Bandidos fazem “reféns da violência” na região do Zero Km

06/07/2014 12:39

Empresários da região do Zero Km, nas proximidades do Aeroporto Marechal Rondon, em Várzea Grande, se tornaram “reféns” da violência.

Praticamente toda semana, pelo menos uma das 14 lojas de serviços localizadas na Avenida Ulisses Pompeu de Campos é arrombada durante a noite ou alvo de assaltos à mão armada em plena luz do dia, segundo os proprietários.

A região é conhecida, há anos, pela rede prostituição que abriga – que pode ser constada a qualquer hora do dia –, bem por ser considerada reduto de usuários e traficantes de drogas. Mas, nos últimos meses, a situação tem se tornado “insustentável”, segundo o dono da empresa Vibor, Olímpio Sousa.

“Assalto à mão armada, já sofremos três. Mas arrombamento tem toda semana, toda hora. Para quem está aqui há 32 anos, saber que a cada dia a situação piora e a gente não tem para onde correr, é desesperador”

“Assalto à mão armada, já sofremos três. Mas, arrombamento tem toda semana, toda hora. Para quem está aqui há 32 anos, saber que a cada dia a situação piora e a gente não tem para onde correr, é desesperador. Se você reage à ação de um bandido, é processado. Mas, se ele entra 500 vezes na loja e me dar um prejuízo maior do que um processo, eu não posso fazer nada”, afirmou ao MidiaNews.

O empresário disse ter chegado ao limite na semana passada, quando, mesmo com seu estabelecimento protegido por cerca elétrica e 15 câmeras de segurança, sofreu prejuízos com ações de bandidos por duas vezes, em menos de uma semana.

A primeira ocorrência foi registrada na madrugada de sábado (28), quando dois ladrões arrombaram as portas principais da loja e também o caixa.

“A dupla ficou na frente da loja por 40 minutos, tentando arrombar. Eles estavam com as bicicletas estacionadas. Como que à meia-noite não tinha um policial passando para ver que havia dois elementos suspeitos, parados, de bicicleta, em frente a uma empresa, com alarme disparado, e ninguém faz nada? E você vê as luzes dos carros passando pela avenida. Ninguém da Polícia passou por aqui? Não achamos que eles devem passar de cinco em cinco minutos, mas, se há um policiamento ostensivo, a gente não viu”, afirmou.

Na terça-feira (1º), segundo ele, houve o “trauma maior”, quando bandidos armados entraram na loja e renderam os funcionários – veja vídeos no final da matéria.

Lislaine dos Anjos/MidiaNews
Olímpio Sousa: “Se há um policiamento ostensivo, a gente não vê”

“Eram 18h05, estávamos fechando a porta, quando dois malucos entraram armados. A minha sorte, da minha esposa e da minha secretária, é que estávamos fechando o escritório [na parte superior da loja]. Ele foi atrás, mas não conseguiu nos ver”, afirmou.

O escritório de Olímpio é protegido por uma grade, além da porta comum, medida adotada para evitar arrombamentos, quando percebeu que apenas a cerca elétrica não seria o suficiente para barrar a entrada de bandidos no estabelecimento.

“Roubaram dinheiro de todo mundo, celular, relógio, alianças, pulseiras. Tínhamos 12 funcionários aqui, na hora do assalto”, afirmou.

Conforme as imagens de segurança, não se trata das mesmas pessoas que arrombaram a loja durante o fim de semana.

Para o empresário e sua esposa, a advogada Eliane Braga, a região já se tornou alvo de quadrilhas profissionais, vindas de outras regiões da cidade.

“É uma pressão psicológica muito grande. A maioria dos que fazem esses assaltos não é daqui, não. O cara que está aqui na região, fumando droga, chega a pé, vem de mão limpa, à noite, arromba e tenta achar algo para levar. As pessoas que chegaram armadas aqui estavam de carro, num Fiesta moderno, sem placa. Eles tinham até um motorista”, disseram.

Lislaine dos Anjos/MidiaNews
Kornewylimas Campos tem a foto do rapaz que assaltou sua loja, mas reclama que nada foi feito pela Polícia

Abaixo-assinado

Segundo Olímpio, o período mais crítico e recente vivenciado pelos empresários da região ocorreu entre setembro e dezembro do ano passado. Mesmo com alarme instalado até no telhado, ele teve seu estabelecimento arrombado por dez vezes, em três meses.

Segundo ele, a situação era recorrente nos estabelecimentos de outros 13 empresários situados na mesma avenida. Todos, então, elaboraram cartas solicitando ajuda da Polícia Militar.

“Esperamos passar o final do ano, vimos que havia um batalhão da Polícia Militar aqui perto, conhecemos um oficial dali e pedimos para ele intermediar o nosso pedido. Ele pegou cartas de todo mundo solicitando mais segurança, um policiamento mais ostensivo. Todos aqui já foram roubados, furtados”, afirmou Olímpio.

De acordo com o empresário, a situação melhorou momentaneamente na região, com policiais passando frequentemente pela via.

“Agora, eles estão agindo descaradamente. Pode ter 10, 20 ou 50 pessoas, câmeras de segurança, que eles não se intimidam”

Depois de um tempo, porém, tudo voltou a ser como era antes da solicitação feita à PM.

