20/04/2011 10:38
“Excesso de conservadorismo” foi a expressão mais em moda entre economistas, analistas financeiros, industriais ou sindicalistas para designar o Banco Central por muitos anos. A expressão parecia acompanhar o termo BC durante os governos de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva. Neste governo de Dilma Rousseff, porém, surgem novos adjetivos para indicar a atuação do BC, como “tolerante” e até “leniente” com a inflação.
Nesse clima de desgaste de credibilidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) define hoje o que pode ser o último aumento da taxa básica de juros por muito tempo, segundo alguns analistas. Pelo o relatório de mercado semanal, a maioria do mercado vê a Selic, atualmente em 11,75% ao ano, em 12,25% no fim do ano – taxa que será atingida se o BC subir o juro em 0,5 ponto hoje, como ocorreu na reunião anterior.
As críticas mais severas, de que há tolerância com a inflação e confiança excessiva na desaceleração da economia, têm sido manifestadas desde a ata da última reunião do Copom. Naquele texto, o BC sinalizou que os custos de se evitar uma inflação acima de 4,5% seriam “demasiado elevados” em termos de nível de atividade, ou seja, comprometeriam parcela relevante do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Outras pressões internas do governo, que colocou a inflação como inimiga pública número 1 deste início de mandato, também parecem interferir na decisão do BC.
Para o BC, nada mudou
Apesar disso, o Banco Central possui uma posição firme, de que a política monetária não mudou sob a batuta de Alexandre Tombini. O BC está confiante em que a inflação vai recuar no fim do ano e de que as chamadas medidas macroprudenciais – restrições ao crédito e à entrada de capital do exterior – vão funcionar no médio prazo. O ministro da Fazenda previu, na segunda-feira, inflação em 5,6% no fim do ano, acima da meta, de 4,5%, mas dentro do limite máximo de tolerância, de 6,5%.
Agora, porém, os analistas ficaram confusos, porque lidam com novos instrumentos que ainda não surtiram efeito e perceberam que o BC não se pauta mais apenas por atingir a meta de inflação, como quando era criticado por só olhar para esse indicador. Um mal-entendido na semana passada, com reportagem que depois foi desmentida, ajudou a azedar ainda mais essa relação entre BC e mercado.
É em meio a esses sinais conflitantes que o mercado se divide entre aqueles que esperam a alta de 0,5 ponto hoje e os que esperam aumento de 0,25 ponto – neste caso, sem que o ciclo de aperto monetário se encerre neste mês. Segundo as taxas futuras, porém, uma boa parte do mercado financeiro crê em aumento de 0,25 ponto na taxa hoje, seguida de novo aumento igual até o fim do ano.
Para o economista-chefe da SulAmérica, Newton Rosa, o BC de Dilma não alterou a política monetária, embora tenha tido uma inflexão em seu perfil. “Vemos um BC um pouco mais tolerante com a inflação, aceitando números acima do centro da meta, para manter um crescimento potencial do Brasil bom, em 5% ou 5,5% ao ano.” Rosa prevê que o BC suba o juro em 0,5 ponto hoje.
Período de agonia
No mesmo relatório de inflação divulgado segunda-feira, que aponta a Selic a 12,25% no fim do ano, há uma indicação de que o mercado está cada vez mais preocupado com a inflação. A expectativa para o IPCA em 2011 subiu pela sexta vez, para 6,29%.
Diferentes entes da equipe econômica têm indicado os próximos meses como de “agonia” ou “forte pressão” porque sabem que os índices de inflação ainda vão subir muito até chegar a taxa dentro do topo da meta de inflação no fim do ano, que é de 6,5% por conta dos dois pontos de tolerância. A confiança do BC de que o juro vai cair está clara na ata do último Copom, mas os índices de inflação ainda mostram alta persistente dos preços.
O certo é que essa aparente incerteza sobre o rumo da política monetária e as pressões do mercado financeiro sobre a credibilidade (ou falta de) da política monetária capitaneada pelo Banco Central eleva a oscilação da títulos no mercado financeiro e, por consequência, alimenta as variações que fazem lucrar muito os especuladores – desde que eles façam as apostas certas, pondera um economista.
fonte:IG