21/06/2015 17:57
Um dos méritos dos tempos de crescimento econômico e das políticas sociais do Governo foi garantir que a chamada nova classe média pudesse fazer aquisições a longo prazo e planejar o futuro.
No entanto, especialistas alerta que a injeção de investimentos por parte da gestão nacional criou um ciclo de endividamento das classes sociais com menor poder de compra e, consequentemente, o desequilíbrio comercial.
De acordo com a economista Luceni Grassi, a questão é “relativamente simples”: quanto maior o investimento do governo, maior poder de compra do brasileiro e, quando o consumidor gasta mais, os preços aumentam.
A especialista ainda explica que as classes mais afetadas com este processo são as com menor poder aquisitivo.
No caso da classe C – que, de acordo com o governo, trata-se da população com renda média de até R$ 1.200 – a atual crise pode ser “uma verdadeira tragédia”, conforme Grassi.
“A população se acostumou a consumir mais, ter acesso a mais eletrodomésticos, comprar bens de consumo, e com isso também aumentou as despesas mensais. Ou seja, além das parcelas do novo ar condicionado, agora tem uma maior despesa com a luz. Então, agora eles têm produtos que não podem mais usar”, disse.
Na classe média o problema não é menor. Segundo Grassi, essa é uma das classes mais impactadas com o aumento de juros e a situação tende a piorar até o final do ano.
Isso porque os impostos são recolhidos na fonte e essa é a classe geralmente ligada a uma melhor formação acadêmica. Sendo assim, é o grupo que reivindica seus direitos, pressionando o Governo.
“O governo faz de tudo para minimizar os impactos da crise, mas com os gastos desenfreados, principalmente pelo processo eleitoral, as coisas acabam saindo do controle. Para a classe média, o tão esperado salário maior está sendo corroído pela inflação, ou seja, nada de viagens anuais, a compra do carro novo vai ter que esperar. Para eles, a situação vai ficar bem mais complicada ainda neste ano”, afirmou.
A economista afirmou, ainda, que é preciso lembrar os consumidores para evitarem gastos exagerados e pagamentos à vista e tomar cuidado com os cartões.
Estopim da Crise
Segundo Grassi, os altos gastos do Governo Federal, principalmente com as eleições em 2014, fez com que a economia do país se desequilibrasse, demandando o aumento dos juros para segurar a inflação, gerando a crise.
“O governo gastou muito mais do que podia, desequilibrando os gastos com os ganhos. Desta forma, a única saída é o aumento de juros, para segurar a inflação. Isso levou à crise. Na economia é tudo uma questão de consequências, o chamado ‘efeito espiral’”, explicou.
Com a falta de circulação da moeda no mercado aquele que tem uma reserva acaba preferindo investimentos bancários para o ganho com juros e este processo dificulta um pouco mais a recuperação comercial.
“Quem tem um dinheiro guardado não quer arriscar a fazer compras, prefere investir. Com isso, o comércio vende menos, as indústrias produzem menos e aí, a conta não fecha”, disse.
Onda “suave” em MT
Para o Estado de Mato Grosso, a onda da negatividade na economia é “um pouco mais suave”, segundo a economista, uma vez que a economia da região é baseada no agronegócio, comercializada geralmente para o exterior.
“O tsunami brasileiro chegou como uma onda aqui em Mato Grosso, porque o mercado lá fora está aquecido para os nossos produtos. Mas, se as coisas não melhorarem mundialmente, pode ficar bastante complicado”, alertou.
Impactos da Crise
Para o empresário do ramo de lavanderia, Edson Oliveira, a queda do movimento já chegou ao patamar de 30% somente neste mês, sem contar a retração dos meses anteriores.
“No início do ano, eu pensava nos investimentos que teria que fazer para a empresa crescer. Até reformei uma parte do espaço e investi nos maquinários, mas agora estamos lutando para manter as contas no azul. Está muito complicado chamar a atenção da clientela. Até aqueles clientes fiéis diminuíram a frequência”, lamentou.
Oliveira ainda afirmou que, para os empresários, as coisas estão um pouco pior após o aumento da taxa de juros e encargos.
“Os funcionários também estão mais caros, a luz e água que são a matéria-prima do meu negócio também estão levando uma boa parte dos lucros. Este ano vamos intensificar os trabalhos para nos manter no mercado”, disse.
Para a atendente Tatiane da Silva Martins, as mudanças da rotina por conta do momento econômico já começaram
“Este ano nós íamos trocar o carro em julho. Ao invés disso, eu venho com o meu marido de carro e volto de ônibus. Eu moro em Santo Antônio – cidade que faz parte da grande Cuiabá-, mas como nossos horários não batem, esta foi a saída mais econômica”, disse.
Outra mudança na rotina foi a diminuição das idas ao supermercado.
“Para nós que somos mais pobres, temos que ver bem o que vamos fazer com cada centavo, porque hoje em dia não se faz mais nada com R$ 50 no mercado”, disse.
Mudança de Classe Social
“Para nós que somos mais pobres, temos que ver bem o que vamos fazer com cada centavo, porque hoje em dia não se faz mais nada com R$ 50 no mercado”
Segundo pesquisas nacionais com o público de baixa renda, os 35 milhões de brasileiros que saíram da pobreza tiveram acesso não apenas ao iogurte e ao televisor de 42 polegadas.
Já ascensão da classe média de boa parte dos brasileiros – que puderam almejar o ensino superior, a casa própria em área com infraestrutura básica e assumir gastos fixos com serviços mais sofisticados, como a internet – está atormentado pela monstro da recessão.
Isso porque, pela primeira vez desde a eclosão da crise internacional em 2008, as empresas fecham postos de trabalho.
Em janeiro e fevereiro, o saldo (relação entre contratações e demissões) foi negativo, indicando extinção de vagas.
“As despesas da casa, como aluguel e supermercado, consomem quase 40% da renda, sem incluir luz e água, que também aumentaram. O poder de compra caiu e, se perder o emprego formal, essa parte da população fica refém do curto prazo: volta a administrar a sobrevivência no dia a dia e esquece o futuro”, alertou.
Fonte.:MidiaNews