22/07/2013 23:46
O Papa Francisco chegou ao Brasil às 15h45 desta segunda-feira (22) para presidir a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), desfilou em carro aberto e saudou os jovens em seu primeiro discurso, no Rio de Janeiro. “Cristo bota fé nos jovens”, afirmou o pontífice argentino, que faz sua primeira viagem internacional desde que foi escolhido sucessor de Bento XVI. O Papa fica no país até domingo (28) e ainda visitará a cidade de Aparecida (SP), nesta quarta.
Francisco foi recebido com flores brancas pela presidente Dilma Rousseff na base aérea do Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro. Em seguida, percorreu um trajeto, acompanhado por uma multidão, em três carros, incluindo o papamóvel, e de helicóptero, até o Palácio da Guanabara, onde ambos discursaram.
“Cristo bota fé nos jovens. E também os jovens botam fé em Cristo”, afirmou o Papa. “Obrigado pelo seu generoso acolhimento (…). Vim para a JMJ para encontrar os jovens que vieram de todo o mundo atraídos pelos braços abertos pelo Cristo Redentor. Estes jovens vêm de diversos continentes, falam línguas diferentes, são portadores de variadas culturas e, todavia, em Cristo encontram as respostas para suas mais altas e comuns aspirações e podem saciar a fome de verdade límpida e de amor autêntico que os irmanem para além de toda diversidade”, afirmou.
“Cristo abre espaço para eles [jovens], pois sabe que energia alguma pode ser mais potente daquela que se desprende do coração dos jovens”, disse o Papa. “Atenção, a juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo (…), por isso nos impõe grandes desafios. A nossa geração se demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando lhes souber abrir espaço.”
Guanabara (Foto: Reprodução/GloboNews)
O Papa disse também que o Brasil possui “profundos sentimentos de fé”. “Venho para alimentar a chama de amor fraterno que arde em cada coração”, disse. “Aprendi que para ter acesso ao povo brasileiro é preciso ingressar pela porta de seu imenso coração. Permitam-se que nessa hora eu possa bater delicadamente a essa porta”, disse.
“Por isso, peço licença para entrar e transcorrer essa semana com vocês. Não tenho nem ouro nem prata, mas tenho algo de mais precioso que me foi dado: Jesus Cristo”, afirmou o Papa Francisco.
Antes, a presidente Dilma Rousseff deu boas-vindas ao Papa. “É uma honra redobrada em se tratando do primeiro Papa latino-americano”, disse. “O Brasil e seus mais de 50 milhões de jovens acolhem de braços abertos os peregrinos de dezenas de países que vieram para essa grande celebração.”
“Sabemos que temos diante de nós um líder religioso sensível aos anseios de nossos povos por Justiça social, oportunidade para todos. (…) Lutamos contra um inimigo em comum, a desigualdade social”, afirmou Dilma.
Segundo ela, “estratégias de superação da crise econômica, centradas só na austeridade, sem a devida atenção aos enormes custos sociais que ela acarreta, golpeiam os jovens”.
Ainda conforme a presidente, “a fé é parte do espírito brasileiro” e moveu centenas de jovens em protestos pelo país nos últimos meses. “A juventude brasileira tem sido protagonista nesse processo e clama por mais direitos sociais (…). Os jovens exigem respeito, ética e transparência. Querem que a política atenda a seus interesses, aos interesses da população”, disse. “A juventude brasileira está engajada numa luta por uma nova sociedade. Essa celebração da juventude durará muito mais do que os dias da jornada”, completou.
Calor humano
Foram quase 12 horas de viagem ao Brasil. Minutos após descer do avião Airbus A330 da Alitalia, que saiu do Aeroporto de Fiumicino, próximo a Roma, às 8h55 (3h55 em Brasília), Francisco cumprimentou autoridades e religiosos que o aguardavam ao longo de um tapete vermelho estendido na pista do Galeão e ouviu o Hino da Jornada de um coral de 140 crianças.
(Foto: GloboNews)
Fotos divulgadas pela agência de notícias AP mostraram o Papa Francisco conversando com jornalistas durante o voo. Segundo o porta-voz do Vaticano, Frederico Lombardi, o Papa ficou 15 minutos na cabine do avião na aterrissagem. “Tivemos medo”, brincou. Segundo ele, o Papa teve uma viagem tranquila, mas muito ativa, com “uma energia extraordinária”. O porta-voz disse ainda que Francisco pediu ajuda aos jornalistas no voo porque ele veio para dar sua mensagem e, sem eles, ela ficaria apenas parcial.
Após os cumprimentos, Francisco entrou em um carro em direção à Catedral Metropolitana de São Sebastião, no Centro do Rio. Dezenas de pessoas acenavam durante o trajeto. O carro chegou a ficar detido em um congestionamento. O Papa manteve o vidro aberto, devolvendo as boas-vindas.
Próximo à catedral, o carro foi novamente cercado por uma multidão, mas o Papa continuou acenando com a janela aberta, protegido por seguranças.
Segundo Lombardi, o Papa pediu menos segurança e gosta de ter contato com as pessoas, não de militarização. “Foi a primeira experiência, ele acabou de chegar. Vimos o entusiasmo das pessoas. Isso é algo novo, talvez uma lição para os próximos dias. Temos que achar a maneira correta”, disse, destacando o entusiasmo da população brasileira.
