Ferrovia e Realidade

21/06/2015 17:41

Esperemos o estudo de viabilidade para ver se os chineses podem ou não construir uma ferrovia pelos Andes

Blairo Maggi, falando sobre a ferrovia Bioceânica, disse que ela não teria ‘viabilidade econômica e viabilidade técnica‘, mas que não tiraria o ‘sonho‘ dos que defendem a obra.

Ele defende o trecho ferroviário entre Campinorte, Lucas, Sapezal e Porto Velho que ‘tem carga e viabilidade econômica para ser feita hoje‘.

É a voz de um senador e de alguém que conhece o assunto de logística de transporte na região por causa da empresa da família, Amaggi.

Mas, sei não, este é momento de estarmos remando na mesma direção e um comentário desses pode influenciar outros e até entidades a pensarem em outra direção.

O comentário veio na sequência da viagem de três governadores e de membros da embaixada da China por Rondônia e MT.

Depois ainda da fala do Taques de se criar um dia de junho em algo especial do relacionamento da China com MT. E de se ter até um escritório de MT naquele país.

“A viabilidade econômica da Ferrovia do Pacifico estaria também no transporte de comida e fibras e ainda, melhor que o caso de Itacoatiara, trazer bens chineses para a América do Sul. Cargas em ambas as direções, portanto.”

O Maggi talvez não tivesse essa intenção, mas a fala dele poderia provocar freio em iniciativas como aquelas e até diminuir o ímpeto regional sobre essa alternativa de comércio pelo Pacífico.

O trecho citado pelo senador para uma ferrovia passa nos mesmos lugares do estado em que passaria a ‘ferrovia dos chineses‘ – Lucas e Sapezal e mais Porto Velho.

Aquela ferrovia para Porto Velho deve, se imagina, atingir porto no Rio Madeira e daí por barcaça subir até Itacoatiara no Rio Amazonas.

A Amaggi Navegação tem um complexo portuário enorme no Rio Madeira em Porto Velho e outro em Itacoatiara. Chegando ali se podem ter navios para qualquer lugar do mundo.Estive, como convidado, visitando esses dois complexos.

É uma alternativa de transporte, mantida pela Hermasa, que tem que ser levada em conta, mas não custa nada tentar viabilizar a outra ferrovia também.

A viabilidade econômica da Ferrovia do Pacifico estaria também no transporte de comida e fibras e ainda, melhor que o caso de Itacoatiara, trazer bens chineses para a América do Sul. Cargas em ambas as direções, portanto.

Os engenheiros chineses estão na vanguarda de viabilidade técnica em ferrovias em lugares altos. Exemplo é a chamada ‘ferrovia mais alta do mundo‘noTibete, construída por eles.

Têm 1.956 km de extensão, passagens em lugares de até 5.072 metros de altitude e estação a 5.068 metros.

Tem ainda o túnel ferroviário mais longo do mundo com 4.905 km. A obra custou 3.68 bilhões de dólares e o trem corre a 120 km por hora.

Os chineses estão ainda falando numa ferrovia para o Nepal, com um túnel, imaginem, embaixo do Monte Everest, para terminá-la até 2020.

A Cordilheira dos Andes, a grande dificuldade na nossa ferrovia, seria café pequeno perto disso.

O que deveríamos no momento é esperar o estudo de viabilidade técnica e vê se os chineses podem ou não construir uma ferrovia pelos Andes.

ALFREDO DA MOTA MENEZES é historiador e analista político em Cuiabá.
[email protected]
www.alfredomenezes.com

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