O petismo e a desordem pública

27/08/2011 18:09

O PT retornou ao governo gaúcho montado na mesma estratégia que o galopou para a vitória anterior em 1998: através de uma atividade como oposicionista que fazia lembrar os assédios nas guerras medievais, quando se atacavam as fortificações adversárias por todos os lados, anos a fio, até a queda final de seus muros. Uma oposição sem limites. O objetivo era tomar o governo desacreditando moralmente quem o exercia, cobrando o pronto atendimento de todas as demandas sociais e exigindo a imediata satisfação de todas as reivindicações dos servidores públicos. Tarso Genro foi levado ao poder na crista dessa horda. É, eu escrevi horda, mesmo. Assumiu num dia e, no outro, jogou para o fim de seu governo, em 2014, o cumprimento das inúmeras reivindicações que seu partido suscitara, patrocinara e levara aos microfones e megafones oposicionistas no quadriênio anterior. Tudo foi catapultado de ontem para depois da Copa. Nesse meio tempo, queixem-se ao Papa. Quem não gostar do Papa tente com o Dalai Lama.

O resultado é que as reivindicações agora batem no Piratini por todos os lados. E é quase sempre pauta de companheiro, muitas vezes com aquele jeito petista de meter o pé na porta como se pé na porta fosse manifestação social.

Assim, por exemplo, quem poderia imaginar policiais militares da conceituada e histórica Brigada Militar gaúcha incendiando pneus nas rodovias, lançando fogo e rolos de fumaça negra aos ares, estragando o asfalto e paralisando o tráfego? Parece-lhe fácil admitir tais práticas como compatíveis com quem exerce atividade de preservação da ordem pública e proteção dos cidadãos? Claro que não. Tais procedimentos são usuais entre os inimigos da ordem, entre os que estão no outro lado da lei, entre os que tocariam fogo no circo todo se tivessem pneus em quantidade suficiente.

Os policiais militares do Rio Grande do Sul esperavam que o PT no poder fizesse o que cobrava na oposição. Eles acreditaram! Ganham pouco, querem aumento, foram enganados. E vão tocando fogo em pneus no leito de rodovias e vias urbanas. Os jornais desta manhã em que escrevo trazem foto e texto sobre uma reunião ocorrida ontem, sexta-feira, 26 de agosto, entre autoridades do governo gaúcho – chefe da Casa Civil e Secretário de Segurança Pública – e o presidente da associação que representa cabos e soldados da Brigada Militar. Não houve acordo, mas o representante dos policiais foi magnânimo e prometeu ao governo uma trégua. Nos próximos dias, os agentes da ordem não promoverão novas desordens. Saiu solto.

É assim que as coisas começam a ter explicação e que o surpreendente deixa de causar espanto. Passa a fazer sentido. Há um permanente desconforto moral no governo. O PT sabe que enganou a todos. Ademais, são filhos do mesmo ventre. São pedagogias da mesma escola. No anterior governo petista – o governo Olívio Dutra, de até hoje incorrigíveis efeitos – os mais agressivos e destrutivos movimentos sociais gaúchos ganharam contracheque, cargo público e infraestrutura paga pelos cidadãos. Invasões de terra recebiam proteção policial e as mobilizações dos proprietários em defesa de seu patrimônio eram tratadas como associações criminosas. Nada de mais, portanto, quando uma entidade de servidores que está promovendo tumulto em via pública seja chamada para negociar e que o governo extraia da reunião uma vitoriosa “trégua”.

Por: Percival Puggina (66) é titular do blog  www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

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