Inevitáveis paralelismos – 1

05/09/2015 14:13

É curioso observar o paralelo existente entre Taques e Dante, tendo como partida as opções partidárias

Como escrevi em artigo anterior, é curioso observar o paralelo existente entre Pedro Taques e Dante de Oliveira tendo como ponto de partida as opções partidárias que fizeram.

Como se sabe, ambos em momentos auspiciosos de suas carreiras optaram pelos mesmos partidos.

É tentador fazer um exame histórico sobre as circunstâncias em que estes fatos aconteceram. E neles existem tanto semelhanças, quanto dessemelhanças.

O exame que ora faço é absolutamente neutro, e creio necessário para que se possa, com base em parâmetros históricos, observar com maior acuidade a cena política. Essa análise distanciada permite ao observador, penso eu, fazer ilações proveitosas para a previsão de desdobramentos possíveis.

Os fatos a seguir, se de um é conhecido, de outro ainda dependerá do dia a dia futuro. Daí que, creio, o retrospecto histórico pode, de alguma forma, contribuir para se extrair algumas lições úteis quanto às possibilidades futuras.

Como não poderia deixar de ser, o clima com a filiação foi marcado tanto pelo ufanismo dos recém-aliados, como o de pessimismo dos adversários.

E de muita dúvida quanto ao comportamento que será seguido pelo partido que foi abandonado. E aqui está a primeira semelhança entre estes dois episódios separados por cerca de duas décadas e meia.

Não se trata, é claro, de dizer que os fatos se repetirão tal qual, e volto à consagrada afirmação de Marx em seu ‘18 Brumário’, leitura mais que recomendada.

Começo, no entanto, por dizer que as semelhanças nos fatos podem ser apenas aparentes e circunstanciais e, se observarmos melhor, talvez haja até mais dessemelhanças que similitudes. Vejamos.

Enquanto que Dante sempre esteve inteiramente voltado para a militância partidária, filiado ao MDB desde 1976, quando foi derrotado para Vereador, o atual governador é um neófito nas lides partidárias, sendo a sua filiação tanto quanto a sua militância, muito recentes, e antes totalmente inexistentes.

A trajetória de Dante é construída nas disputas internas e no embate dos rompimentos com aliados recentes, enquanto que Taques já entra no modesto PDT como uma figura de relevo, o principal nome, com o prestigio de quem estava abandonando promissora carreira profissional para partir para o “sacrifício” da vida da política partidária.

Em outras palavras, chega “por cima”, sem “brigas” e respeitado. Qual a importância disso? Abordarei melhor adiante, mas desde já é preciso dizer que a luta política endurece o pelo, ou a ‘cacunda’ diria alguém, tão necessário para se aguentar os inevitáveis revezes que fazem parte da vida pública.

Quando, em fevereiro de 1990, Dante rompe com Bezerra e com o PMDB, se transferindo para o PDT, leva consigo metade do Partido e é saudado como uma das grandes lideranças do novo Partido e das forças de esquerdas do país.

Comentou-se largamente que poderia ser candidato a vice de Brizola na disputa presidencial, e até mesmo que se colocava, a partir dali, como o mais provável sucessor do caudilho no cenário nacional.

Nesse ano, foi o candidato a deputado federal mais votado do Estado, mas não se elege. Em 1992, pela segunda vez, é eleito prefeito de Cuiabá. Menos de dois anos depois renuncia para ser candidato a governador.

Eleito, não demoraria no Partido. Em janeiro de 1997, a Executiva Nacional do PDT anunciava que estava dando inicio ao processo de expulsão do governador por, entre outros motivos, ter-se declarado favorável ao instituto da reeleição.

Antes que isso ocorra, o governador migra para o PSDB e esvazia o seu ex-Partido. É novamente saudado como grande liderança nacional e novamente tido como provável candidato a vice-presidente da República. É reeleito em 1998.

A circunstância de Taques ser recebido no PDT com a biografia que construíra não só o brinda contra possíveis adversários internos, como lhe dá certa aura, que carrega durante a campanha eleitoral e com ela angaria as simpatias de vários setores da população.

Por não ter uma vida partidária e administrativa pregressa tem a grande vantagem de não se tornar vulnerável aos pesados, e às vezes injustos, ataques muito comuns na disputa eleitora que usualmente sofrem os políticos mais calejados.

Unindo em torno de si um grupo de Partidos, agitando a bandeira do novo e da renovação e expondo o seu aparato intelectual de ex-procurador da República, torna-se sem duvida o melhor nome para o Senado.

Todas estas condições, ajudadas agora pela elogiada atuação parlamentar, voltam a se repetir na eleição para o Governo.

As semelhanças se repetem também quanto os fatos partidários. Quando sai do PMDB, Dante não o esvazia, mas diminui bastante a sua força. Vale dizer que na época o PDT era uma agremiação que, sob o inegável carisma de Brizola, tinha a Presidência da República como horizonte palpável.

Taques deixa um partido sem qualquer perspectiva de poder e vai para o PSDB que, tal como o PDT naquela época, tem reais possibilidades de voltar ao Planalto.

Dante, com a parte do PMDB que sai com ele, reforça o nanico PDT, que então se transforma num forte Partido, que fica poderoso quando ele é eleito governador.

Em 1995, a sua saída deixa o PDT esquálido, menor até do que era antes de sua entrada. Migra para o pequeno PSDB e então o mesmo fenômeno anterior se repete. O novo ninho, no duplo sentido, passa a ser a potencia da vez.

A retirada de Taques deixa o seu ex-partido com pouquíssimas chances de ser ativo participante no jogo político. Pelo menos por enquanto.

Taques faz, neste momento, ressurgir e viabilizar o PSDB. Que havia murchado com a derrota de Dante ao Senado.

Aqui se impõe uma primeira e inequívoca constatação: em Mato Grosso o “forte” não é o partido, mas aquele que detém o eventual poder de mando.

Por conseguinte, um governador em inicio de mandato e com algum sucesso é sinônimo de Partido forte. Governador sem popularidade, Partido minguado.

Do ponto de vista das opções partidárias feitas pelos dois políticos, verifica-se igualmente curiosa semelhança.

Ambos quando se inscrevem nos Partidos PDT e PSDB, nessa exata sequência, são saudados como grandes lideranças nacionais, esperanças de grandes realizações administrativas e políticas.

Se voltarmos a ler a imprensa local de vinte e cinco anos atrás iremos verificar que os encômios, as elegias e as “análises” promissoras feitas agora a Taques são praticamente as mesmas feitas a Dante nas idênticas circunstâncias.

Até aqui apontei algumas das semelhanças existentes entre o fato político recente e o outro ocorrido no passado. Aparentemente, aqui se encerram as similitudes comparáveis.

Porque, a partir de agora, só o futuro irá dizer se as semelhanças continuarão ou não.

E, no próximo artigo, me proponho a apontar as dessemelhanças, algumas das quais considero decisivas.
Por SEBASTIÃO CARLOS GOMES DE CARVALHO é advogado e professor em Cuiabá.

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