28/04/2015 17:35
O dado é da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura).
Debruçados sobre esses números, dois especialistas dos setores de carnes e de grãos do Rabobank, banco especializado no agronegócio, avaliaram quem poderia suprir essa demanda. E, claro, com rentabilidade para os produtores.
Adolfo Fontes, analista que atua na área de pesquisa de proteína animal do banco, e Renato Rasmussen, analista de mercado de grãos e de oleaginosas, acreditam que o Brasil é um dos candidatos.
O país tem duas vantagens. Adquiriu um bom status sanitário e, devido à posição geográfica, está fora da rota de doenças, principalmente as trazidas por aves silvestres.
Outra vantagem é que o país será um dos poucos que conseguirão aumentar a produção com redução de custos, devido à expansão da oferta de grãos e à busca de novas regiões de produção.
Além disso, o país tem também o mercado interno para ajudar nessa expansão de produção. Apesar das dificuldades atuais, o cenário melhora nos próximos anos.
Esse crescimento de demanda favorece não apenas os produtores de proteínas, mas toda a cadeia do agronegócio. Os analistas do Rabobank acreditam que serão necessários investimentos de US$ 6,4 bilhões na próxima década para uma realocação da produção de carnes para a regiões onde há uma oferta maior de grãos.
REDUÇÃO DE CUSTOS
Essa proximidade da produção de carnes com a de grãos permite uma redução de custos. Fontes exemplifica com números.
O custo adicional de logística para trazer um quilo de carne do Centro-Oeste para as regiões Sudeste e Sul é, em média, de R$ 0,15.
Mas a produção dessa carne nas novas regiões de fronteiras de grãos diminui os custos do frango em R$ 0,30 por quilo, enquanto o de suíno fica R$ 0,40 menor.
“Há grande potencial de produção de proteínas nessas áreas”, diz Fontes.
O setor de grãos também será beneficiado pelo avanço da produção de carnes no país, aponta Rasmussen. Ele acredita que a maior produção de frango vai gerar uma demanda extra de 5,5 milhões de toneladas de milho e de 2,1 milhões de toneladas de farelo de soja por ano.
A alta na produção de carne suína vai exigir demanda adicional de 2,5 milhões de toneladas de milho e de 700 mil de farelo de soja.
Os analistas do Rabobank preveem que a produção de frango salte de 12,3 milhões de toneladas, em 2013, para 16,2 milhões em 2023.
Esse crescimento de 3,9 milhões de toneladas significa uma evolução anual de 2,8%.
As exportações aumentariam 40% no mesmo período, atingindo 4,9 milhões de toneladas por ano. Já o consumo interno, ao subir para 11,3 milhões de toneladas por ano, registraria uma evolução média anual de 2,5%.
O mercado de carne suína também melhora, com crescimento médio anual de 2,4% para o consumo e de 3,3% para as exportações.
Na avaliação dos analistas do Rabobank, a produção nacional de carne suína deverá atingir 4,4 milhões de toneladas em 2023, 1 milhão a mais do que a atual.
NOVAS FRONTEIRAS
Boa parte da nova produção de carnes virá das novas fronteiras agrícolas, principalmente do Centro-Oeste.
O avanço da produção para novas áreas não será fácil nem barato. O sistema de produção entre Sul e Centro-Oeste é diferente, não só no tamanho da propriedade como na cultura do produtor.
O sistema de integração e de trabalho ligado a cooperativas do Sul não é compatível com a produção em larga escala das novas fronteiras.
Logística e mão de obra serão dois problemas a serem enfrentados pela produção de proteínas nessas novas áreas.
Rasmussen destaca, porém, que as obras em estradas como a BR-163 e o maior escoamento de grãos pelo Norte poderão reduzir os custos com frete em até 40%.
Para Fontes, um dos segredos da produção brasileira é que o país soube avaliar bem as necessidades do mercado. O produtor agrega valor produzindo cortes especiais e produtos específicos para as diversas regiões do mundo, segundo o analista do banco.