Novo instrumento

31/07/2015 14:08

Revolta popular só acaba com o fim das crises, em especial a econômica, que atinge diretamente o bolso dos brasileiros

Manifestações, delações e reunião passam a ser a moldura de um antigo quadro de crises. Quadro nada bom, assim como também não é o conjunto de suas consequências, o qual atinge a população e os governos, especialmente o federal. Daí a tentativa de se criar o pacto de união. Iniciativa louvável.

Agora, vale lembrar, não se deve ignorar o interesse particular da presidente Dilma Rousseff.

Ela, estrategicamente, procura se valer de duas ações. A primeira delas, gravações em vídeos que serão disponibilizados nas redes sociais e sua participação no programa partidário do PT no dia 6 de agosto, objetivando ‘vender’ os ‘avanços’ da gestão petista.

Tudo com o fim de reconquistar a aprovação de seu governo ou, pelo menos, evitar que venha a crescer ainda mais o índice percentual da desaprovação.

A segunda ação diz respeito à reunião da presidente com os governadores.

A presidente procura, aqui, cooptá-los para a sua luta em inibir ou diminuir o impacto da rejeição das contas de 2014 pelo TCU. Vários governadores, inclusive oposicionistas, tendem a apoiar a petista, uma vez que a reprovação das contas abrirá brechas para questionamentos semelhantes nos Estados, e, com as manifestações de rua, ocorra um efeito cascata de rejeição de contas nos tribunais estaduais.

Pois, segundo dados catalogados pelo governo federal, 17 gestores regionais cometeram atos semelhantes aos denominados ‘pedaladas fiscais’ da presidente Dilma.

A pressão dos governadores sobre o TCU seria importante para o Planalto, assim como também será relevante a força dos governadores para convencer suas bancadas no Congresso Nacional no sentido de evitar que se derrube o veto da presidente sobre o reajuste salarial do Judiciário.

Além desta intenção, outra pretensão se faz presente: pressão para a aprovação de projetos do governo, a exemplo do projeto que revê as desonerações da folha de pagamento das empresas e o da reforma do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

Tem-se, porém, dúvida de que os governadores irão ser favoráveis à unificação do ICMS.

Um ou outro deles sim, até com vistas a fazer média com a petista, mas não será a sua maioria.

Aliás, o próprio presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, tem a mesma opinião, pois, segundo ele, os governadores não apoiarão essa tal unificação ‘sem que haja uma fonte de compensação que vai integrar o fundo, para que os Estados não percam’.

Independentemente disso, o chamado pacto de união pode se tornar assim em um instrumento de pressão sobre o TCU e sobre o Congresso Nacional. Instrumento favorável ao governo Dilma, claro.

Mas esse mesmo instrumento não se apresenta com força suficiente para aumentar a popularidade da presidente, nem diminuir a insatisfação popular.

Até porque o descontentamento popular só diminuirá com o fim das crises, em especial a econômica, que atinge diretamente o bolso dos brasileiros, diminuindo-lhes seu poder de compra.

LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e analista político em Cuiabá.
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