29/02/2012 09:35
Na próxima semana, José Carlos Grubisich pretende voltar pela primeira vez a Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, desde que assumiu oficialmente o comando da Eldorado Brasil, em meados do mês. É lá que a companhia, controlada pela J&F, mesma holding que dá as cartas no JBS Friboi – líder mundial na produção de carnes –, está construindo a maior fábrica de celulose do país, uma operação grande o suficiente para aumentar a capacidade instalada do país em mais de 10%, em uma tacada só. Segundo a empresa, 68% do cronograma de obras, orçado em R$ 6,2 bilhões, já foram concluídos. Mas, até novembro, quando a fábrica entrar em operação, será preciso garantir pedidos, matéria-prima e canais para escoar a produção.
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É nessas tarefas que Grubisich deverá se concentrar nos próximos meses. Na semana passada, o executivo ainda se dividia entre a nova casa e a sucessão na ETH, empresa de açúcar, álcool e energia do grupo Odebrecht, que presidiu por três anos e meio. Agora, em sua lista de prioridades, ganham destaque a estruturação de escritórios comerciais na Ásia, Estados Unidos e Europa; a negociação de espaço no porto de Santos, para embarcar a produção para o mercado externo, e a compra das barcaças para o transporte da madeira do campo até a fábrica.
A assinatura de grandes contratos comerciais lá fora é considerada fundamental para que a Eldorado não queime caixa à toa quando a fábrica começar a funcionar. A meta é alcançar a produção de 1,3 milhão de toneladas em doze meses e diluir rapidamente os custos fixos. O número representa 87% da capacidade total, de 1,5 milhão de toneladas, das quais cerca de 90% deverão ser destinadas ao mercado externo.
Logística
Outro ponto fundamental para o sucesso da empresa será a logística. Para contornar a desvantagem de ter a fábrica distante mais de 700 quilômetros de Santos, a companhia desenhou um sistema multimodal de transporte, baseado principalmente em hidrovias e ferrovias, que têm custo de transporte por tonelada bem mais baixo que o rodoviário, em longas distâncias.
Localizada à beira do rio Paraná, em um terreno com área de 1250 campos do Maracanã, a fábrica terá porto próprio e será abastecida por barcaças que usarão afluentes do rio para transportar o eucalipto. Uma vez pronta, a celulose poderá seguir em caminhões até Aparecida do Taboado, 120 quilômetros ao Norte, e embarcada em trens, ou ir de barcaça pelo rio Tietê, até Pederneiras (SP), e seguir daí por trilhos até Santos.
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O modelo deverá garantirá à companhia estrutura de custos “tão ou mais competitiva que a das principais fabricantes de celulose do Brasil – nomes como Fibria e Suzano Papel e Celulose –”, diz Grubisich, sem entrar em detalhes. Já foram compradas locomotivas e vagões especiais, feitos sob medida para a Eldorado, e serão adquiridas também barcaças próprias.
Além do sistema logístico, o executivo afirma que o fato de ter uma fábrica nova, com tecnologia de ponta e alto grau de automação, fará diferença, principalmente na briga com estrangeiros. Na avaliação de Grubisich, em celulose, assim como em outros mercados de commodities, nos quais a empresa não controla o preço final, as margens vêm do controle de custos, tradicionalmente mais altos em fábricas antigas. Com a crise de 2008, muitas companhias adiaram planos de investimentos e a fábrica da Eldorado será das poucas do setor inauguradas em 2013.
Demanda externa
A baixa demanda no mercado internacional também não parece incomodar o executivo. No médio prazo, ele afirma que ela tende a crescer ao ritmo de 1 milhão de toneladas por ano. O que significa que a oferta gerada pela Eldorado poderá ser absorvida em um ano e meio.
Além disso, pelo clima e a disponibilidade de água, a velocidade com que o eucalipto cresce no Brasil é bem superior a de outros grandes produtores, como Canadá, Estados Unidos e China. O que faz do país um forte candidato natural a principal fornecedor da matéria-prima, no longo prazo. “O Brasil está se transformando no grande polo produtor mundial, e a Ásia, com a China à frente, no grande consumidor”, diz Grubisich.
Mais difícil talvez seja garantir terras e a plantação de eucaliptos em número suficiente para que a produção se mantenha sustentável nos próximos anos. A Eldorado já tem 80 mil hectares de florestas destinadas à produção de celulose e viveiro com capacidade para a geração de 3,5 milhões de mudas por ano – que são plantadas ao ritmo de 140 mil por dia. Pretende agregar a eles mais 35 mil hectares, somente neste ano.
No médio e no longo prazo, porém, o projeto é bem mais ambicioso. Se quiser colocar a segunda fábrica em funcionamento em 2017, como pretende, e atingir a meta de produzir 5 milhões de toneladas em 2020, com a terceira, a companhia terá que plantar 500 mil hectares de eucaliptos por ano, a partir de 2013 ou 2014. A conta é simples: cada 10 mil hectares de plantação de eucaliptos geram matéria-prima para a produção de 100 mil toneladas de celulose.
Dinheiro para tanto, ao menos, não deve faltar. Entre os acionistas da companhia, além da J&F, estão fundos de pensão de estatais de peso, como o Funcef, da Caixa, e o Petros, da Petrobras. A abertura de capital é outra hipótese para levantar fundos no horizonte da companhia.
Fonte:Ultimosegundo