Devo, não nego, pago quando puder!

02/03/2016 11:53

Quando ter dívida é bom? Aprenda a calcular o seu nível saudável de endividamento e como tomar um empréstimo consignado

Tem gente que não consegue dormir à noite quando tem uma dívida. Temos um amigo aqui no escritório que é assim.

Tem gente, por sua vez, que consegue facilmente arrumar dezenas de argumentos para gastar mais do que deveria e contrair dívidas e mais dívidas.

O nosso amigo, que ficou encabulado e não nos deixou citar seu nome, é extremamente controlado com seus gastos, tem uma planilha financeira completa e gasta menos do que ganha. Com isso, sempre consegue investir um pouco.

Para ilustrar o segundo grupo, das pessoas que consomem excessivamente, temos uma gama de leitores que nos escrevem lamentando a situação de suas finanças pessoais.

Outro dia recebemos um e-mail da Marisa S. dizendo que tem R$ 7 mil em dívida em seus cartões de crédito e que não tem como pagar com a sua renda, pois a dívida aumenta a cada mês.

O mais lógico que poderíamos dizer agora é: Nosso amigo está certo e Marisa S. está errada, logo, é bom não ter dívidas e é ruim ter dívidas. Ponto final.

Mas, para dizer isso, não precisaríamos estar aqui. Isso é bastante óbvio.

Hoje vamos tratar desse assunto falando do lado menos óbvio. Então, vamos lá: é saudável ter dívidas.

Apenas um esclarecimento necessário antes de continuar: isso não é uma carta branca para os consumistas se sentirem confortáveis. Nada disso. O consumismo desenfreado não é nada recomendável.

Se você não tem dinheiro hoje para comprar algo à vista, não adianta parcelar em 12 vezes achando que o dinheiro vai surgir nos meses seguintes. Primeiro repense se realmente precisa da compra.

Também não é uma carta branca a todos que encontram outros culpados para suas dívidas. Algumas pessoas culpam o país e a inflação, outros culpam seus chefes por não darem aumento salarial.

Mas, seguindo em frente, repito: É isso mesmo, é saudável ter dívidas QUANDO a dívida é boa.

O que é uma dívida boa?

De maneira simplificada, podemos dizer que é a dívida planejada, que será vantajosa para o seu bolso no longo prazo.

Há a possibilidade de contrair dívidas que irão enriquecer seu patrimônio ou de sua família. Como uma alavancagem financeira sadia.

Saindo do economês para a prática, estamos falando das dívidas que irão proporcionar um futuro melhor ou que renderão lucros no longo prazo.

Então, podemos dividir nossas dívidas em “saudáveis” e “doentias”.

Quando falamos em dívidas doentias estamos nos referindo àquelas que agimos quase instantaneamente como o celular de última geração que lançou semana passada ou aquele carro esportivo que você ainda não tem todo o dinheiro para pagar (e ainda pensar em seguro, IPVA, etc.).

Em nossa entrevista com a Dra. Vera Rita, especialista em psicologia econômica, ela explicou que esse fenômeno acontece pois não paramos para pensar sobre determinadas compras e agimos pelo chamado “sistema um”, que nos faz comprar por impulso (todos temos também um “sistema dois”, que é aquele que pensa racionalmente).

Já as dívidas boas ou saudáveis têm a ver com construção de patrimônio. Por exemplo: tenho uma amiga que fez cursinho durante 4 anos e seu sonho era passar em Medicina em uma universidade pública. Mas não foi possível. Ela não desistiu do curso e resolveu optar por um financiamento estudantil.

Esse curso garantirá uma profissão a minha amiga, que poderá pagar esse financiamento quando entrar no mercado de trabalho.

Podemos dar outros exemplos de dívidas saudáveis. Por exemplo, a tomada de um empréstimo para comprar uma máquina de costura, de um equipamento de fotografia ou um computador para alguém que pretende ter uma renda extra ou trabalhar de casa.

Relembrando o que NÃO pode acontecer …

Já falamos aqui o quanto é ruim comprar com cartão de crédito, não conseguir pagar e acabar entrando no rotativo de um cartão que possui juros de mais de 719% ao ano. Por mais absurdo que isso pareça, é real. Basta ver nos dados do Banco Central que esse é realmente o número de uma das instituições financeiras.

Para não ser uma vítima nessa história dos altíssimos juros dos cartões – que considero uma das grandes jabuticabas financeiras do Brasil – a sugestão é que você planeje as suas compras. Pesquise informações sobre o produto, desejado, para ter bons argumentos na hora de falar com o vendedor, e pesquise em outros lugares. Não tenha vergonha de pechinchar e não caia na armadilha do “eu mereço” na hora de sair comprando por impulso.

Acontece que na onda do consumismo, em qualquer lugar que vamos ou estamos, as pessoas estão nos vendendo produtos e serviços. Às vezes é difícil lidar com as situações. Mas, a partir do momento que você é honesto consigo mesmo ao estipular o que é necessário e o que é supérfluo pra sua vida, as suas finanças começam a tomar rumos diferentes.

