20/03/2012 12:25
Maior produtor brasileiro de grãos, com destaque para produtos como a soja, Mato Grosso ainda esbarra na falta de mão de obra qualificada para atuar no campo. A deficiência parte tanto de trabalhadores que migraram das áreas urbanas para o meio rural e ainda não se ambientizaram com a dinâmica produtiva, bem como de profissionais aptos para lidarem com as mais altas tecnologias. Embora o setor produtivo não estime o défict de pessoas capacitadas para suprir a carência no meio agropecuário, o presidente do Sistema Famato/Senar, Rui Prado, é enfático ao avaliar que o tema é considerado um gargalo.
“Há uma demanda hoje, mas não temos gente em número suficiente e capacitadas. Faltam pessoas e é um gargalo para Mato Grosso. Queremos mudar este perfil e ter mais pessoas qualificadas, pois não somos os melhores em âmbito de qualificação”, expressou o dirigente. Os números revelam o potencial do setor agro no estado e contextualizam a preocupação do segmento. Somente no primeiro bimestre de 2012, o campo foi responsável pela maior contratação de trabalhadores com carteira assinada. Foram 21.446 mil de acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, gerando um saldo positivo de 9.867 mil vagas. Foi o melhor desempenho dentre todos os segmentos avaliados pelo Governo Federal.
Para Rui Prado, a ausência de profissionais capacitados faz o próprio agronegócio não aumentar sua competitividade. Segundo o presidente do Sistema Famato/Senar, é preciso capacitar a mão de obra para acompanhar o crescimento que deve se consolidar sobre o agronegócio nos próximos anos. Até 2020, setores como a suinocultura deve ampliar em 180% sua taxa de crescimento. Para os avicultores, a perspectiva é de 180%; 49% para a soja, segundo revelou o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
“Até 2020, temos que qualificar cerca de um milhão de pessoas para atender essa demanda esperada para o crescimento do setor no estado”, pontuou Rui Prado.
Superintendente do Senar em Mato Grosso, Thiago Mattosinho lembra que nos últimos anos tornou-se comum ao setor produtivo de Mato Grosso ‘importar’ trabalhadores de outros estados para atuar nas vagas que exigem maior conhecimento tecnológico. “Mato Grosso sempre trouxe pessoas de outros estados. Para os próximos anos a agropecuária vai passar por processos bons e o estado pode perder competitividade se não capacitar seus trabalhadores”, manifestou.
A entidade responsável por qualificar o trabalhador do meio rural é o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. Nos próximos dias, o serviço deve preparar um diagnóstico pelo qual será possível identificar quais as maiores carências do setor rural em Mato Grosso no que se refere a falta de mão de obra. O mapeamento será construído com base em uma série de análises e discussões com representantes das diferentes cadeias produtivas – a soja, milho, carne, cana até aquelas que atendem principalmente o nicho da agricultura familiar.
Como enfatiza o superintendente do Senar, o objetivo do mapeamento é identificar tendências e demandas por capacitação profissional rural para atender o mercado. Somente no ano passado, explica Thiago Mattosinho, a entidade qualificou cerca de 45 mil pessoas desde produtores rurais aos trabalhadores rurais.
Qualificação x renda
Superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Otávio Celidônio destaca o efeito direito na elevação do nível de qualificação dos funcionários: aumento na renda. Para ele, os temas estão diretamente associados. Ele destaca que nos últimos anos o rendimento médio de quem trabalha no campo também aumentou e fomentou a ida de novos funcionários para o meio rural.
“Hoje o campo tem feito uma inversão. Pago melhor e é fruto da qualificação de mão de obra”, contextualizou Celidônio. Estudos já realizados pelo Imea sobre este tema mostram como em Mato Grosso evoluíram os ganhos dos funcionários do campo.
Entre 2006 e 2010 a remuneração média dos trabalhadores formais do setor agropecuário cresceu acima dos 43%. O maior percentual incidiu sobre os trabalhadores rurais, cujo salário médio passou de R$ 686,08 para R$ 986,6 no período. Os dados foram construídos a partir dos números do Programa de Disseminação de Estatística do Trabalho (PDET), da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) – todos do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Já um gerente de propriedade, que em 2006 ganhava R$ 1,6 mil/mês passou a receber até o final de 2010 outros R$ 2 mil, variação de 42,10%. Da mesma forma, engenheiros agrônomos, veterinários e afins, além de técnicos agrícolas, florestais e pecuários, tiveram os subsídios 25,20% e 19,40% maiores, respectivamente.
Fonte:Portaldoagronegócio