15/03/2011 08:42
Soja e milho, duas das principais commodities agrícolas de Mato Grosso, correm sério risco de perdas na safra 10/11, apesar das previsões de um novo recorde de produção, conforme projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O motivo é o excesso de chuvas que cai sobre Mato Grosso há várias semanas e que inviabiliza os trabalhos no campo, como a colheita da soja e o plantio do milho.
O oeste mato-grossense – principalmente as lavouras de Sapezal e Campos de Júlio – é a mais crítica. As estimativas dos produtores das duas cidades são de que pelo menos 30% da soja apresentem algum tipo avaria causada pela umidade e retardo da colheita. Por outro lado, o plantio de milho que está sendo feito fora da janela ideal – encerrada no dia 28 de fevereiro – aumenta as preocupações com o desempenho desta safra e acende a luz vermelha para o produtor.
“Ainda não podemos mensurar perdas. Vai depender da continuidade das chuvas. Se elas continuarem por mais uma semana, os prejuízos vão se concretizar para os produtores, alterando as projeções de colheita para a soja e milho. Este é o segundo pior ano da história para a colheita de soja em nosso Estado, só perdendo mesmo para 2004”, afirma o diretor administrativo da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja/MT), Carlos Henrique Fávaro. Segundo ele, o plantio de milho está paralisado há quase uma semana.
“Tudo o que se plantar de agora em diante é de extremo risco. Muitos produtores já estão reavaliando se irá valer a pena ou não plantar fora da janela ideal, período que garante o melhor desenvolvimento da planta. A verdade é que todos estão rezando para a chuva dar uma trégua no Estado, permitindo a continuidade da colheita de soja e o plantio do milho”.
NO CAMPO – Segundo levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), até ontem, 50% da área de soja, cerca de 3,2 milhões de hectares haviam colhidos, de um total de 6,41 milhões de hectares. O volume de hectares já “desocupados” pela soja é mais do que suficiente para abrigar as sementes de milho, “mas colher está difícil, plantar é impossível”, frisa Favaro.
Além do atraso na colheita, o excesso de chuvas começa a prejudicar a qualidade da soja na entrega. A tabela de umidade é progressiva e acaba corroendo a margem de rentabilidade do produtor. Segundo ele, a percentagem de grãos avariados – ardidos e úmidos – em várias regiões do Estado chega a 30%, representando prejuízo certo para o sojicultor na hora de entregar o produto às tradings. “Temos relato de avarias de até 50% dos grãos em uma lavoura de mil hectares na região de Brianorte (400 quilômetros ao médio norte de Cuiabá)”, informa Fávaro. “O momento é realmente crítico e o que é preciso é sermos abençoados com uns dias de sol”.
Ele relata ainda que o município de Nova Mutum (269 quilômetros ao norte de Cuiabá) está com 50% de toda sua área de soja colhida e outros 50% prontos para colher. “Só que esta área já está passando do ponto de colheita, ou seja, a soja está correndo o risco de arder ou umedecer ainda mais. Provavelmente, nessa região vamos ter perda. E, se continuar chovendo nas proporções atuais, a situação vai se agravar ainda mais”. Ontem pela manhã, apareceu sol entre nuvens na região da BR-163 – onde se concentra a produção estadual de soja e milho – e muitos produtores tinham expectativas de retomar a colheita.
MILHO – No boletim de acompanhamento divulgado ontem, o plantio do milho evoluiu – mesmo fora da janela ideal – a atingiu 91,3% da área estimada. Assim, dos 1,80 milhão de hectares que deverão ser semeados, cerca de 1,6 milhão estariam cultivados. Na comparação com o plantio observado há exatamente um ano, o atraso é de apenas 7,8 pontos percentuais. No ano passado, neste mesmo período, o milho estava todo plantado.
O problema, segundo analistas, é que as freqüentes chuvas “continuam atrapalhando o plantio nas regiões produtoras, principalmente a região oeste, onde o atraso do plantio em relação ao ano passado é de 17,4 pontos percentuais e é onde está o maior atraso”.
Já a região médio norte, que sozinha concentra cerca de 50% da produção estadual do milho safrinha – principalmente Sorriso e Lucas do Rio Verde – o plantio não está concluído, como em anos anteriores. “Atrasos como este costumam levar preocupação com a oferta futura do cereal devido aos riscos existentes no plantio tardio, principalmente em março”, alerta o Imea.