Seu salário ainda não é tudo aquilo que você almeja, mas aliado a hábitos de consumo saudáveis e planejamentos, sua renda pode ser maior do que você imagina. Assim como acontece com o nosso amigo tímido que citamos no início deste texto, um pouco de controle faz com que suas despesas caibam no salário atual.

Dívida boa com juros menos piores

O crédito consignado é uma das opções de empréstimos saudável. Não podemos dizer que se trata de um crédito barato – hoje, o juro médio do consignado provado é de 38% ao ano. Mas pode ser perfeito para o bolso de quem tem outras dívidas mais caras, como a dos cartões de crédito ou do cheque especial.

Também pode ser bem-vindo para o financiamento de instrumentos de trabalho que depois vão contribuir para construção do patrimônio.

Como funciona?

Bem, essa modalidade de empréstimo funciona da seguinte maneira: o valor da prestação é descontado diretamente da folha de pagamento do trabalhador. Se o empregado trabalha em uma companhia privada, falamos “consignado privado”. Se trabalha no funcionalismo público, chamamos de “consignado público”.

Também pode ser descontado do benefício previdenciário do contratante, no caso do “consignado INSS”. Todo mês as parcelas da dívida são descontadas do salário ou do benefício. Ou seja, você recebe uma quantia menor do seu salário ou do seu benefício do INSS porque a prestação do consignado já foi descontada.

Portanto, as únicas pessoas que têm a possibilidade de optar por essa modalidade são:

– Trabalhadores com carteira assinada (CLT)
– Funcionários públicos
– Pensionistas ou Aposentados do INSS

Ao tomar um empréstimo consignado, é importante que você avalie se conseguirá viver com essa quantia a menos no mês sem comprometer o orçamento, ou seja, se conseguirá fazer as compras de supermercado ou pagar a conta de luz, por exemplo.

Os juros são mais baixos porque os bancos e financeiras têm garantias de que irão receber as parcelas em dia. A inadimplência do consignado é baixa e, assim, o banco não precisa cobrar juros tão altos para compensar os calotes que vai levar e garantir seus lucros gordos, como acontece em algumas outras modalidades de crédito.

Até quanto posso pegar emprestado?

Embora o governo tenha estipulado um limite de 35% do salário ou benefício, sugerimos aos nossos leitores que não ultrapassem os 30%. Ou seja, que não tenham dívidas que superem 30% do seu salário. Dessa forma, os outros 70% ficam disponíveis para pagar suas contas, lidar com imprevistos e garantir uma segurança financeira.

E somos favoráveis a esse tipo de empréstimo quando o dinheiro é usado para substituir dívidas mais caras.

Também somos favoráveis ao consignado sempre que você for assumir uma nova dívida mais cara. Ou seja, se precisa fazer uma compra de algum equipamento de trabalho, considere fazer isso por meio do consignado em vez de parcelar no cartão de crédito.

E se eu for demitido?

Se você tem uma dívida de crédito consignado e perde seu emprego, a empresa pode descontar 30% do que pagaria na sua rescisão e usar esse dinheiro para abater o consignado. Mas isso tudo tem que estar previsto no contrato.

Na maioria dos casos o valor que sai da rescisão não é suficiente para quitar toda dívida. Ou seja, o empréstimo continua existindo. Além disso, esse empréstimo passa a ser corrigido por uma taxa de juros maior. Nosso conselho é que você vá até o banco e tente negociar a taxa de juros.

Resumindo…

Você é responsável pelo controle da sua vida financeira e quando você controla suas finanças é possível construir riqueza.

Há um conceito de psicologia econômica chamado de “crença infundada na força de vontade futura”. É o nome dado ao hábito de postergar atitudes acreditando que depois teremos mais disposição para fazer algo.

Não adie o início do seu controle financeiro.

Não espere a promessa de promoção no emprego para fazer suas contas caberem em seu orçamento. Faça com que o seu estilo de vida se encaixe na renda que você tem. Comece a planejar suas compras e suas dívidas.

Embora o banco tenha seus juros abusivos, embora o governo tenha sua culpa na deterioração da economia que vemos hoje, o maior inimigo do seu não enriquecimento é você.

Adotar uma postura correta com seus gastos e com suas dívidas é um primeiro passo importante na construção de um patrimônio. Essa postura exige que você saiba calcular o quanto de seu dinheiro você pode comprometer com dívidas, o que ensinamos logo abaixo. Veja bem: é preciso considerar nessa conta também os gastos nos cartões de crédito.

É essencial ter consciência do custo de suas dívidas. Ao comparar o custo dos juros das dívidas, você pode optar pelas mais baratas, o que vai ajudá-lo a parar de jogar dinheiro fora.

Por fim, enfrente suas dívidas e deixe de pagar os juros mais altos do mercado. É simples trocar uma dívida mais cara por uma mais barata.

 

Por Olivia Alonso - editora-chefe e responsável pela direção do Criando Riqueza