21/05/2011 11:08
O Secretário de Cultura do Estado de Mato Grosso, João Antônio Cuiabano Malheiros, participará do lançamento do livro “Riquezas Lícitas de Mato Grosso” de autoria da técnica aposentada da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Graci Ourives de Miranda. O lançamento ocorrerá no dia 26 deste mês às 18h30 no salão nobre do Palácio da Instrução (ao lado da igreja Matriz).
A publicação do livro é resultado de três décadas de estudos dedicados à planta Carapichea ipecacuanha conhecida historicamente como “poaia”. O livro aborda os tempos de glória da raiz e as apresenta para o público em 300 páginas juntando texto e belas fotos ilustrativas. A planta de nome científico Carapichea ipecacuanha possui em sua composição química substâncias que combatem tosse, bronquite, náuseas e vômitos. Outro benefício da raiz é a capacidade de desintoxicação porque ela favorece o efeito emético, ou seja, estimula o vômito expulsando o produto nocivo.
No livro a autora descreve após realizar pesquisas nos municípios de Barra do Bugres, Cáceres e Rosário Oeste o cotidiano do “Poaeiro” (nome dado a pessoa que se dedica à colheita da Ipecacuanha, também conhecida como Ipeca, poaia ou raiz-do-brasil). Também relembra as plantações da Ipeca no Estado e as rotula como “jardim edênico” iniciando desde a história da planta até os dias atuais o que ela classifica como “riquezas ilícitas da Fronteira Seca”. “Há 30 anos venho estudando a planta. Viajei para a Europa e Itália atrás de informações”, argumentou Graci Ourives.
Ela conta que no século 18 Mato Grosso já exportava a planta para a Europa e que ,“em 1800, a Ipeca fazia parte do quadro exportador do Estado, sendo importada de Barra do Bugres e Cáceres rumo à Europa”. Graci explica que uma das rotas de exportação partia pelo rio Paraguai, que possui navegabilidade pelo município de Cáceres, 215 km da Capital, passando por Corumbá, em Mato Grosso do Sul (MS), até a foz do rio Apa, que banha a fronteira entre o estado de MS e a república do Paraguai. A partir desse caminho, assim como muitos outros, a planta medicinal de origem brasileira ganhava o mundo. Na obra, Graci “brinca” com as condições em que a planta necessita para nascer e se reproduzir. “Chamo a Ipeca, carinhosamente, de lady, porque ela é especial e precisa de matas nativas para nascer”, revela Graci.
A autora informa que a ipecacuanha se desenvolve principalmente na América do Sul. “Em 1943, Corumbá era o rei da Ipeca. Com o passar do tempo tornou-se o rei do gado e agora da soja”, explica a escritora sobre o motivo do desaparecimento da Ipeca em Mato Grosso. “Recordo que até o ano de 2002 havia pequenas plantações de Ipeca em Barra do Bugres”. Diz, ainda, que a partir dos desmatamentos e da priorização da soja não foi mais dada a devida atenção à preservação a planta.
Como estudiosa do assunto, Graci Ourives objetiva, ao realizar a pesquisa, recuperar a plantação da Ipecacuanha no Estado, bem como fomentar, através do plantio, o resgate dos jovens envolvidos com o narcotráfico. “Há um grande motivo e importância para manter pelo menos uma parte dessa mata. Através da recuperação da biodiversidade, recuperaremos, também, os jovens tragados pelo narcotráfico das fronteiras, além da vida dessas pessoas, por meio do cultivo da plantação”. “Essa é a minha luta”, conclui a pesquisadora.
Fonte:Cultura/MT