2014.”