20/07/2015 14:06
A Grécia está mostrando ao mundo o que acontece com os Estados perdulários que gastam riqueza
A Grécia está mostrando ao mundo o que acontece com os Estados perdulários que gastam riqueza não produzida e buscam manter seu padrão de vida usando a poupança alheia. Por esse caminho, formam-se dívidas dotadas de uma extraordinária capacidade de multiplicação. Um dos fatores determinantes dessa multiplicação leva o nome antipático de taxa de juros.
Outro consiste em tomar dinheiro novo para pagar dívida velha. Outro ainda é a irresponsabilidade fiscal que leva governantes a não enquadrarem a despesa pública na capacidade contributiva da sociedade.
Países quebram. Leva bom tempo para isso acontecer, mas a estrada acaba. Um dia, não há mais pista para rodar. No horizonte só se avista, então, terra inóspita, mata cerrada, montanhas e rios sem pontes.
É a situação grega, um país que deve quase dois anos inteiros de seu decrescente PIB e já perdeu 400 mil jovens para outras oportunidades de trabalho e de vida no exterior.
Os gregos creram que seu ingresso na Zona do Euro era um cartão de crédito ilimitado para implantar no país um estado de bem-estar social. Com o dinheiro dos outros. E isso, simplesmente, não existe no mundo real.
Países quebram. No mundo irreal, os políticos que seduziram os gregos e deles colheram votos com a ideia de um Estado provedor, benfazejo, inexaurível em sua prodigalidade, trataram de convencer a opinião pública de que o resto do mundo tem o dever de subsidiá-los com novos empréstimos.
A Grécia deve 360 bilhões de euros, não conseguiu pagar uma parcelinha de 1,5 bilhão (ou seja, 0,5% do que deve) e segundo os cálculos dos principais credores (ministros da Zona do Euro), pode estar precisando de mais 83 bilhões de euros.
Além de ser difícil estabelecer um consenso sobre esse atendimento, muito mais difícil será obter acordo interno na sociedade grega e em seu círculo de poder para as duríssimas e necessárias medidas de contenção de gastos, aumento de tributos, venda de patrimônio, redução de salários e pensões.
Países quebram. Estados da federação quebram. Durante a campanha eleitoral de 2014 no Rio Grande do Sul, alguns analistas denunciavam hecatombe fiscal em que se constituiu o governo Tarso Genro. Ele estava deixando a seu sucessor uma situação de insolvência que, em breve se tornará nacionalmente conhecida.
Perante tais acusações, os políticos petistas afirmavam em orgulhosos rompantes: “Nós não nos submetemos a essa lógica neoliberal”. O que chamavam lógica neoliberal era, simplesmente, o zelo pelos recursos do contribuinte, contendo-os nos limites da receita, conforme impõe a lei de responsabilidade fiscal.
O governo petista no Brasil, indo pelo mesmo caminho das pedaladas e da gastança desmedida, jogou-nos numa crise pela qual não precisaríamos estar passando. Vínhamos bastante bem. Nossos governantes dos últimos 13 anos, porém, gastaram demais, fizeram loucuras demais, jogaram dinheiro fora e mandaram dinheiro para fora, torraram reservas demais, locupletaram-se demais. Foram longe demais.
E agora chamam golpistas quem busca uma saída política e constitucional para que não sejamos mais golpeados por tanto desmando, incompetência e irresponsabilidade.
PERCIVAL PUGGINA, membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+