30 anos depois da descoberta, vírus HIV ainda é desafio para a ciência

20/05/2013 10:30

Nesta segunda-feira, dia 20 de maio, completam-se 30 anos da publicação do artigo sobre o experimento científico que, pela primeira vez, identificava o retrovírus responsável pela aids – batizado três anos depois de HIV. O estudo “Isolation of a T-Lymphotropic Retrovirus from a Patient at Risk for Acquired Immune Deficiency Syndrome” foi assinado na revista Science (Vol. 220, nº. 4.599, pg. 868-871) por doze pesquisadores de instituições francesas. Entre eles, Luc Montagnier, renomado virologista que divide a coautoria pela descoberta do vírus com o americano Robert Gallo.

Passadas três décadas do anúncio, a aids perdeu estigmas antigos e agressividade em seus sintomas. Os tratamentos à doença tiveram importantes avanços que, apesar de melhorarem a vida dos pacientes, ainda não culminaram em cura definitiva ou vacina eficaz. Embora o ritmo de novas infecções tenha diminuído, o vírus HIV é portado hoje por aproximadamente 35 milhões de pessoas no mundo.

Desde o isolamento viral, houve um enorme avanço na compreensão dos mecanismos pelos quais o HIV atua no organismo, de seu comportamento biológico e das complexas respostas do hospedeiro à infecção. Essa é avaliação do médico infectologista Carlos Roberto Brites, pós-doutor pela Harvard School of Public Health e coordenador do Laboratório de Pesquisas em Virologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Tratamento

O pesquisador lembra que a primeira década após a descoberta do vírus se caracterizou pela ausência de opções terapêuticas adequadas e eficazes, ocasionando elevadas taxas de mortalidade para os pacientes infectados. Com o surgimento de novas drogas e o tratamento combinado (o famoso “coquetel”), o controle da infecção se tornou possível, permitindo uma extensão significativa da sobrevida dos pacientes com aids.

A doutora em Saúde Pública Monica Malta, pesquisadora do Departamento de Ciências Sociais da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/FIOCRUZ), destaca que, atualmente, quem recebe diagnóstico positivo para o HIV cedo e tem acesso a acompanhamento médico e tratamento adequado apresenta expectativa de vida semelhante à de uma pessoa livre do vírus.

Essa melhora se deve, em grande parte, à evolução dos medicamentos antirretrovirais. Quando eles começaram a ser oferecidos no Brasil pelo serviço público de saúde, em 1996, muitos pacientes ingeriam até 30 comprimidos ao longo do dia. “Hoje esses esquemas são mais eficazes, mais simplificados, menos tóxicos e de menor custo”, analisa Monica.

Inicialmente, recorda Brites, o uso das drogas era acompanhado por exigências complexas, como a necessidade de jejum para umas e estômago cheio para outras. Isso dificultava o uso correto dos fármacos, gerando elevada taxa de falha da terapia e o surgimento, em consequência, de vírus resistentes. Com as novas drogas, a aids foi transformada em uma doença crônica controlável. “Hoje, pode-se tratar a infecção com apenas uma pílula ao dia, ainda não disponível no Brasil”, menciona.

Fonte: Terra

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