31/05/2015 21:34
Economistas de sete dos principais bancos do país demonstraram em conversas recentes com a Reuters desconforto com a possibilidade de que a taxa básica Selic suba além do atual patamar de 13,25 por cento ao ano.
Embora as expectativas de inflação continuem acima do centro da meta de 4,5 por cento para o fim de 2016, há dúvidas sobre a confiabilidade dos modelos estatísticos usados para as projeções, que podem estar subestimando o efeito do aumento do desemprego sobre os salários e os preços de serviços.
Fonte.:ValorEconomico
Em vez de continuar a subir os juros, o BC deveria coordenar as expectativas de inflação, sinalizando com mais clareza que não pensa em reduzir a Selic no futuro próximo, disseram os economistas.
O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne na próxima semana e deve elevar a Selic em mais 0,5 ponto percentual, para 13,75 por cento ao ano. Com base na comunicação atual do BC, vários economistas acreditam que a Selic pode continuar subindo em julho e setembro, chegando talvez a 14,50 por cento.
A continuidade da alta dos juros contrasta com a piora da economia. Em abril, a taxa de desemprego subiu a 6,4 por cento e quase 100 mil postos de trabalho foram fechados.
“Já tem uma pressão (inflacionária) muito fraca por conta da recessão. Nesse sentido, (subir os juros) é um exagero”, disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, em São Paulo.
O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, afirmou recentemente no Twitter que o discurso de continuidade da alta dos juros diante do aumento do desemprego é “caricato”.
“É compreensível e legítimo que o Banco Central tenha a ambição de chegar ao centro da meta, mas dadas as circunstâncias… bastaria manter a taxa de juros inalterada por um determinado período”, disse Barros à Reuters.
A taxa Selic subiu 3,25 pontos percentuais desde outubro. No mesmo período, as expectativas de crescimento da economia desabaram: hoje, o consenso de mercado é de que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil encolherá 1,2 por cento neste ano, na maior recessão em 25 anos.
O BC tem aumentado os juros para reduzir a inflação, atualmente acima de 8 por cento ao ano, para o centro da meta do governo até o fim do ano que vem. A alta da Selic também é parte dos esforços do governo para recuperar credibilidade entre investidores, após anos de políticas criticadas por economistas e agências de risco.
Na terça-feira, o presidente do BC, Alexandre Tombini, reiterou que a política monetária precisa estar “vigilante” para reduzir as expectativas de inflação. Atualmente, a projeção do cenário de referência do BC para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que baliza a meta de inflação, ao fim de 2016 é de 4,9 por cento.
Comentários do diretor de Política Econômica do BC, Luiz Awazu Pereira, em reuniões recentes com economistas também foram interpretados como sinais de continuidade da alta dos juros na semana que vem, segundo participantes dos encontros.
Procurado, o BC disse que não comentaria sobre avaliações de analistas de mercado.
Projeções incertas
Integrantes da equipe econômica, em condição de anonimato, também expressaram desconforto recentemente com a continuidade da alta dos juros, mas evitaram críticas ao BC.
Os juros altos têm diminuído os investimentos, piorando a situação da economia e a arrecadação de impostos necessária para o ajuste fiscal. Agricultores, por exemplo, reduziram praticamente à metade a compra de colheitadeiras no primeiro trimestre, segundo dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Os economistas que agora questionam a necessidade de mais aumentos dos juros são os mesmos que criticaram o BC pelo corte da Selic entre 2011 e 2012. Na época, o crescimento econômico não decolou e a inflação continuou a piorar.
“Esse é um Banco Central que perdeu a credibilidade, então para resgatar a credibilidade perdida ele tem que dar uma dose adicional (de juros)”, disse o ex-diretor do BC Paulo Vieira da Cunha.
Muitos economistas ainda veem a continuidade do aumento dos juros como “apropriada”. Mas, mesmo entre eles, há a avaliação de que os modelos estatísticos e econométricos não são robustos o bastante para prever o impacto do desemprego sobre a inflação.
A questão foi debatida durante as reuniões de Awazu com economistas na semana passada, segundo participantes.
Para o economista-chefe do Bradesco, outro problema é a própria meta de inflação, que usa o ano-calendário como referência e mantém o BC preso ao fim de 2016 como horizonte relevante para a política monetária.
Nenhum economista consultado pela Reuters defende que o BC passe a cortar a Selic. A sugestão é que o banco comunique com mais clareza que pretende manter a Selic estável por tempo prolongado e não cortá-la no início do ano que vem, como projeta a curva de juros local.
A intenção ecoa dentro da equipe econômica. Segundo disse um integrante da equipe à Reuters na semana passada, em condição de anonimato, o BC só pensará em reduzir a Selic quando as expectativas de inflação caírem abaixo de 4,5 por cento.