27/01/2011 11:14
Na safra 2010/11, cujo plantio termina neste mês, o empresário deverá cultivar uma área de 105 mil hectares da pluma em Mato Grosso, a maior já ocupada por um único produtor no país.
Scheffer é presidente do grupo Bom Futuro, com sede em Rondonópolis (MT) e que em 2010 faturou R$ 1 bilhão o com cultivo de soja, milho e algodão, entre outras atividades “periféricas” – como a criação de peixes que, em suas palavras, “é coisa pequena”.
Mais do que o maior produtor de algodão do país, Scheffer está abrindo cada vez mais distância em relação aos “concorrentes” com os quais disputou a liderança nas últimas temporadas. Na pluma, o vice-reinado é da companhia SLC Agrícola, que na safra passada plantou 63 mil hectares e que neste ciclo avançará para 85 mil.
O preço do algodão em níveis jamais vistos alimentou a euforia com a commodity, e os crescimentos de Scheffer e SLC não são exceção. A A.Maggi, do ex-governador Blairo Maggi, mais que dobrou seu cultivo, de 13,7 mil hectares para 30 mil. Walter Horita, um dos maiores produtores do oeste baiano, também baterá o próprio recorde, com 25 mil hectares cultivados, ante os 19 mil da temporada passada. Outro que cresce é o Grupo Maeda, que deve concluir o plantio de 19 mil hectares da pluma, 10 mil a mais.
Em todo o Brasil, a área da pluma deverá aumentar impressionantes 45%, de 835 mil hectares para 1,2 milhão de hectares, a maior em 19 anos. Percentualmente, Scheffer vai crescer ainda mais do que a média nacional. Como em 2009/10 ele ocupou 70 mil hectares, o salto para 105 mil representa um incremento de 50% – um movimento que poucos conseguem realizar tão rapidamente devido aos pesados investimentos em tecnologia necessários nas lavouras.
A operação exigiu de Scheffer um dinamismo difícil de medir, mas que talvez ajude a explicar sua biografia. Ele chegou há mais de quatro décadas em Mato Grosso para trabalhar com o tio, André Maggi, mas logo tomou um caminho próprio e hoje é dono, em sociedade com dois irmãos e um cunhado, de um império formado por 350 mil hectares entre soja, algodão e milho.
Para crescer 35 mil hectares de uma safra para a outra com o menor gasto possível, Scheffer fez um mix entre aquisição e aluguel de colheitadeiras, que são máquinas de alto valor agregado que não podem ser usadas em outras culturas, apenas no algodão. A partir de um investimento de R$ 50 milhões, o empresário comprou 15 novas colheitadeiras, o que elevou sua frota própria para 120 máquinas, e adquiriu outros equipamentos agrícolas complementares. Com esses recursos Scheffer também expandiu da capacidade de beneficiamento da pluma (descaroçamento e enfardamento) do grupo.
Outras 20 colheitadeiras foram alugadas para a ampliação da área. E a colheita de uma área de 10 mil hectares foi terceirizada, em mais uma tentativa de reduzir a necessidade de investimento nas máquinas de colher algodão.
Mas o pulo do gato, segundo Scheffer, foi a “reacomodação” da área plantada para “fora” das “janelas tradicionais” de plantio. O que significa dizer que, da área adicional, uma parte foi plantada um mês antes e outra parte um mês depois do intervalo convencional de plantio, que é de 15 de dezembro a 5 de janeiro.
“Com isso, conseguimos administrar a logística das plantadeiras, das colheitadeiras e da unidade de beneficiamento”, explica. O risco, reconhece, também aumenta. Nessa estratégia, se houver atraso nas chuvas as variedades mais precoces perdem boa parte de sua produtividade. A disposição para correr riscos, no entanto, é sustentada pelos preços, que na bolsa de Nova York rondam máximas em 140 anos. Ontem, na bolsa americana, o contrato para maio voltou a subir, 500 pontos, e fechou a US$ 1,5933 por libra-peso, mais que o dobro do que estava há um ano.
Com rentabilidade bem superior a da soja, o algodão avançou, em grande parte, sobre a área da oleaginosa, conta Scheffer. Também por causa da estiagem em setembro em Mato Grosso, que atrasou o plantio do grão, a área do empresário com soja “limitou-se” a 200 mil hectares, ante os 220 mil do ciclo anterior. A safrinha de milho, que em 2009/10 ocupou 60 mil hectares, também perdeu espaço para a 2ª safra de algodão e será de 45 mil hectares. Antes do novo recorde, Scheffer havia plantado no máximo 75 mil hectares de algodão, há cinco anos.