23/03/2011 09:03
As autoridades dizem que não há perigo imediato, mas os níveis de radiação lançados pela central nuclear de Fukushima – palco do segundo maior acidente da história da energia atómica – estão a causar uma crescente ansiedade no Japão e no exterior.
Concentrações elevadas de elementos radioactivos foram detectados a 40 quilómetros da central de Fukushima, severamente afectada pelo sismo e tsunami de 11 de Março no Japão. Segundo dados do Ministério da Ciência japonês, a radiação libertada pelo iodo radioactivo encontrado no solo é 430 vezes superior aos valores normais.
Pessoas que permaneçam durante um ano nos pontos onde foram colhidas as amostras estariam sujeitas a quatro vezes o limite de radiação admitido para a saúde humana, segundo Keigo Endo, professor da Universidade de Gunma, citado pela televisão japonesa NHK.
Ontem, foram detectados também níveis elevados de iodo e césio radioactivo na água do mar, próximo da central de Fukushima. Também há excesso de radioactividade na água da torneira e em alguns alimentos nalguns pontos da província de Fukushima.
O Governo assegura que os níveis encontrados não representam risco imediato para a saúde. Mas a venda de alguns produtos da região – como leite e espinafres – foi suspensa. As autoridades japonesas pediram também a províncias a Leste de Tóquiopara reforçarem o controlo e os programas de inspecção dos produtos pescados ao longo das suas costas. A agência japonesa das Pescas lembrou, no entanto, que muitas das infra-estruturas locais ficaram destruídas pelo tsunami e que os pescadores ainda não retomaram o seu trabalho.
Vestígios de radiação em França, Islândia e EUA
Entretanto, a pluma de poeiras radioactivas está-se a espalhar, tendo chegado a outros países – como França, Islândia e Estados Unidos – embora com concentrações muito reduzidas.
A agência francesa de meteorologia e o seu Instituto de Radioprotecção e Segurança Nuclear (IRSN) têm feito simulações da evolução da pluma, para acompanhar a situação. Segundo o IRSN, a quantidade de materiais radioactivos lançados por Fukushima desde o início da crise equivale a 10 por cento da nuvem causada pelo acidente de Tchernobil, em 1986. As consequências práticas da radiação, diz porém o IRSN, “dependem fortemente das condições meteorológicas”.
A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) confirmou hoje que a central nuclear continua a libertar radioactividade. “Continuamos a observar a radiação a sair do local. A questão é: exactamente de onde é que está a vir”, disse um representante da agência, James Lyons.
De acordo com a AIEA, as estruturas de confinamento dos reactores da central não terão sido fortemente danificadas pelas explosões verificadas na última semana. Mas não se sabe se a radioactividade vem do núcleo dos reactores ou das piscinas que armazenam o combustível usado.
Ondas de 14 metros
Segundo a empresa Tepco – operadora da Fukushima – as suas centrais nucleares naquela província foram atingidas por uma onda com 14 metros de altura, no dia 11 de Março. O máximo esperado eram ondas entre 5,2 e 5,7 metros. Os edifícios dos reactores e turbinas situam-se em locais a dez e 13 metros acima do nível do mar e ficaram parcialmente inundados. Os geradores e os sistemas eléctricos foram danificados, impedindo o funcionamento dos sistemas de arrefecimento.
A Tepco reconheceu que subestimou o sismo, estimando em 8 a sua magnitude (foi na realidade de 9 na escala de Richter). O vice-presidente da empresa, Norio Tsuzumi, pediu desculpas durante uma visita a um centro de abrigo para as pessoas que tiveram de fugir por causa das radiações. “Lamentamos ter-vos causado tanto sofrimento”, disse o responsável, citado pela agência japonesa de notícias Kyodo.
Enquanto isso, as equipas de emergência continuam a lutar para estabilizar a central de Fukushima. Novas nuvens de fumo nos reactores 2 e 3 indicaram, hoje, que a situação continua instável.
Grandes quantidades de água voltaram a ser lançadas sobre as piscinas de combustível usado nos edifícios dos reactorers 3 e 4. Um camião com um braço articulado de 50 metros de extensão – normalmente utilizado para betonagem na construção civil – começou a ser empregue hoje para injectar água nos reactores. Um outro camião, com um braço de 62 metros, também está a caminho de Fukushima, vindo da China.
Todos os reactores estão já conectados a fontes externas de electricidade. Em dois – os reactores 2 e 3 – a electricidade foi efectivamente restabelecida, o que poderá permitir em breve reacionar os sistemas de arrefecimento das piscinas de combustível usado, que permanecem sendo a maior preocupação.
O ministro da Indústria, Banri Kaieda, disse hoje que a situação em Fukushima continua a ser “extremamente difícil”. “Não é fácil dizer que estamos a fazer progressos”, acrescentou, citado pela Kyodo.
fonte: ecosfera