Otimismo moderado volta ao Fórum Econômico Mundial em ambiente pós-recessão

30/01/2011 19:27

A máquina da economia global voltou a funcionar. Entretanto, a lista de riscos não é pequena e a inflação vem como o principal perigo do momento. O Fórum Econômico Mundial terminou neste domingo (30) em Davos (Suíça), com um tom mais animador do que o esperado. Executivos se surpreenderam, por exemplo, com as perspectivas positivas para a atividade dos Estados Unidos.
O colunista do diário britânico especializado em economia Financial Times, Martin Wolf, disse que, “no geral, a sensação é de que conseguimos passar pela crise”.
Não há dúvida de que os emergentes puxam a retomada, engatando velocidade considerada até perigosa. Um número apresentado em Davos deixa clara a disparidade de desempenho entre as economias: desde 2005, os emergentes acumulam crescimento econômico de 45%, enquanto os países avançados praticamente estagnaram no período (alta de 5%).
O aquecimento emergente e o excesso de liquidez em circulação, fruto dos juros extremamente baixos no exterior, criam o atual ambiente inflacionário. O economista da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Yu Yongding, disse que a maior preocupação na China é uma “bolha no mercado imobiliário, porque a demanda por casas é tremenda”.
Preços dos alimentos
A disparada dos preços dos alimentos e da energia gera tensão mundo afora, trouxe muitos alertas sobre a possibilidade de choques e acabou parando no centro da agenda do G20 (grupo formado por representantes de países ricos e dos principais emergentes).
O presidente da França, Nicolas Sarkozy, que lidera o grupo neste ano, fez um firme discurso contra a especulação com matérias-primas. Ele defende a imposição de regras para aumentar a transparência do mercado e limitar os solavancos dos preços – tema que começa a ser discutido na reunião ministerial do G20 nos dias 18 e 19 de fevereiro, em Paris.
O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, alertou, por sua vez, para os desafios imediatos para a economia: superaquecimento, inflação e surgimento de bolhas. Os emergentes também enfrentam a valorização de suas moedas frente ao dólar, resultado do enorme fluxo de investimentos que recebem.
O vice-presidente da Comissão de Planejamento da Índia, Montek Singh Ahluwalia, afirmou que há uma enorme oferta de dinheiro no país e que o governo não está satisfeito com esse dinheiro de curto prazo.
Dívidas
A crise de dívida soberana na Europa também aparece como fator de cautela. As principais lideranças do continente vieram a Davos para tentar transmitir uma mensagem de confiança e mostrar vontade política para resolver os problemas. Sarkozy e a chanceler alemã Angela Merkel fizeram uma forte defesa do euro. O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, passou a mensagem de austeridade que marca seu governo, como forma de reduzir o saldo negativo nas contas públicas.
Ausentes nos últimos anos, os banqueiros retornaram a Davos, sem deixar de criar polêmica. Houve inclusive troca de farpas com políticos. Sarkozy manteve o tom crítico em relação às instituições financeiras, o que não foi bem recebido pelo presidente do JP Morgan, James Dimon.
Em outro momento, o presidente do Barclays, Robert Diamond, disse que os banqueiros vieram a Davos para agradecer às autoridades por tudo que estavam fazendo pelo sistema financeiro. Ouviu uma resposta imediata e direta da ministra de Finanças da França, Christine Lagarde: ela disse que a melhor forma de agradecer era voltando a emprestar e fortalecendo o capital do banco.
A participação do Brasil foi bastante tímida. O governo veio representado pela equipe mais técnica enviada pela presidente Dilma Rousseff, com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desemnvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, e o ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, todos pela primeira vez em Davos.
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