Não sabia de suborno até depois de colapso da ISL, diz Blatter

16/07/2012 09:23

Em entrevista ao jornal suíço SonntagsBlick, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, disse que nada sabia a respeito dos subornos pagos a seu antecessor, João Havelange, pela extinta parceira comercial ISL até a falência da empresa em 2001.

“Não soube senão mais tarde, após o colapso da ISL em 2001, sobre o suborno. Foi a FIFA quem apresentou uma queixa na ocasião e colocou o caso da ISL em andamento”, acrescentou, referindo-se a 29 de maio de 2001, quando, após a ISL falir, a Fifa fez uma queixa por “suspeita de fraude, desvio e apropriação indevida de fundos”.

“Quando digo agora que é difícil mensurar o passado pelos padrões de hoje, é uma afirmação genérica. Para mim suborno é inaceitável, e nem o tolero nem tento justificá-lo. Mas é disso que sou acusado agora”.

“Esta semana a Corte Suprema da Suíça mostrou que estavam erradas todas essas pessoas, que durante anos me acusaram de receber propina. Agora está registrado o que eu sempre disse: nunca recebi nem ofereci propina”, disse Blatter.

“Agora as mesmas pessoas estão tentando me atacar por um outro ângulo: `Certo, ele não aceitou suborno, mas deve ter sabido`”.

“Mais uma vez, eu só soube após a falência da ISL anos depois. E isso porque instigamos o assunto. As pessoas que me atacam agora sabem que é esse o caso, mas persistem, me querem fora do cargo.”

Um promotor suíço afirmou em um documento legal divulgado nesta semana que Havelange e Ricardo Teixeira, ex-membro do comitê executivo da FIFA e ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), aceitaram propinas multimilionárias da ISL em acordos da Copa do Mundo nos anos 1990.

A ISL vendeu os direitos de transmissão dos Mundiais de futebol em nome da FIFA, e faliu com dívidas na casa dos 300 milhões de dólares em 2001.

Blatter, que está na Fifa desde 1975 e sucedeu Havelange como presidente em 1998, disse na quinta-feira saber que os pagamentos estavam sendo feitos, referindo-se a eles como “comissão” e dizendo não serem ilegais à época.

Indagado em uma sessão de perguntas e respostas no site da própria Fifa no mesmo dia se sabia dos pagamentos, Blatter rebateu: “Sabia o quê? Que se pagava comissão? Na época, esses pagamentos podiam até ser deduzidos do imposto como despesas comerciais”.

“Hoje, isso seria punível pela lei. Você não pode julgar o passado com base nos padrões de hoje”.

Havelange ainda é presidente honorário da Fifa, e Teixeira deixou o cargo no início do ano, pouco depois de renunciar à presidência da CBF.

Entenda o caso

Em 11 de julho de 2012, a Fifa divulgou texto comprovando envolvimento de Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, e João Havelange, atual presidente de honra da própria Fifa, em caso de corrupção. O documento, liberado pela Suprema Corte da Suíça, aponta pagamentos da agência de marketing ISL a ambos em troca de facilidades na aquisição dos direitos de televisão das competições.

Segundo o texto, Teixeira teria recebido pelo menos R$ 26 milhões em propina. Havelange teria sido pago em 1,5 milhão de francos suíços, equivalente a R$ 3 milhões. Cerca de R$ 45 milhões cedidos pela empresa teriam como beneficiário os dois dirigentes.

Eleito presidente da CBF em 1989, Ricardo Teixeira, 65 anos, chegou ao poder do futebol brasileiro tutelado por Havelange, na época presidente da Fifa e genro de Teixeira.

Desde então, Teixeira passou a homem mais poderoso do futebol brasileiro e ficou por 23 anos no poder. Em 2012, o dirigente deixou o comando da CBF, alegando problemas de saúde e familiares e abriu espaço para José Maria Marin ocupar o cargo. Atualmente, o ex-dirigente vive na Flórida, nos Estados Unidos.

No ano passado, João Havelange, 96 anos, renunciou ao cargo no Comitê Olímpico Internacional justamente para fugir de sanções que seriam impostas por causa da relação com a ISL.

Fonte: Terra

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