Economia e momento brasileiro

04/08/2015 11:29

Ganhar eleição a qualquer custo, levando o país à beira do precipício, não pode ser o caminho

Durante um bom tempo o exterior olhou para o Brasil com certo encanto. Lembra da criativa foto na capa da revista The Economist do Cristo Redentor como um foguete se lançando no ar?

Era gente saindo da miséria, nova classe média, responsabilidade fiscal, estabilidade econômica e política, liberdade de imprensa. Agora o exterior volta a olhar enviesado para o Brasil. A mesma revista já publicou um Cristo despencando.

Dói tudo isso, é que olham a América Latina com sua cultura ibero-católica como incompetente, o Brasil parecia que ia escapar desse enfoque. Já éramos apontados como exemplos para a região.

Não se aproveitou o momento da estabilidade e boom econômico no Brasil e no exterior para avançar em reformas. Investiu-se no consumo como se isso fosse a grande saída.

Foram acertadas as ações de incentivo ao consumo, chamada de medidas anticíclicas, para enfrentar os efeitos da crise de 2008 que nasceu no setor imobiliário nos EUA. Deu certo, em 2010 o PIB cresceu mais de 7%.

O governo Dilma, ainda com cacife político, poderia seguir outro caminho, preferiu o anterior. Se esse fosse o único correto outros países mais sabidos já teriam entrado por aí.

Além de incentivar um eterno consumo pensando na próxima eleição, o governo aumentou os benefícios sociais.

A carga tributária que era de 25% do PIB em 1991 explodiu para 34%. Sempre se precisa de mais dinheiro para cobrir crescentes gastos, para agradar a maioria e ter seu voto na eleição vindoura.

Se alguém falava contra era pessimista, torcia contra o Brasil. Ou também se culpava o exterior e a falta de chuva.

Fazia-se ou falava-se qualquer coisa pensando na próxima eleição.

Fazer reformas em momento de alta na economia, em que o Congresso fica com o presidente, seria a saída.

Fazer reformas agora, com presidente sem popularidade e congressistas querendo pular fora do barco, é impossível.

O grande momento seria aquele do Lula. Era a hora de enfrentar reformas. Mas Lula não gosta de perder popularidade.

Alguém se lembra de alguma reforma no governo dele? Desagradar eleitor não faz parte da cartilha do ex-presidente.

Deve ter levado em conta a bronca dos aposentados com a mexida na previdência que fez FHC.

Lula, mesmo sabendo que tinha que aprofundar esta e outras reformas, não o fez. O que importava era ganhar sempre eleições.

Frei Beto, homem da esquerda, diz que os governos do PT se preocuparam sempre com o curto prazo (eleição no horizonte, claro). Que não investiu em assuntos mais estruturantes e de longo prazo como educação, saúde e transporte público.

Ganhar eleição a qualquer custo, seja que partido for, levando o país à beira do precipício, não pode ser o caminho.

A irresponsabilidade fiscal, como ocorreu agora, é que faz o exterior manter a crença de que a América Latina não tem jeito, parece que nem mesmo num país grandão que mostrava que abriria o caminho para outros da região.

ALFREDO DA MOTA MENEZES é historiador e analista político em Cuiabá,
[email protected]
www.alfredomenezes.com

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