Francisco subiu então no papamóvel em direção ao Theatro Municipal. O primeiro desfile no veículo, sem proteção lateral, foi acompanhado por centenas de fiéis. Francisco foi aplaudido, fotografado e parou para beijar crianças.
“Fiquei em êxtase. Esse era um sonho meu, eu já vi pra cá com essa intenção”, disse a mãe de uma delas, o menino Guilherme Mendes, de 2 anos, que foi abençoado com o sinal da cruz.
Depois, Francisco embarcou em outro carro até o 3º Comando Aéreo Regional (Comar). Por volta das 17h50, foi de helicóptero até o Palácio Guanabara, em Laranjeiras, na Zona Sul, encontrar-se com a presidente Dilma Rousseff, o governador do Rio, Sérgio Cabral, o prefeito Eduardo Paes e outras autoridades. Às 18h, o Papa chegou ao palácio do governo, onde proferiu seu discurso.
Protestos
Ao menos três grupos se reuniram no Largo do Machado, na Zona Sul do Rio, para protestar contra a visita do Papa. No início da noite, houve tumulto em frente ao Palácio da Guanabara, quando o Papa já havia deixado o local. Manifestantes jogaram bombas de fabricação caseira em policiais, que revidaram com balas de borracha, jatos d’água e bombas de gás lacrimonêneo.
Agenda
O Papa fica hospedado nesta segunda na Residência Assunção, no Sumaré. Jorge Bergóglio deve dormir no quarto 5, que possui uma área de 45 metros quadrados. Nos sete dias em que ficará no país, Francisco fará pelo menos 15 pronunciamentos. A expectativa de especialistas é que ele quebre protocolos e faça pregações emblemáticas para reforçar suas posições frente aos desafios da igreja. Cerca de 5,5 mil jornalistas acompanham a visita, 2 mil da imprensa internacional.
Nesta terça-feira (23), Francisco passa o dia descansando, sem compromissos oficiais. Na quarta (24), a agenda do Papa começa com uma visita a Aparecida, no interior de São Paulo. Na cidade, ele celebra uma missa no Santuário Nacional e almoça no Seminário Bom Jesus. São esperados 200 mil fiéis.
O retorno para o Rio de Janeiro está marcado para as 16h. No fim da tarde, o pontífice visita o Hospital São Francisco de Assis. O Papa deve inaugurar o Polo de Atenção Integrada da Saúde Mental (PAI) para acolher dependentes químicos, de álcool e drogas.
O primeiro ato da JMJ com participação do Papa será na quinta-feira (25). Pela manhã, o Papa participa de uma missa privada no Sumaré. Depois, vai ao Palácio da Cidade, em Botafogo, para abençoar a bandeira olímpica e paraolímpica. Por volta das 11h, o compromisso é uma visita à comunidade da Varginha, na Zona Norte. Às 17h, vai à Praia de Copacabana, onde será celebrada a Festa da Acolhida com os jovens.
A sexta-feira (26) também começa com uma missa fechada no Sumaré. Após a oração, o Papa vai à Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, encontrar com um grupo de jovens selecionados pela igreja e que vão se confessar com Francisco. Haverá então um breve encontro com alguns jovens detentos no Palácio Arquiepiscopal São Joaquim.
A oração do Ângelus será feita no Palácio São Joaquim, residência do arcebispo do Rio. Também está prevista uma saudação ao Comitê Organizador da Jornada. No fim da tarde, o Papa vai à Praia de Copacabana, onde será realizada a Via Sacra.
No sábado (27), a manhã começa com uma missa com bispos na Catedral de São Sebastião. Por volta das 11h30, o Papa se reúne com membros da sociedade civil no Theatro Municipal. Após o ato, ele almoça com bispos e cardeais. No início da noite, o Pontífice vai a Guaratiba para a Vigília de Oração.
No domingo (28) de manhã, o Papa retorna a Guaratiba para realizar a Missa de Envio, marcada para as 10h. À tarde, após um almoço com sua comitiva, Francisco tem um encontro com a coordenação do Conselho Episcopal Latino-Americano. O Papa se reunirá ainda com voluntários da JMJ, no Riocentro, e participará da cerimônia de despedida, agendada para as 18h30. O embarque para Roma está previsto para as 19h.
Segurança e protestos
Os protestos realizados desde junho pelo país motivaram ajustes nos planos de segurança para a visita, mas o Vaticano assegurou na quarta (17) que não havia motivo para preocupação. Francisco inclusive dispensará o uso de papamóvel blindado.
O Exército informou que estará em todas as áreas da jornada e que pessoas mascaradas ou com os rostos cobertos serão impedidas de entrar na celebração com o Papa no Campo da Fé, em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio.
No planejamento de segurança adotado pela Secretaria Extraordinária de Grandes Eventos, vinculada ao Ministério da Justiça, Copacabana é considerada a área mais complexa, já que o bairro deve receber cerca de 2 milhões de pessoas na Via Sacra, que será realizada no dia 26 e terá a presença do Papa Francisco. Mais de 10 mil agentes, entre policiais federais, rodoviários federais, civis, bombeiros, trânsito e defesa civil vão atuar no esquema.
Fonte: G1