18/05/2015 23:28
Enquanto as vendas não decolam, a pauta estadual vai mês a mês contabilizando o freio da demanda chinesa, país que é o maior parceiro comercial de Mato Grosso, como do país. Nesse contexto de imprevisibilidades, a receita das exportações fechou o primeiro quadrimestre do ano com retração de 33%, com abril emplacando o pior saldo dos últimos anos para o mês, com negócios de pouco mais de US$ 897 milhões, 54% menos que o registrado em igual momento de 2014.
Enquanto a receita encolheu 33% no acumulado dos primeiros quatro meses do ano, ao passar de US$ 5,31 bilhões em 2014, para atuais US$ 3,55 bilhões, o faturamento com a soja em grão – produto que é o carro chefe das exportações – reduziu 50% e as compras feitas pela China ficaram 54% menores, números que ilustram a perda de performance da exportações estaduais. Além da queda em cifras, houve retração no volume físico movimentado, que caiu 18%, de 10,80 milhões de toneladas exportadas de janeiro a abril do ano passado para 8,86 milhões em igual intervalo deste ano.
Tradicionalmente, com raras exceções ao longo do ano, os meses de abril e maio são os de maior faturamento no Estado, em razão das exportações de soja, após a conclusão da colheita.
Os resultados do mês de abril, como destacam os analistas do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), surpreenderam o mercado e foram contra todas as expectativas que apontavam abril, como o melhor mês em vendas e embarques, em 2015. “A exportação de soja em grão, de Mato Grosso, somou 1,31 milhão de toneladas no mês passado, muito abaixo do que era esperado pelo Imea, e também do que foi registrado em abril de 2014, de 2013 e da média dos últimos três anos para o mês. Como se sabe, a China é a principal compradora da soja em grão do Estado, podendo influenciar, assim, bastante no volume escoado pelo Estado”.
Conforme dados apurados ainda pelo Imea, as importações chinesas de soja de Mato Grosso apresentaram recuo mensal de 56%. Este volume contraria o aguardado pelo mercado, que esperava bons números de exportação para abril por causa da safra recorde e dos volumes de fevereiro e março terem sido abaixo do esperado, parte por conta da greve dos caminhoneiros. “Assim, as exportações mato-grossenses do primeiro quadrimestre acumulam volume 37% menor que do ano passado, mesmo a produção sendo 6% maior que a registrada na safra passada”.
De acordo com Diário de Cubá,a retração da China, já observada desde março, foi justificada por muitos analistas como um movimento pontual. De todo modo, há de fato diminuição do crescimento da economia. Durante o primeiro trimestre deste ano, a China cresceu a um ritmo anualizado de 7%, que é sua marca mais baixa desde os momentos mais críticos da crise econômica mundial em princípios de 2009. A elevação do câmbio também pode ter adiado ou inviabilizado negócios e ter influenciado o saldo local.
O consultor e economista da PR Consultoria, Carlos Vitor Timo Ribeiro, frisa que muitos embarques não aconteceram, em função da greve dos caminhoneiros entre fevereiro e março e que voltou a repetir em abril, e que podem nem mais se concretizar por opção do importador. “E se há retração nos envios de soja, há consequentemente impacto negativo no saldo da pauta estadual, o efeito é diretamente proporcional”.
Para Timo Ribeiro, a crítica com relação à dependência do apetite chinês, muito debatida já, é mais que bem-vinda nesse momento. “Isso {a dependência} prova de forma inconteste de que Mato Grosso {e o Brasil também} precisa diversificar urgentemente seu mercado consumidor e seus produtos. Nesse ano a China retraiu suas compras em mais de 50% e isso é um percentual, que definitivamente, acende a luz vermelha”.
Produtos – A soja em grão é a principal commodity mato-grossense. No ano passado fechou o primeiro quadrimestre com participação de 60,18% sobre os US$ 3,20 bilhões faturados. Nesse ano, ela representa quase 45% de um saldo acumulado de US$ 1,59 bilhão. Em cifras houve recuo anual de 50% e em volume, os embarques passaram de 6,37 milhões de toneladas para 4,02 milhões (-37%).
Além da soja, outro produto forte da pauta estadual, os cortes bovinos, também fechou o quadrimestre em baixa, -24,20%. As vendas passaram US$ 339,19 milhões para US$ 257,09 milhões e o volume físico de 75,82 mil toneladas para 59,99 mil toneladas. Óleo de soja, contabiliza negócios 31% menores e o milho, -0,33%.
Países – A China, mesmo freando seu apetite, segue como maior parceiro de Mato Grosso, mas ao invés de responder por 44% da pauta como no ano passado, participa agora com 30%, já que as compras passaram de US$ 2,36 bilhões para US$ 1,07 bilhão. O segundo país, a Indonésia, participa com menos de 8% (US$ 283,20 milhões).