Ricos gastam 28 vezes mais do que pobres para criar filho até a vida adulta

14/08/2011 09:13

Escola, curso de língua, tênis novo, cinema, passeio no shopping, balada, gasolina para o carro. A lista de gastos dos filhos é grande e, na maioria das vezes, quem paga é o paizão. Neste Dia dos Pais, fizemos as contas e mostraremos que os custos para criar os pimpolhos, do nascimento até o fim da faculdade, pode chegar a quase R$ 2 milhões, no caso de um pai rico. O número é 28 vezes mais do que pais pobres gastam com cada novo membro da família.
O valor se refere a todos os gastos de pai e mãe com educação, alimentação, transporte, lazer, saúde, vestuário e outros com um filho.
Uma família da Classe A, aquelas com renda mais alta e que não têm problemas para fechar as contas do mês, gasta pouco mais de R$ 1,9 milhão, o algo como R$ 6.900 em cada um dos 276 meses do zero aos 23 anos do filhote. Pelas contas, os gastos que mais pesam são os educacionais, que consomem cerca de R$ 713 mil.
Os filhos dos mais pobres, a chamada Classe D, dependem basicamente da escola pública (do ensino fundamental à universidade). Então os gastos com o filhote passam de R$ 63 mil no período, ou R$ 231 por mês por filho, sendo que a educação fica praticamente no zero – isto é, o investimento na educação dos mais pobres fica a cargo do Estado.
O especialista em finanças pessoais Adriano Amui, diretor do Invent (Instituto Nacional de Vendas e Trade Marketing) e responsável pelo estudo, reconhece que ter filho “é muito caro”, principalmente para os mais pobres. Mas a boa notícia é que mesmo eles já estão dando mais prioridade à educação.
– Há um movimento de crescimento de mais acesso aos estudos. Hoje, mais famílias enxergam a educação como investimento e estão aprendendo a dar mais valor a isso, porque elas percebem que é só ela que vai fazer o filho ser melhor.
A classe média-alta, chamado de grupo B, gasta R$ 1 milhão, dos quais R$ 435 mil vão para os estudos. A classe C dispende R$ 480 mil, dos quais R$ 219 mil são para educação.
Para o professor Sergio Bessa, especialista em finanças pessoais da FGV (Fundação Getulio Vargas), os valores são sempre aproximados porque retratam grupos sociais com renda muito distinta. Mas ele concorda que a educação é o que mais pesa na despesa de criar um filho.
– Há conscientização cada vez maior de as famílias darem aos seus filhos a melhor educação possível. Isto inclui um bom colégio, algum conhecimento de informática, e, se possível, um segundo idioma. Na periferia, os filhos começam a trabalhar cedo para se sustentar. Já os filhos de ricos não se contentam com uma faculdade e um MBA, por exemplo. E os pais vão entender que a criação vai estar completa só depois que ele passe uma temporada no exterior.
Emoção ou racionalidade
Amui, que também é professor de finanças na ESPM, diz que decidiu fazer a pesquisa em 2008 ao ver que não havia uma contagem do tipo que separasse os tipos de gastos dos pais com os filhos. Então ele analisou os gastos de 320 famílias dos mais diferentes grupos sociais e investigou seus hábitos para saber o que sugava o orçamento.
– Eu queria saber qual o potencial de consumo das empresas dessa área familiar e não encontrei um número que me satisfizesse. Isso ocorreu na mesma época do nascimento do meu primeiro filho. E foi uma experiência fabulosa. Li tudo o que podia a respeito e descobri que ser pai é uma coisa que tem a ver com emoção, não com racionalidade.
Em outras palavras, falar em pagar cursos ou poupar para a faculdade do filhão lá na frente é bastante difícil quando o pimpolho resolve que quer o brinquedo da moda ou quando o bebezinho começa a andar pela casa e precisa de um andador.
– O pai quase sempre vai comprar por impulso. E isso é o que movimenta esse setor de consumo, que vive pelo imediatismo. Os pais só passam a ser racionais só depois do segundo filho. O pai tem que escolher se vai comprar um tênis que vai custar caro e durar um mês para seu bebezinho, que nem anda, ou dar um padrão de educação maior.
É a justamente a formação dos filhos que move a família da microempresária Silvia de Oliveira. Mãe de dois meninos, ela faz as vezes de provedora da família, porque cria ambos sozinha. É uma mãe que é, ao mesmo tempo, mãe e pai.
– Sempre priorizei estudos, formação, porque é isso que faz a pessoa. Meu pai sempre falava que a herança que vou deixar é o estudo. Dinheiro você ganha, uma hora perde. A bagagem cultural, o ensinamento e a educação nunca são tirados. E é isso que vai permitir a eles enfrentar o mundão.
Ela diz que gasta em torno de R$ 3.500 por mês com colégio e faculdade, curso de línguas, natação e teatro. E não se preocupa em morar de aluguel, já que a formação dos filhos é mais importante do que “comprar uma casa própria”.
– Tem moradia e alimentação, mas educação é o principal. Eu não tive nem metade do que eles têm. Tem pai que faz a conta e opta por comprar a casa própria. Já eu prefiro trabalhar de 12h a 14h por dia para ajudar as crianças.
Extras e supérfluos
A pesquisa de Amui ainda mostrou que, diferentemente dos pobres, os ricos gastam com babá, mesada e dezenas de supérfluos que nem sempre vão fazer a diferença na vida do novo ser. Para ele, é mais importante fazer o filho gostar de ler, por exemplo, e aí sim gastar com livros, do que dar um notebook a um adolescente ou um carro caso passem na faculdade.
– Meus filhos tocam desde cedo. Um toca violão e o outro, piano. Isso tudo é caro, mas vai formar um cidadão melhor. Eles preferem ir para uma livraria a passear no shopping. Há quem pague futebol, natação, rúgbi, duas línguas, música e curso de eletrônica. Mas se a criança não tem tempo para brincar, não adianta. Eles não podem ter agenda de gente grande.
Bessa afirma que, mais do que o dinheiro empregado, é importante passar aos filhos as necessidades de adquirirem novos conhecimentos.
– Muitos não necessariamente podem ser aprendidos nas escolas. As informações hoje estão muito mais democratizadas que antigamente. Principalmente pela internet, onde podemos nos informar de praticamente tudo de graça. Temos que mostrar para os filhos onde eles mesmos podem se educar.
Amui defende que a renda, sozinha, não traz cultura. É preciso orientação dos pais para “ensinar com a mente, com o coração e com as mãos”, firma, parafraseando o educador francês Johann Heinrich Pestalozzi.
– O pai tem que refletir sempre sobre o seu filho. Cada criança é diferente. Não dá para projetar nela um modelo. Escutar e perguntar sempre faz parte e é importantíssimo, porque não os criamos para nós, mas para o mundo. Do ponto de vista financeiro, devemos procurar um equilíbrio entre a tentação e o impulso, que vão ser sempre muito fortes. Qualquer equilíbrio vai fazer bem para o bolso e não vai frustrar as emoções.

fonte: R7

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