Fim da agonia: Corinthians é campeão invicto da América

05/07/2012 10:20

O torcedor do Corinthians já está acostumado a esperar muito tempo para ver um sonho virar realidade. Passou 22 anos aguardando o fim da seca de títulos nos anos 1960 e 1970. Passou mais 19 esperando o primeiro título do Campeonato Brasileiro, em 1990. E nesta quarta-feira, 35 anos depois de sua estreia na Copa Libertadores, o clube que tem a segunda maior torcida do país transformou-se, finalmente, na equipe número um da América. Com uma vitória suada mas empolgante por 2 a 0 contra o tradicionalíssimo Boca Juniors, da Argentina – o segundo clube mais vencedor da história do torneio, com seis taças -, a equipe paulista entra no rol dos campeões do continente, colocando um fim às provocações dos rivais pela ausência de taças da Libertadores em sua galeria de troféus. Agora, o Corinthians busca seu segundo Mundial de Clubes, em dezembro.

O fato de ter disputado um Mundial antes mesmo de ter vencido a Libertadores, aliás, era uma das provocações de que os corintianos tentavam se livrar nesta quarta. Com as gozações pelo fato de nunca ter sido campeão continental, vieram as cobranças e a pressão sobre os jogadores. A equipe que foi o gramado do Pacaembu nesta quarta, no entanto, parecia não carregar esse peso. Experiente e confiante, o time chegou para a partida sem o descontrole emocional que marcou as eliminações do torneio no passado – e isso se refletiu na torcida, que apoiou desde o início. Antes mesmo dos cinco minutos, porém, o jogo já esquentava, com troca de empurrões – e tapas – nas divididas. Muito acostumado às decisões, o Boca não se contentava em só defender. O jogo era parelho. O primeiro chute a gol do Corinthians veio aos 11 minutos, com Alex, de longe.

O arremate do meia corintiano, porém, foi exceção – o duelo era feio, com quase nenhuma oportunidade de gol. Por volta dos 30 minutos da etapa inicial, o Corinthians deu início a uma tímida pressão, mas o Boca esfriou o jogo por causa de uma substituição imprevista – o goleiro Orión, que se machucou numa divivida com um zagueiro do seu próprio time, teve de ser substituído pelo reserva Sosa. Em seus dois primeiros minutos em campo, o suplente foi exigido em duas ocasiões. Aos 37 minutos, em jogada de Emerson pela esquerda, um cruzamento rasteiro assustou o Boca. E aos 39, Alex voltou a arriscar de longe, para fácil defesa de Sosa. Até o fim do primeiro tempo – que se estendeu até os 50 minutos, por causa da substituição de Orión -, a partida seguiu truncada, sem muitos espaços, com excesso de erros de passes e times muito cautelosos.

Emerson decide – Diante da perspectiva preocupante de jogar uma prorrogação – para o Corinthians, uma dose extra de tensão; para o Boca, um desgaste físico que a equipe não queria sofrer -, brasileiros e argentinos voltaram para a segunda etapa buscando mais o jogo. O Corinthians tomou proveito de uma série de faltas marcadas perto da área do Boca para arriscar na bola parada. E numa dessas cobranças, abriu o placar, aos 8 minutos, com Emerson Sheik, aproveitando passe de costas de Danilo, no centro da área. Foi o quarto gol do atacante na competição, se igualando a Danilo como artilheiro do time na Libertadores. Foi também o lance decisivo para o Corinthians aliviar a tensão e ganhar tranquilidade para controlar o jogo. Mesmo com a vantagem, o time paulista seguiu atacando, sem deixar o Boca assimilar o golpe e se recuperar no duelo.

Bem ensaiado pelo técnico Tite, o Corinthians passou a jogar do jeito que gosta e sabe: marcando forte, preenchendo todos os espaços, controlando o ritmo e apostando em rápidos contragolpes. O Boca tentava atacar, mas parecia não ter qualidade suficiente para furar o bloqueio corintiano – Riquelme, cansado e ainda mais lento do que de costume, não fazia a diferença, como se esperava. O Boca trocou o volante Ledesma pelo atacante Cvitanich e equilibrou o tempo de posse de bola com o Corinthians, mas o time brasileiro era o que mais se insinuava no ataque. Tite chegou a chamar Romarinho, o talismã corintiano, deixando a torcida animada. Acabou desistindo da troca, pois o jogo parecia totalmente sob controle. Aos 27 minutos, a impressão se confirmou: Emerson, o herói do jogo, roubou a bola, disparou sozinho e chutou na saída do goleiro.

Com cinco gols no torneio, o Sheik colocava o Corinthians com a mão na taça – restava ao time aguentar pouco mais de quinze minutos para concretizar seu grande objetivo. Na reta final da partida, a equipe jogou com inteligência, aproveitando a falta de inspiração dos adversários para seguir ditando o ritmo. Com sinais tão claros de que o título estava próximo, a torcida antecipou a festa e começou a festejar por antecipação. O Corinthians era, enfim, campeão – ainda por cima, invicto. Outros times já tinham conquistado o título sem nenhuma derrota – o último foi o próprio Boca, em 1978 – mas jamais no formato atual da competição, em que uma equipe precisa disputar catorze partidas para ser campeão. Foi a marca que faltava para mostrar que o Corinthians, depois de tanto sofrer, tinha finalmente aprendido a vencer uma Libertadores.

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