No Dia de Finados, família de Amarildo faz ato na Rocinha

02/11/2013 17:56

Moradores da Rocinha, parentes e integrantes da Ong Rio da Paz se reuniram na manhã deste sábado (2), Dia de Finados, para protestar contra o sumiço do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido desde o dia 14 de julho. A mulher de Amarildo, Elizabeth de Souza, também participou do ato.

“Eu gritei do começo e estou gritando até agora. Estou querendo os restos mortais do Amarildo. Pelo menos os ossos para enterrar como digno”, disse

O grupo levava faixas e fotos do ajudante de pedreiro e perguntavam sobre a localização do corpo de Amarildo. A manifestação, que reuniu cerca de 40 pessoas, foi iniciada na frente do Centro de Controle da UPP, na subida da comunidade. Um manequim simbolizava o corpo do ajudante de pedreiro.

No local, quinze policiais estavam posicionados acompanhando a manifestação. Por volta das 11h, os  manifestantes iniciaram uma caminhada até a sede da UPP, no alto do morro, onde segundo investigações da polícia, o ajudante de pedreiro foi torturado e morto por policiais militares. Os manifestantes foram escoltados por policiais em motocicletas até a unidade.

Entenda o caso

Vinte e cinco policiais da UPP da Rocinha foram denunciados e 13 estão presos preventivamente. Entre os detidos estão o ex-comandante da UPP, major Edson Santos, e o ex-subcomandante, Luiz Felipe de Medeiros.

No dia 28 de outubro, o Bom Dia Rio divulgou informações sobre o depoimento de quatro mulheres soldados que serviam na unidade. Segundo o Ministério Público, elas contaram que receberam ordens de superiores para ocultar provas da tortura a Amarildo e que foram obrigadas a dar declarações pré-combinadas aos investigadores do caso.

Uma das soldados contou que estava dentro da UPP quando ouviu gritos de dor e pedidos de socorro atrás da unidade. Ela disse que foi até a parte da frente da sala e tapou os ouvidos para não ouvir mais o que estava acontecendo. Ao concluir que um homem estava sendo torturado e falou para duas colegas: “Isso não se faz nem com um animal”.

De acordo com a policial, a tortura durou cerca de 40 minutos. Depois, tudo ficou em silêncio. Ela, então, disse ter ouvido risos.

Elas contaram ainda que a violência contra Amarildo ocorreu atrás de contêineres que servem de base à UPP da Rocinha. Depois da tortura relatada, o local foi transformado num depósito, sinal de que o objetivo era atrapalhar a investigação.

Escuta foi decisiva
Uma escuta feita pela polícia, com autorização da Justiça, e revelada com exclusividade pelo Jornal Nacional no dia 20 de outubro, foi a prova decisiva para a conclusão do caso. Os investigadores dizem  que desvendaram como foi a participação de cada PM no caso

Na gravação, um homem que se identifica como o traficante Catatau faz ameaças a um policial infiltrado no tráfico e dá a entender que matou Amarildo, conhecido como Boi. A perícia comprovou que esse homem era o soldado Marlon Campos Reis fazendo uma encenação.

A investigação do Grupo de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público mostrou como foi a participação de cada um dos envolvidos no caso. E revelou que quatro policias militares foram responsáveis – diretamente – por torturar Amarildo de Souza.

São eles: o ex-subcomandante da UPP, tenente Luiz Felipe de Medeiros; e os soldados Anderson Maia e Douglas Roberto Vital Machado, presos há quase 20 dias. E o sargento Reinaldo Gonçalves dos Santos.

As prisões preventivas dele e de mais dois PMs foram pedidas na terça-feira (22) à Justiça. De acordo com os promotores, Amarildo foi torturado com choques elétricos, afogamento e sufocado com sacos plásticos.

“O Amarildo pedia socorro. Inclusive tem uma fala que uma testemunha ressalta dizendo: ‘Não, não, isso não. Prefiro que me matem’”, afirmou Carmen Eliza Carvalho, promotora de Justiça. Enquanto o ajudante de pedreiro era torturado por quatro policiais, outros 12 ficaram do lado de fora, de vigia.

Fonte: G1

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