Produtores devem ter lucros enxugados, principalmente os que não compraram insumos com antecedência

16/09/2015 00:14

As margens de lucro dos produtores rurais, especialmente aqueles que só puderam comprar na última hora seus insumos, devem ficar ainda mais enxutas em consequência da perda de grau de investimento pelo Brasil, disse o analista da Scot Consultoria, Rafael Ribeiro. “A consequente valorização do dólar ante o real eleva os ganhos em moeda brasileira, mas também os preços dos insumos em real. O aumento dos custos tem sido maior nesta safra do que o do ganho com a venda da produção”, afirmou Ribeiro.

Segundo o analista, de janeiro a agosto de 2015, o preço médio da saca de 60 quilos de soja para entrega no Porto de Paranaguá, R$ 69,82/saca CIF, foi 3,2% maior do que em igual intervalo do ano passado. Já o custo de produção estimado para a safra 2015/16, tomando como base o Estado de Mato Grosso, deve ser 21,6% maior (R$ 2.662,20 por hectare, ante R$ 2.188,44 em 2014/15).

O analista comentou que, com a intensificação da colheita nos Estados Unidos e a maior oferta de grãos nos próximos meses, os preços internacionais das commodities tendem a cair, reduzindo os ganhos dos produtores brasileiros.

Como os custos de produção já vinham aumentando em real e tendem a subir mais a partir de agora, a rentabilidade dos produtores deve encolher ainda mais. Este cenário, na visão do analista, deve fazer com que produtores reduzam a utilização de insumos na safra 2015/16, o que impacta na produtividade.

O crescimento da área plantada também deve ser mais modesto. “Na safra 2011/12, a área plantada crescia de 8% a 10% ao ano, porque faltava soja no mercado. No ano passado, aumentou de 4% a 5%. Já no ciclo 2015/16, com a queda de rentabilidade dos produtores, estimamos um avanço de 1,5% a 2,5%”, disse Ribeiro.

Carne bovina No caso da pecuária de corte, o analista da Scot Consultoria Hyberville Neto disse que a alta do dólar ante o real encarecerá ainda mais as importações de bens em geral e pressionará a inflação, levando a um maior enfraquecimento da demanda interna por carne bovina. “A deterioração da situação econômica já vinha reduzindo o consumo interno de carne bovina. A perda de grau de investimento agravará ainda mais a situação”, disse.

Em consequência disso, os frigoríficos, que já vinham obtendo margens apertadas com preços reduzidos pagos pelo boi gordo e aumento dos custos de produção (energia elétrica, juros maiores, menor oferta de animais para abate), agora terão de obter crédito a um custo ainda maior. “O setor de forma geral precisa de um capital de giro alto para compra de bovinos e os custos do capital devem aumentar. A dívida vai ficar mais cara”, falou.

Fonte.: Estadão Conteúdo

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