Ousadia

Também vítima da violência que se instalou na região, o proprietário da empresa Clima D’Car, Kornewylimas Campos Salte, afirmou que não há dispositivo de segurança que barre a ação de criminosos na região.

“Por oito vezes, já praticaram pequenos furtos, quebraram paredes e telhados para entrar. Uma vez, eu estava com oito carros de clientes guardados aqui e eles quebraram os vidros laterais e dianteiros de todos os veículos e levaram os toca-CDs de todos eles. E, detalhe é que nunca conseguimos recuperar nada”, afirmou.

“Um cliente se escondeu dentro de um caminhão que estava aqui e ligou para a Polícia Militar. Passou o endereço, falou que estava ocorrendo o assalto. Mas a atendente queria saber quantas pessoas eram, quantas estavam armadas, de que cor elas eram, o que estavam usando”

Com a loja instalada no local há 14 anos, ele sofreu um “limpeza” geral do estabelecimento no início de junho, em uma manhã de sábado, quando a loja estava cheia de clientes e o movimento na avenida era grande, segundo ele.

“Eram 11h30, estávamos quase fechando, quando chegaram quatro indivíduos em três motos. Dois deles entraram e levaram todo o dinheiro que eu tinha aqui para pagar funcionários, cheque, carteira, cartões, notebooks, celular, tudo. Pararam como se fossem clientes. Só aqui dentro, havia umas 12 pessoas”, relatou.

Conforme Campos, o prejuízo pessoal, apenas nesse dia, foi de R$ 9 mil – sem contar o que foi levado dos clientes e funcionários.

Para ele, além do crime, o que mais o revoltou foi a ousadia do assaltante que levou seu celular e continuou usando o aparelho como objeto pessoal, inclusive alterando a foto do whatsapp (aplicativo de celular) de Campos pela sua própria imagem, usando a corrente recém-levada do empresário.

“Eu tenho a foto dele, porque meu filho e todos os meus amigos viram, levei na Polícia Civil, sei onde mora, tudo isso. Só não tenho o nome exato. Mesmo assim, a Polícia não vai atrás”, reclamou.

De acordo com ele, no mesmo dia do assalto à sua loja, os bandidos também invadiram outras duas empresas situadas na avenida.

“No mesmo dia que assaltaram aqui, também assaltaram a Porto Auto Peças e a Auto Elétrica Carvalho. Agora, eles estão agindo descaradamente. Podem ter 10, 20 ou 50 pessoas, câmeras de segurança, que eles não se intimidam”, afirmou.

Sem atendimento

“Nossa possibilidade de solução da situação do Zero Km é impossível. Não adianta. Se eu tivesse mil policiais para colocar lá, ainda assim não resolveria o problema”

Campos reclamou ao site, ainda, do atendimento recebido por um cliente que se encontrava na loja no momento do assalto e que tentava acionar a Polícia.

“Um cliente se escondeu dentro de um caminhão que estava aqui e ligou para a Polícia Militar. Passou o endereço, falou que estava ocorrendo o assalto. Mas a atendente queria saber quantas pessoas eram, quantas estavam armadas, de que cor elas eram, o que estavam usando. E ele falou que não ia levantar para os bandidos o verem e atirarem”, afirmou.

Segundo Campos, a Polícia apareceu no estabelecimento mais de 20 minutos depois que os bandidos já haviam deixado o local.

“O atendimento é falho, também. Temos um problema social aqui na região, sim. Mas são pequenos furtos, arrombamentos. Eles pegam qualquer coisa para vender e manter o vício. Mas assalto à mão armada, à luz do dia, não é praticado por gente daqui. E temos um batalhão aqui perto. Ninguém respeita nada”, desabafou.

Outro lado

O coronel Jorge Antônio de Oliveira Paredes, responsável pelo Comando Regional II da Polícia Militar, reconheceu, em entrevista ao MidiaNews, que é alto o índice de crimes cometidos no Zero Km, mas afirmou que não cabe apenas à PM a resolução dos problemas da região.

“O índice de violência é apenas um dos fatores que demonstram o caos social daquela região”

“Nossa possibilidade de solução da situação do Zero Km é impossível. Não adianta. Se eu tivesse mil policiais para colocar lá, ainda assim não resolveria o problema”, afirmou.

De acordo com Paredes, apesar de “alto e constante”, o índice de criminalidade no Zero KM “não é alarmante”.

“O índice de violência é apenas um dos fatores que demonstram o caos social daquela região”, disse.

Com 480 homens para atender a sete municípios – dentre eles, Várzea Grande –, o comandante afirmou que há “muitos fatores indutores da criminalidade na região”, que não dependem exclusivamente da ação da PM.

“Ali temos um problema social extremamente grave, que não se pode querer resolver só com a Polícia Militar, porque dependem de outras instituições, da Prefeitura Municipal, do Governo Estadual e do Governo Federal”, disse.

“Naquela região temos prostituição, sonegação de impostos, falta de infraestrutura e urbanização, exclusão social, tráfico e uso de drogas. Há organizações e a PM é a única instituição pública, dentre as que devem agir ali, que está à disposição da população”, afirmou.

Fonte: MidiaNews

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