14/08/2015 12:32
MT e MS têm o DNA em comum de bravura ao permanecerem ocupando a fronteira Oeste do Brasil
A História tem disso. Demora pra recompor os fatos à luz da interpretação. No caso dos dois Mato Grossos, que se encontraram em Cuiabá nesta semana, levou quase 40 anos e ainda está só no começo.
O governador de Mato Grosso do Sul, nas comemorações dos 180 anos do Parlamento Estadual, acabou por resgatar parte da história de rusgas entre os dois estados iniciada à época da divisão que separou o Sul de Mato Grosso para criar Mato Grosso do Sul, em 1977.
A simpatia e cortesia de hoje não tem nada a ver com as rugas feias das décadas de 1970 em diante: antes e depois da divisão do estado.
Bom que se recupere a História, porque os dois estados tem o DNA em comum de bravura ao permanecerem ocupando a fronteira Oeste do Brasil desde o tempo em que vigorava o Tratado das Tordesilhas.
Gostei de duas coisas nesse reencontro. Uma, a recuperação da consciência da História dos dois estados e a noção de a força de ambos dará força à região central do Brasil agora e no futuro. A outra, foi o reconhecimento do governador de que foi uma benção pra Mato Grosso do Sul não ter sediado jogos da malfadada Copa do Mundo de 2014.
Na época da escolha, dezembro de 2009, a velha rixa entre o Sul e o Norte do velho Mato Grosso se deu novamente entre Cuiabá e Campo Grande. Era entre as duas cidades que se davam as encrencas políticas e se criou um clima de antipatia mútua.
Na escolha das cidades sedes para a Copa, Campo Grande cutucou Cuiabá com vara curta. À época, o prefeito cuiabano, Wilson Santos, devolveu a provocação depois da escolha: “Chupa essa manga, Campo Grande!”.
A provocação deu muita confusão. Hoje quando o governador de MS faz o sinal da cruz em agradecimento pela não-escolha, Cuiabá amarga profundamente ter sido escolhida.
Gastou o que tinha e o que não tinha e gastou mal, endividou-se pra ficar com pouco e com tantas despesas sem noção.
O reencontro dos dois estados me traz agradáveis recordações das inúmeras viagens que fiz como jornalista naquele despovoado mundo fronteiriço com o Paraguai. Mas a gente que morava por ali era de primeira qualidade. Sofrida e acolhedora.
Perdeu-se um pedaço da humanidade entre os dois estados, mas agora pode ser que se recupere a consciência dos laços antigos. Embora nada volte a ser como foi até a divisão de 1977.
Onofre Ribeiro é jornalista em Cuiabá
[email protected]
www.onofreribeiro.com.br