03/03/2016 17:52
Após reunião de emergência sobre Delcídio, mercado reage com Ibovespa disparando, dólar cai a R$ 3,80 e ações da Petrobras e BB sobem mais de 10%.
O noticiário político continua a centralizar as atenções dos investidores domésticos nesta quinta-feira (3). Após a presidente Dilma Rousseff ter convocado uma reunião de emergência no Palácio do Planalto para repercutir o depoimento do senador Delcídio do Amaral, os ganhos do Ibovespa ficaram ainda mais acentuados.
De acordo com Aldo Moniz, analista da Um Investimentos, “o imediatismo da convocação da reunião pode sinalizar que algumas verdades foram ditas por Delcídio e que o governo precisa preparar uma boa defesa para evitar novas turbulências.”
“Toda essa revelação é positiva para o mercado porque dá esperanças de mudanças”, afirma Victor Benndorf, da Benndorf Equity Research. Ele, contudo, alerta que o movimento atual é puramente um fluxo e as expectativas podem mudar. “Não dá para afirmar que já pode ser uma reversão”, diz.
Segundo reportagem veiculada pela revista Isto É, um depoimento de Delcídio à PF (Polícia Federal) antes de deixar a prisão em fevereiro deve colocar a presidente Dilma Rousseff em maus lençóis e pode comprometer a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Delcídio relatou às autoridades que Dilma nomeou o desembargador Marcelo Navarro para o STJ (Superior Tribunal de Justiça) por que ele teria se comprometido a votar pela soltura de empreiteiros denunciados pela Lava Jato. De acordo com a publicação, ele “cuidaria dos habeas corpus e recursos da Lava Jato no STJ.”
Delcídio teria ficado, segundo a revista, responsável por conversar com Navarro para que ele se comprometesse a votar pela soltura de Marcelo Odebrecht, presidente afastado do Grupo Odebrecht, e do empreteiro Otávio Marques de Azevedo, da Andrade Gutierrez. No STJ, o desembargador votou a favor da soltura dos empresários, mas foi vencido.
Além disso, à PF, o senador teria dito que Lula tinha pleno conhecimento do esquema de corrupção dentro da Petrobras e teria agido direta e pessoalmente para barrar as investigações. Em depoimento, Delcídio teria afirmado que o ex-presidente teria sido o mandante da oferta de uma mesada de R$ 50 mil para Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, para que ele não celebrasse um acordo de delação premiada.
Mais uma vez, o Ibovespa ignora o pessimismo externo e se mantém em terreno positivo, “sendo sustentado pela expectativa de que o noticiário aumentará as possibilidades de mudanças no governo.”
Além do Ibovespa, essas expectativas acabam por atribuir tom positivo aos papéis da Petrobras e do Banco do Brasil.
Na agenda econômica, em 2015, a atividade econômica brasileira encolheu 3,80%, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O resultado é o pior desde 1990, quando a economia havia encolhido 4,35% e a maior da nova série histórica do IBGE iniciada em 1996.
Os agentes locais assimilam também a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), que decidiu manter a taxa Selic em 14,25% ao ano, sem unanimidade. A falta de consenso, com dois diretores ainda votando pela alta do juro, contradiz as apostas que se firmaram no mercado de juros esta semana de que um ciclo de corte da Selic comece ainda este ano. O placar dividido diminui a chance de queda da Selic no curto prazo, mas alguns economistas ainda veem possibilidade de corte antes do Natal.
Por volta das 15h25, o Ibovespa subia 4,53%, a 46.929 pontos. As ações da Petrobras (PETR4) e do Banco do Brasil (BBAS3) sobem 18,76% e 13%, respectivamente. Os papéis de outros bancos também sobem, como o Itaú Unibanco (ITUB4), que avança 6,13%. Os ativos da Vale (VALE5) avançam 8,40%.
Câmbio
O dólar tem forte queda com a avaliação dos agentes de mercado de que as denúncias de Delcídio envolvendo Dilma Rousseff aumente as chances de um impeachment da presidente. A moeda americana à vista tinha queda de 3,12%, cotado a R$ 3,7763.
Por Marcelo Ribeiro, Weruska Goeking e Gustavo Kahil - especialistas do mercado financeiro